sábado, 12 de novembro de 2016

Opinião do dia – Joaquim Nabuco

A intervenção do grande pensador, do grande escritor, do homem competente, faz-se sentir na Inglaterra mais do que nos Estados Unidos, onde as massas obedecem a influência que não têm nada de intelectual e não têm apreço por nenhuma espécie de elaboração mental. Tudo o que é superior tem, com efeito, o cunho da individualidade envolve, portanto, desdém pela sabedoria das massas.


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Joaquim Nabuco (1840-1910). ‘Minha Formação’, 1900, p.140. Ediouro, 1966

Lula recebeu cerca de R$ 8 milhões de propina em dinheiro vivo da Odebrecht, diz revista

A edição da revista IstoÉ deste final de semana traz reportagem revelando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, entre 2012 e 2013, cerca de R$ 8 milhões de propina em dinheiro vivo da empreiteira Odebrecht.

Segundo a IstoÉ (veja aqui no site da revista, Marcelo Odebrecht disse em delação premiada que fez pagamentos em espécie Lula e que recursos faziam parte do montante destinado ao petista pela Odebrecht.

A revista mostra ainda que a ex-presidente Dilma Rousseff agia como intermediária de recursos desviados da Petrobras. Ela é citada 18 vezes na delação da Odebrecht.

PT desiste de eleição direta

Depois de 17 anos e em meio à maior crise de sua história, por pressão da ala mais à esquerda do PT e com a anuência do ex-presidente Lula, o partido decidiu abolir a eleição direta para a escolha de seu presidente.

PT tenta evitar debandada

• Para conter crise interna, partido extingue processo de eleição direta para seu comando nacional

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Em crise motivada pela Operação Lava-Jato, pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela derrota acachapante nas eleições municipais deste ano, e sob risco de sofrer uma nova debandada de quadros, o PT decidiu acabar temporariamente com o seu processo de eleição direta (PED), um dos símbolos de sua organização interna. Para ajudar a encontrar um caminho para a sigla, o ex-presidente Lula, pela primeira vez desde que foi eleito para o Planalto, em 2002, participou de todos os detalhes da reunião do diretório nacional petista, realizada ontem e anteontem, em São Paulo.

‘PT não tem de pedir desculpas’, diz presidente da sigla

• Rui Falcão afirma que partido está mais no caminho da ‘correção de rumos’; via indireta vai eleger cúpula da legenda

Ricardo Galhardo, Daniel Weterman – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Questionado sobre a necessidade de o PT fazer uma autocrítica de seu atual momento de crise, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, disse ontem que a necessidade maior dentro da legenda é de “correção de rumos” e não de pedir desculpas. “Neste momento, o que mais criva o PT são as nossas virtudes. Nossos erros nós saberemos apontá-los, no sentido de correção de rumo mais do que pedido de desculpas”, afirmou o dirigente na reunião do segundo e último dia do Diretório Nacional do partido, em São Paulo.

Falcão rebateu o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, que, em entrevista ao Estado na semana passada, disse que o partido deve assumir a responsabilidade por erros cometidos por dirigentes e apontar em nome da legenda publicamente os que se beneficiaram pessoalmente. “O companheiro Tarso Genro terá toda oportunidade de contribuir a apresentar a proposta em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul e em várias oportunidades dos debates que faremos”, disse Falcão.

PT extingue processo de eleição direta à presidência do partido

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO -Numa tentativa de impedir uma debandada de parte de seus deputados, o PT extinguiu, pelo menos temporariamente, seu processo de eleição direta para a direção nacional (PED).

Esse gesto —que representa uma concessão da maior força do partido, a CNB (construindo um novo Brasil)— é fruto de acordo costurado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao final de tenso debate, fez um apelo aos petistas: "Por favor, parem de brigar".

Na tarde desta sexta (11), o diretório nacional do PT definiu um novo critério de eleição interna. Por esse formato, só os diretórios municipais do partido serão escolhidos pelo voto direto. Na mesma votação, haverá uma urna destinada à eleição dos delegados estaduais do PT.

PMDB trabalha por recondução de Maia

• Nomes influentes da bancada na Câmara afirmam que candidatura de deputado do DEM tem ganhado ‘musculatura’ e tentam evitar dissidência

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os principais nomes do PMDB na Câmara estão trabalhando pela reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Casa em fevereiro de 2017, data da próxima disputa pelos cargos da Mesa Diretora. O apoio do partido é considerado estratégico para qualquer candidato: além de ser a legenda do presidente Michel Temer, a sigla tem a maior bancada da Câmara, com 67 parlamentares.

Na articulação para tentar viabilizar sua reeleição, Maia conta com o apoio de peemedebistas com influência na bancada, como o líder do PMDB na Casa, Baleia Rossi (SP), um dos parlamentares mais próximos de Temer, o ministro dos Esportes e deputado licenciado, Leonardo Picciani (RJ), ex-líder da bancada, e o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), irmão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB).

A avaliação dos peemedebistas que defendem a reeleição de Maia é de que a candidatura dele vem ganhando “musculatura”, principalmente após o PSDB admitir apoiar a recondução do deputado fluminense, como adiantou o Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, na semana passada. Com este apoio, Maia sai em vantagem em relação a uma eventual candidatura do Centrão – grupo de 13 partidos liderado por PP, PSD e PTB e que ainda não decidiu quem será o candidato do bloco.

“Lógico que tem uma aproximação natural com o Rodrigo. Isso é um facilitador. Pela função que ocupa, ele tem mais contato. Ele é presidente da Casa”, afirmou Lúcio Vieira Lima. Recentemente, o peemedebista baiano foi escolhido por Maia para presidir a comissão especial na Câmara que debaterá pontos da reforma política, como mudanças no sistema eleitoral e no financiamento de campanha.

Possível apoio do Planalto a reeleição de Maia na Câmara irrita tucanos

Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A possibilidade de recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara com apoio do PMDB e de Michel Temer irritou deputados do PSDB e pode agravar a crise entre tucanos e o Planalto.

Os ânimos acirrados colocam em risco a eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE) ao comando do Senado, dada até agora como certa, por ser a única candidatura com apoio de todas as legendas.

De olho em espaço para se cacifar para as eleições presidenciais de 2018, tucanos querem o comando de uma das Casas em 2017.

Apesar de a cúpula do PSDB ter sinalizado apoio à reeleição de Maia, peessedebistas defendem que o partido dispute o cargo. Dizem ter apoiado Maia em julho com o compromisso de serem apoiados pelo DEM em 2017. Lembram ainda que o acordo foi acompanhado pelo Planalto.

Nos bastidores, deputados do partido cobram a fatura da condução de Michel Temer à Presidência. Afirmam que foi o PSDB que mais se empenhou para garantir o impeachment de Dilma Rousseff e que é a sigla mais fiel nas votações no Congresso.

Na Câmara, a legenda é a terceira maior bancada, com 48 deputados. No Senado, tem 12 dos 81 senadores.

"É inadmissível que o PSDB, que está para o governo Temer como o PMDB estava para o governo do PT, não seja valorizado. Se o governo e o PMDB não valorizarem o PSDB, estão brincando com o perigo", disse o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG).

Deputados do PSDB vão procurar o presidente tucano, senador Aécio Neves (MG), para dizer que, se o partido apoiar Maia, deve ter um candidato ao Senado.

"Não é aceitável esse movimento para enfraquecer o PSDB", disse o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE).

'Centrão' promete barrar candidatura de Maia à reeleição na Casa

Ranier Bragon, Débora Álvares, Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes dos partidos que formam o chamado "centrão" prometem uma batalha política e jurídica para barrar a intenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de tentar a reeleição em fevereiro de 2017.

Derrotadas pelo deputado do Rio na disputa de julho —ocorrida após a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)—, essas legendas batem na tecla de que Maia tenta manobra ilegal para continuar no poder por mais dois anos.

"É um casuísmo como experimentado na época da revolução [ditadura militar], quando se trocava de regra a toda hora, de acordo com o interesse do mandatário de plantão. Tem que ter regularidade democrática, não dá para virar a mesa aos 40 minutos do segundo tempo", diz Jovair Arantes (GO), líder do PTB e pré-candidato ao posto.

Aécio articula no Senado votação de PEC sobre fim da reeleição

• Caso aprovada, proposta pode impedir que Michel Temer entre na disputa de 2018 e fortaleceria candidatura do PSDB

Isabela Bonfim - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Ao dar como certa a aprovação da primeira etapa da reforma política no Senado, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), articula agora levar adiante a proposta que prevê o fim da reeleição para os cargos de presidente, governador e prefeito. Apesar de o presidente Michel Temer afirmar publicamente que não pretende se reeleger, a proposta atingiria o peemedebista diretamente e fortalece a candidatura de um nome do PSDB para 2018.

O fim da reeleição é uma bandeira antiga dos tucanos, mas Aécio preferiu priorizar dois aspectos da reforma política em uma primeira PEC: o fim das coligações proporcionais, instrumento que “puxa” deputados pelos votos da coligação, e a criação de uma cláusula de barreira, que tem o objetivo de reduzir o número de partidos políticos.

‘Se não fizermos nada, poderemos ter 60 partidos’, alerta Aécio

Coluna do Estadão

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) comemorou a aprovação da cláusula de barreira, que faz parte da proposta de reforma política. “Há no País 35 partidos, e mais 31 em processo de regularização. Se não fizermos nada, poderemos ter 60 partidos disputando as próximas eleições. É um absurdo.”

Governador do Paraná defende prévias no PSDB

• Próximo a Alckmin, Beto Richa diz que sigla está fortalecida e que vai apoiar nome que legenda escolher para 2018

Daniel Weterman - O Estado de S. Paulo

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), defende a realização de prévias para a escolher o candidato tucano à Presidência da República nas eleições de 2018. No segundo mandato como governador no Estado, Richa tenta projetar seu nome no cenário nacional da legenda e afirma que o partido está "muito fortalecido" para as eleições de 2018, após o resultado dos pleitos municipais.

O partido foi o que mais cresceu entre as grandes legendas nas disputas pela Prefeitura, com destaque para a eleição de João Doria em São Paulo capitaneada pelo governador Geraldo Alckmin, um dos possíveis presidenciáveis ao Planalto e de quem Richa é próximo. O paranaense disse que o PSDB foi o partido que mais fez um contraponto ao PT, "que está em baixa, foi sepultado nessas eleições."

"O PSDB hoje está muito fortalecido para as eleições de 2018, eu vou apoiar aquele candidato que o meu partido escolher, defendo as prévias.", afirmou Richa, em entrevista nesta sexta-feira ao Broadcast Político,serviço de notícia em tempo real da Agência Estado. O governador está em São Paulo, onde visitou o Salão do Automóvel e participou de outros eventos automobilísticos.

'Não sou religioso', diz Janot sobre 'pacto diabólico' alegado por Lula

Reynaldo Turollo Jr. – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, respondeu, nesta sexta (11), as críticas feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse nesta quinta (10) ser vítima de "um pacto quase diabólicoentre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo".

"O que eu posso dizer é que eu não sou religioso", rebateu Janot, em café da manhã com jornalistas na sede da Procuradoria-Geral da República. No evento, ele apresentou um balanço das atividades da instituição neste ano.

Em referência a Lula, Janot defendeu o direito de qualquer cidadão "externar suas críticas". Mas não quis comentar a atuação da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, responsável por investigar o ex-presidente.

Estado parcelará salário de outubro em até 7 vezes

• Anúncio foi feito após Pezão dizer que Rio ‘está ficando ingovernável’

Depois de pagar a servidores de Educação e Segurança, governo reconhece não ter dinheiro para os 38% restantes e divulga calendário que prevê desembolso de valores escalonados até 5 de dezembro

Num claro sinal da situação dramática que enfrenta para quitar sua folha de pessoal, o governo estadual anunciou no fim da noite de ontem que vai parcelar em até sete vezes os salários de outubro de parte dos servidores. Só receberam ontem funcionários da Educação e da Segurança. O estado divulgou novo calendário de pagamento que prevê, a partir do dia 16, até parcelas de R$ 200. Após o governador Pezão ameaçar pedir intervenção federal no Rio, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) descartou essa possibilidade. Ele informou que o Banco do Brasil prepara operação de crédito para tentar ajudar o estado a obter empréstimos internacionais, dando como garantia royalties do petróleo, e ressaltou que a situação do Rio é a mais “dramática, emergente e aguda” de todos os estados.

União acena com ajuda

• Meirelles diz que estuda operação de crédito para estado obter empréstimo no exterior

Daiane Costa e Guilherme Ramalho - O Globo

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que está sendo estruturada uma operação de crédito pelo Banco do Brasil para permitir que o Estado do Rio obtenha empréstimos internacionais, dando como garantia royalties do petróleo. Segundo ele, a medida, que ainda está na fase de conversas preliminares, poderá aliviar a crise financeira do Rio. O ministro, que ontem esteve na cidade, afirmou que a situação do caixa fluminense, entre todos os estados do país que passam por crises financeiras, é a mais “dramática, emergente e aguda”.

Salários serão parcelados em até 7 vezes

- O Globo

• Estado já depositou, no entanto, os vencimentos integrais dos servidores da educação e da segurança

Responsabilizando os sucessivos arrestos nas contas do estado pelo agravamento da situação de caixa, o governo estadual anunciou ontem que vai parcelar os salários de outubro dos servidores ativos e aposentados de todas as categorias, com exceção dos funcionários ativos e inativos da área de segurança e ativos da educação, que receberam ontem. A situação é tão dramática que o novo calendário divulgado prevê o pagamento em até sete parcelas e prestações de R$ 200 a R$ 5 mil. Os valores serão desembolsados de forma escalonada até o dia 5 de dezembro.

Com o pagamento dos profissionais da educação e da segurança ontem, o governo estimou que conseguiu quitar 62% da folha de pagamento de outubro: um desembolso de R$ 1,28 bilhão de um total de R$ 2,1 bilhões. O parcelamento foi a solução encontrada para garantir os vencimentos dos 38% que ficaram de fora.

Pesos-pesados pensam o Rio

• Empresários e economistas discutem soluções para a crise

Antônio Werneck – O Globo

O agravamento da crise financeira dos estados brasileiros, a situação do Rio e os desdobramentos na segurança pública foram discutidos na tarde de ontem por um grupo peso-pesado de economistas e intelectuais no Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças, na Gávea. Estavam lá nomes como Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan, Ermínio Fraga, Elena Landau e José Luiz Alquéres. A palestra de ontem, do ministro da Defesa, Raul Jungmann, não foi aberta aos jornalistas.

Jungmann disse que todo o governo tem manifestado preocupação com o estado do Rio e explicou que o presidente Michel Temer tem tratado o assunto com atenção. Mas o ministro garantiu que não há, no momento, nenhuma intenção por parte do governo federal de enviar tropas para ajudar a segurança do Rio, o que vem sendo solicitado, em conversas de bastidores, pelo governo do estado.

Populismo, o "novo normal" do século XXI

Por Fernanda Godoy | Valor Econômico

MADRI - A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos leva o populismo de direita a ocupar um novo espaço em escala global. A partir de agora, ele faz parte do "novo normal". O êxito de Trump pode impulsionar candidatos xenófobos, anti-establishment, antiglobalização, na Europa e em outros lugares do mundo, de acordo com previsões de especialistas.

"Ao vencer, Trump dá um estímulo importante para os candidatos outsiders, porque essas correntes passam a ser vistas como opções de governo. A campanha eleitoral dos Estados Unidos foi um poderoso amplificador, um megafone para essas ideias, que ganharam respeitabilidade", diz o historiador Xavier Casals, professor da Universidade de Barcelona, especialista em movimentos de extrema-direita.

Para o historiador, o resultado obtido por Trump se soma à vitória do Brexit, ao mostrar que opções que pareciam condenadas ao fracasso ou ao voto de protesto podem ter sucesso.

Nos próximos seis meses, haverá ao menos três importantes eleições na Europa, nas quais a extrema-direita terá papel de destaque. Em dezembro, haverá repetição do pleito presidencial na Áustria, com o candidato do ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria, Norbert Hofer, concorrendo com o Partido Verde.

Isolados de grupos, eleitores se atraem por populistas, diz cientista político

Felipe Gutierrez – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - No período de distensão latino-americana, o livro "Transições do Regime Autoritário", escrito pelo cientista político Philippe Schmitter com Guillermo O'Donnel, foi bastante lido por políticos que tiveram papéis relevantes nas novas democracias da região.

A tese era que o movimento teria sucesso se fosse feito um pacto no qual membros das ditaduras se sentissem incluídos. Deu certo.

Hoje, os países da região têm democracias consolidadas, mas elas –e as do resto do mundo– enfrentam dilemas de uma dificuldade de representatividade e, principalmente, suas implicações.

O americano, que foi professor em Stanford e é emérito do Instituto Universitário Europeu, esteve no Brasil para dar palestras a outros cientistas políticos.

• Folha - O sr. empregou a palavra "dissed", que é um tipo de rap de ridicularização, para falar sobre a democracia. O que quer dizer com isso?
Philippe Schmitter - Tirei mesmo do rap. Nem sei se é palavra dicionarizada.
A ideia é que, em períodos de mudanças na divisão de trabalho, os novos conceitos torpedeiam os antigos e, nesse processo, as pessoas perdem a noção de pertencimento a um grupo estabelecido.

Hoje, ninguém ousaria falar no papel do proletariado. Isso aparta pessoas de círculos sociais e identidades que antes tinham. Elas se sentem isoladas e manipuladas. É uma combinação de isolamento com ressentimento.

• Quais as implicações disso?
Ressentidos não votam, e há um declínio na presença em eleições que permeia todas as democracias. Há também um avanço populista e um colapso dos partidos tradicionais centristas.
A consequência mais documentada é a desconfiança das instituições políticas.

Isso é independente da corrupção –a corrupção faz parte da equação em alguns países, mas em outros, como o Chile, pouco corrupto, os sintomas são os mesmos.

• No Brasil, partidos pequenos venceram em cidades importantes. Isso é um sintoma?
Outra característica deste momento da democracia é o surgimento de partidos de margens. O Brasil, no entanto, sempre teve muitos partidos em função –ou disfunção– do federalismo.

• Mas eles só compunham governos, agora assumiram.
Não surpreende. É a mesma coisa que acontece na França ou na Itália. Às vezes é à esquerda, como o Podemos.

• O sr. escreveu sobre uma volatilidade de eleitores. Isso muda os governos, também?
Se eleitores são mais voláteis, governos também o serão. O "turnover" [alternância de poder], Deus do Céu! A média na Europa era de oito a dez anos. Hoje, a rotação é muito mais frequente.

• Há algum problema inerente ao "turnover" alto?
Na teoria, não. Historicamente, é pouco usual. O ponto é ver se as políticas terão continuidade. Isso vai depender de saber se os partidos vão lutar pelo centro do espectro político. Depois da Segunda Guerra, esquerda e a direita centristas dominaram eleições e a rotatividade não teve consequências.

• No Brasil se fala sobre um aventureiro chegar ao poder. A chance de isso acontecer é maior neste momento?
Sim. Esses partidos de margens ganharam força e os de centro precisam se preocupar com a perda de eleitores. Estão menos centrípetos e mais centrífugos ao tentar ter apelo.

Algo mais sobre eleições. Vocês, jornalistas, tendem a culpar os políticos pela abstenção, pela força dos populistas e pela desconfiança das pessoas nas instituições.

É o contrário. O problema real são os cidadãos. Os políticos se esforçam para se comunicar com os eleitores e têm fracassado.

Para dialogar, é preciso fazer isso por meio de categorias, e geralmente isso significava grupos de trabalhadores, de bairros, associações empresariais etc.

Essas organizações perderam sua capacidade de ser um espaço de identificação e solidariedade interna.

Hoje há um número muito grande de circunstâncias e não há maneira de falar com elas todas. A sociedade civil é que está em declínio.

• Permita-me discordar. Em 2013, tivemos manifestações que, ainda que não fossem de uma categoria, eram de pessoas que compartilhavam ideais ou projetos. E isso aconteceu novamente durante"¦
O impeachment de Dilma, eu sei. Passeatas são um produto da sensação de anomia. As pessoas estão ressentidas.

O problema é que essas megamanifestações não deixam organização com a qual se possa lidar ou negociar, que são elementos importantes das democracias liberais –elas têm poder para influenciar o comportamento dos membros, por exemplo, na decisão de entrar em greve.

Eu dava aulas no Egito pouco antes da revolução. É o exemplo dos protestos gigantescos que a internet potencializa. Quando acabou, as pessoas não deixaram traço. Elas foram importantíssimas e derrubaram o Mubarak, mas depois sumiram e foi fácil para os militares tomar o poder novamente.

• Qual a orientação aos políticos agora?
Historicamente, a resposta seria reformar os partidos. Acho que eles estão mortos, no entanto. São um instrumento de representação ineficaz. Há uma pulverização de candidatos em mais partidos ou então os políticos fingem que não são de partido nenhum –Donald Trump é o exemplo perfeito.

O populismo agarra os indivíduos: as pessoas não sentem solidariedade dentro de grupos, mas se identificam com uma pessoa. O populismo é justamente centrado em uma pessoa que diz ser capaz de resolver os problemas.

Partidos podem persistir por serem importantes para eleições ou para formar um parlamento, mas não vão ter a importância que tiveram.

• Há alternativas a eles?
Uma é a ideia de dar ênfase à participação dos cidadãos. Um dos casos mais estudados é [do orçamento participativo criado inicialmente em] Porto Alegre. A ideia é a de democracia participativa.

A outra direção é a oposta: fortalecer as instituições guardiãs. Distribuir poder a órgãos deliberadamente não democráticos, gerenciados por tecnocratas. Nessa direção, aumentam o número de agências regulatórias e o papel das cortes. A ideia é que o futuro da democracia está na despolitização. Isso tem apelo.

• O que o senhor prevê é que as eleições serão "pro forma"...
Não prevejo nada. Apresentei os dois modelos e, para ser sincero, não gosto de nenhum. Sou um democrata.

República corporativa - Cristovam Buarque

- O Globo

O Brasil já teve nomes antes de República Federativa do Brasil, mas nenhum se ajustaria melhor à realidade política atual do que o nome de “República Corporativa dos Brasis”. Somos um país dividido em uma parcela moderna e outra excluída da educação, da saúde, da renda, da participação política; e a parcela moderna é dívida em corporações, sem um interesse nacional comum e sem uma perspectiva de longo prazo que beneficie as futuras gerações.

Não há um sentimento de nação federativa, cada grupo deseja se apropriar da maior parcela possível dos recursos públicos e da maneira mais imediata. Aliam-se entre eles para forçarem os governos a atenderem a todas as reivindicações e gastarem mais do que os limites possíveis e provocam endividamento, juros altos e inflação. Mas as corporações ganham com isto: a dos bancos, com os juros; dos sindicatos, porque passam a se justificar como o promotores dos periódicos reajustes de salários; os empresários, porque remarcam os preços.

O amanhecer da democracia - Murillo de Aragão*

- O Estado de S. Paulo

• Ainda é cedo para desistir dela. O jogo está apenas começando

Existe em todo o mundo um grande mal-estar com a democracia. Seu fracasso é proclamado todos os dias. Eventos como o Brexit, no Reino Unido, e a ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA, além da onda de xenofobia na Europa e na América, são proclamados como indícios de que o sistema está em crise.

Sem dúvida, existe um mal-estar. Existe uma crise. Mas a crise, como o mal-estar, é inerente à democracia. Uma vez que a democracia deve arbitrar decisões que agradam e desagradam, o mal-estar sempre estará posto. Ao arbitrar em desfavor das minorias, a democracia gera desconforto. Gera tensões e crises.

No processo de desagradar apresenta-se uma grave dicotomia. Muitas vezes os descontentes não se acalmam. Buscam por meios democráticos, ou nem tanto, expor seu descontentamento. A situação se complica quando segmentos que, embora não majoritários, têm acesso privilegiado à mídia e ganham maior exposição para seus argumentos do que a maioria.

Golpe na corrupção - Merval Pereira

- O Globo

O ministro Teori Zavascki tomou a dianteira mais uma vez para garantir a eficácia de uma decisão fundamental do Supremo Tribunal Federal, que dava margem a incertezas. A confirmação da possibilidade de prisão de condenado em segunda instância evita os recursos protelatórios e torna mais eficaz o combate à corrupção.

Depois do julgamento de outubro, em que, por 6 a 5, o STF reafirmou a possibilidade de prisão condenado em segunda instância, alguns advogados e juízes diziam que a decisão não tinha repercussão geral, pois ainda faltava uma votação da tese. E algum ministro poderia mudar de posição, como aconteceu com Dias Toffolli, que votou a favor no primeiro julgamento e voltou atrás no segundo.

A dúvida estabeleceu-se porque o próprio relator, ministro Marco Aurélio Mello, derrotado em seu voto favorável à manutenção do trânsito em julgado, colaborou para essa incerteza ao recusar-se a aceitar a sugestão do ministro Gilmar Mendes, que pediu à presidente que substituísse a decisão em julgamento de mérito das duas ações e desse os processos por encerrados.

Advertências não faltam - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

• Quem convencer o eleitor de que vai devolver o emprego sai em vantagem

Todo partido e todo aquele que estiver planejando disputar a Presidência em 2018, e até os que dizem que não estão pensando nisso, como tem reiterado o presidente Michel Temer, devem levar em conta a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Não que o Brasil vá pender para a direita, quando se pensa nas disputas do campo político, o que assanha o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Ou que, em reação à eleição de Trump, dará uma guinada rumo à defesa de bandeiras modernas, baseadas no desenvolvimento sustentável, como pensam alguns sonháticos. Ou até que garantirá a eleição do ex-ministro Joaquim Barbosa, agora independente, livre, leve e solto, para fazer o que quiser, como ele mesmo diz.

O que a eleição de Donald Trump deixa para partidos e indivíduos no Brasil, hoje engajados ou não na política, deve ser buscada no recado que o democrata conseguiu passar para o eleitor, o de alguém capaz de tirá-lo da situação em que se encontra, resgatar-lhe a autoestima, não importando o tipo de diatribe que fala.

Neopopulismo – Sérgio C. Buarque

Revista Será?
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O nacional-populismo envelheceu e mudou de endereço. Durante grande parte do século passado, o nacionalismo foi a energia que mobilizou milhões de pessoas na luta contra o colonialismo e a dominação imperialista na África, na Ásia e na América Latina. 

O nacionalismo transformou o mundo, acabando com o sistema de exploração das colonias e neutralizando os mecanismos nem sempre sutis de submissão econômica e cultural das nações pobres. E o populismo surgiu como uma alternativa política mobilizadora do nacionalismo conduzida por líderes carismáticos em países com frágeis instituições e limitada organização da sociedade. 

Assim, é possível dizer, sem exageros, que o nacional-populismo foi um dos mais importantes movimentos do século XX pela sua amplitude e pela mudança radical das relações entre as nações e a formação de centenas de novos Estados nacionais independentes.

O efeito da 'espiral do silêncio' nas eleições americanas – Leandro Colon

Folha de S. Paulo

Desde quarta (9), sobram teorias para decifrar a vitória de Donald Trump, classificada de "surpreendente" pela mídia e por especialistas em eleições dos EUA.

Para o professor de ciências sociais Thomas Roulet, do King's College de Londres, a surpresa decorre do fenômeno da "espiral do silêncio".

Em artigo publicado no britânico "The Telegraph" cinco dias antes das eleições americanas, ele alertara que, apesar das previsões a favor de Hillary Clinton, a ideia de que ela teria a maioria poderia ser falsa.

Incerteza na economia - Míriam Leitão

- O Globo

Ativos no mundo inteiro oscilaram fortemente nos últimos dias porque realmente a eleição de Trump representa uma combinação de incertezas para a economia. Não se sabe como serão as políticas fiscal e monetária nos EUA, e até uma possível renúncia da presidente do Fed, Janet Yellen, entrou no radar. O Brasil, por estar muito frágil, é atingido diretamente por esse ambiente.

Uma alta de 10% do dólar tem impacto de 0,5 ponto na nossa inflação. A disparada dos últimos dias já fez com que alguns economistas começassem a rever o cenário para a queda dos juros no Brasil. O país acaba de entrar num ciclo de redução das taxas, mas a impressão de alguns analistas é de que o BC irá mais devagar.

O que será da democracia com a vitória de Trump? - Fernando Abrucio

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Cada vez mais pensadores e pesquisadores apontam uma espécie de fadiga da democracia contemporânea. Isso vale não só para países menos desenvolvidos e com tradição autoritária. Debates feitos nos últimos números da importante "Revista Journal Of Democracy" mostraram visões diferentes sobre a situação no mundo desenvolvido.

Alguns acreditam que a perda de confiança no regime democrático já acendeu o sinal vermelho nos Estados Unidos e na Europa. Mas outros pensam que se trata de uma crise, evidentemente séria, mas que não há uma alternativa autoritária no horizonte, pois nem a sociedade nem as lideranças políticas apoiariam esse tipo de mudança. O teste de fogo para essas teorias acaba de surgir: a vitória de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.

Rio sob intervenção - Suely Caldas

- O Estado de S. Paulo

• O governo federal, que já enfrenta problemas difíceis, não quer protagonizar mais um

O inferno que a população fluminense vive com a falência do Estado do Rio de Janeiro avança rapidamente na direção da situação vivida por Alagoas em 1996/1997 e que resultou numa intervenção “não oficial” do governo federal. Na época, o governo alagoano atrasou seis meses os salários dos servidores e greves se multiplicaram em todo o Estado – crianças sem escola, doentes morrendo sem atendimento médico, violência nas ruas sem polícia e Justiça fechada, um galopante caos social a exigir socorro. E o socorro chegou na forma de intervenção – combinada e não oficial.

Parlamentares avançam para tentar conter a Lava-Jato – Editorial/O Globo

• Aproxima-se a formalização da delação de Marcelo Odebrecht, e políticos se movimentam no Congresso para erguer barreiras por meio de leis que os protejam

O tempo avança, aproxima-se a formalização da delação premiada de Marcelo Odebrecht e executivos da empreiteira na Lava-Jato, enquanto o clima esquenta no Congresso, com a movimentação de grupos de parlamentares para aprovar leis que sirvam de arma de defesa de investigados pela Polícia Federal, de denunciados pelo Ministério Público e de julgados pelo Poder Judiciário. Uma indiscutível operação de autodefesa.

A relação entre as denúncias sobre as transferências de dinheiro da empreiteira a políticos de vários partidos e as articulações na Câmara e Senado tem explicação óbvia.

Ainda mais urgência – Editorial/Folha de S. Paulo

O desfecho inesperado da eleição dos Estados Unidos e a perspectiva de súbita mudança na configuração da economia mundial constituem sérios inconvenientes para a recuperação brasileira.

As primeiras e convulsivas reações à surpresa política são, em certa medida, esperadas; talvez passageiras. Grandes investidores no mundo inteiro procuram atenuar perdas ou revisam suas aplicações de modo a se adaptar às expectativas de modificação do cenário.

Ainda que não seja duradoura, essa reorganização de investimentos provoca danos a países de economia frágil e desorganizada. Mesmo que a incerteza nos EUA tenha vida curta, seus efeitos serão sentidos —e perdurarão— no Brasil.

Aos sem-voto, resta a mazorca – Editorial/O Estado de S. Paulo

Bem que Guilherme Boulos, o notório líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), avisou que iriam “virar rotina” os bloqueios de avenidas e estradas como forma de protesto por parte dos “movimentos sociais” que perderam seus privilégios depois do impeachment da petista Dilma Rousseff.

É espantoso que sobre esses grupelhos, que agem evidentemente como marginais, ainda não tenha recaído o peso da lei. Em países onde vigora o Estado de Direito, o direito à manifestação é respeitado, mas a baderna e a desordem, não. A falta de pulso para lidar com delinquentes que decidem infernizar a vida dos cidadãos comuns quando lhes dá na veneta, sem que por isso sejam devida e legalmente reprimidos, alimenta a sensação de que tudo podem.

A dor - Graziela Melo

A dor que se esconde
na prateleira
de minha
alma
é rosa
não é cinza
me acalenta
e acalma.
Alerta,
enquanto durmo,
espanta-me
os pesadelos.

Embala-me
com sonhos belos.
Enrosca-se
em meus cabelos.

Pernoita
nos meus lençóis.
Cativa-me
com doces gestos.
Mistura-se
aos meus temores.
Desperta
quando amanheço.