segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Opinião do dia – José de Souza Martins

Nesse assunto, as ciências sociais se equivocaram ao deixar de lado o que é próprio do homem comum e cotidiano dos tempos atuais. E, ao deixarem de lado em suas análises a extensa categoria de pessoas que nem são ricas nem são pobres, motivadas por carências próprias, abandonadas pelo classificacionismo pseudo-sociológico que conhece por imputação e não por investigação, mais dedutivo do que indutivo, mais para confirmar o supostamente sabido do que para descobrir o não sabido. Deixaram de lado as multidões tolhidas e silenciadas, as vítimas da manipulação política e ideológica para as quais não há lugar no catálogo de anomalias relevantes da sociedade atual. Caso do desemprego, dos favorecimentos falsamente corretivos da pobreza, os recursos de maquiagem dos defeitos e feiuras do mundo contemporâneo. Caíram nas ilusões que inventaram.

Isso tem acontecido também aqui no Brasil, os analistas perdidos mais entre acusar do que explicar, aprisionados pela estreiteza de considerações pouco convincentes sobre direita e neodireita. Não será por aí que proporão a compreensão do que vem acontecendo no País, especialmente desde as manifestações de rua de 2013, até a cassação de Dilma Rousseff e ainda o que virá pela frente. Criaram o artifício do neo-isto, neo-aquilo, que acaba sendo neo-coisa-nenhuma: neoliberalismo, neodireitismo, neoesquerdismo; neopentecostalismo político.

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José de Souza Martins, sociólogo, membro da Academia Paulista de Letras, entre outros livros, autor de Uma sociologia da vida cotidiana (Contexto). ‘O preço da perversidade’, O Estado de S. Paulo/Aliás, 13/11/2016

Governo se aproxima de UGT e Força

O presidente Michel Temer quer usar as centrais UGT e Força para contrabalançar a oposição da CUT às reformas trabalhista e da Previdência. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi mobilizado e o Planalto deve abrir espaço no governo para sindicalistas.

Contra CUT, Temer apela a UGT e Força por reformas

• Governo. Planalto recorre a centrais aliadas para ‘embalar’ discurso da necessidade de mudanças nas áreas trabalhista e previdenciária e esvaziar ações de sindicalistas do PT

Pedro Venceslau, Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

O presidente Michel Temer mobiliza a Força e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) para tentar rachar o movimento sindical, reduzir a oposição às reformas da Previdência e trabalhista e esvaziar ações contra o governo planejadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central brasileira e ligada ao PT. Até o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá conversar com sindicalistas aliados para barrar eventual impacto negativo das propostas entre os trabalhadores.

O governo espera que as duas centrais, que juntas superam a CUT em número de sindicatos filiados, ajudem ao menos a “embalar” o discurso sobre a necessidade das reformas. Em troca, o Planalto deverá ceder às reivindicações dos aliados e ampliar seus espaços na gestão.

Ministros de Dilma se afastam da política

• Titulares de pastas no governo da petista retomam trabalhos após quarentena

Vera Rosa - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Seis meses após o afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, ministros da ex-presidente começam a voltar ao trabalho sem perspectiva de retorno à política, ao menos a curto prazo. Proibidos de exercer suas atividades profissionais até hoje por causa da chamada “quarentena”, que terminou no último dia 12, muitos dos auxiliares de Dilma ainda não definiram o seu destino. Os que são filiados ao PT, porém, têm uma certeza: não querem compor a direção do partido.

É o caso do ex-chefe da Casa Civil Jaques Wagner, que mora em Salvador. Se dependesse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Wagner seria presidente do PT. Mas ele já avisou Lula que não entrará nessa briga. Wagner foi convidado pelo governador da Bahia, Rui Costa, para assumir a Fundação Luís Eduardo Magalhães, instituição destinada a fomentar políticas públicas e ações de qualificação de servidores.

PSB descarta apoiar candidato ligado a Temer em 2018

• Partido defende Alckmin na disputa à Presidência em troca de apoio do tucano a socialista Márcio França em SP

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Apesar do discurso de que a prioridade no momento é ajudar o governo Michel Temer a tirar o País da crise, integrantes da cúpula nacional do PSB trabalham de olho no fortalecimento da legenda e descartam apoiar um nome da atual gestão na disputa à Presidência da República em 2018.

“Temer já disse que não será candidato a presidente e a prioridade do PSB é fortalecer nosso projeto. O partido não tem compromisso eleitoral com Temer, tem compromisso de colaborar com a transição”, disse o secretário-geral da legenda, José Renato Casagrande.

Em relação ao atual governo, restam até mesmo críticas de falta de diálogo nas decisões na área econômica. “O governo Temer dialogou mais com o Congresso do que com os governadores e prefeitos, neste momento inicial, o que é ruim”, disse o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, herdeiro político de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo durante a eleição presidencial de 2014.

Os planos do partido para 2018 giram em torno de uma aliança nacional com o PSDB

Prescrição atinge um terço de ações contra políticos no Supremo

Rubens Valente, Camila Mattoso – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Levantamento feito pela Folha revela que um terço das ações penais concluídas no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre congressistas com foro na corte foi arquivado nos últimos dez anos por causa da prescrição dos crimes.

A demora que levou à prescrição, definida pelo Judiciário quando o Estado perde o direito de condenar um réu porque não conseguiu encerrar o processo em tempo hábil, leva em conta o andamento da ação nas instâncias inferiores e no STF.

Os atrasos, assim, podem ter ocorrido em etapas anteriores à chegada no Supremo.

Entre os casos arquivados estão acusações contra o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), abertas em 2008, 2011 e 2014, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), iniciadas em 2007 e 2011, e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP).

Pioram projeções sobre a retomada do crescimento

Por Sergio Lamucci e Arícia Martins – Valor Econômico

SÃO PAULO - As expectativas de recuperação da atividade econômica a partir deste fim de ano estão sendo frustradas. Depois dos maus resultados da indústria e do comércio no terceiro trimestre, alguns indicadores econômicos de outubro reforçaram a avaliação de que a economia vai encolher também nos últimos três meses do ano. Neste cenário, marcado pela queda na produção de veículos, cimento e outros itens importantes, bancos e consultorias já revisam para baixo as estimativas para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e também 2017.

Para 2016, as projeções para o PIB, que anteviam uma recessão de 3%, agora se situam em 3,5%. Para o próximo ano as estimativas indicavam um crescimento de até 2%, mas agora estão mais próximas de 1%. Alguns analistas, como os do Banco Fator, já preveem expansão zero.

A vitória de Donald Trump nas eleições americanas é um novo complicador, porque eleva a incerteza no mercado internacional e já provoca a desvalorização das moedas emergentes, como o real. Esse movimento cambial gera inflação e pode levar o Banco Central a ser mais cauteloso no ciclo de queda dos juros, iniciado no mês passado.

No terceiro trimestre, a produção industrial caiu 1,1% em relação ao período imediatamente anterior, feito o ajuste sazonal, enquanto as vendas no varejo ampliado recuaram 2,7%. Os números indicam que o investimento poderá levar mais tempo para decolar, além de evidenciar a fraqueza do consumo. Analistas chegaram a estimar alta de 0,2% no PIB do terceiro trimestre, mas hoje acreditam que pode ter havido queda de até 1% em relação ao segundo. Para os últimos três meses do ano, o economista-chefe da JGP Gestão de Recursos, Fernando Rocha, antevê nova queda, de 0,2%.

Para economistas, o otimismo não se materializou por vários fatores, como perda de fôlego do setor externo, frustração em relação à velocidade no corte dos juros e, também, fatores pontuais que prejudicaram a atividade industrial em agosto e setembro.

Um terço das cidades do estado já atrasa salários

• Principais motivos são queda de royalties e falta de repasses do governo estadual

Por causa da crise, pelo menos 30 municípios fluminenses tiveram que adiar pagamentos de servidores, além de interromper obras e suspender serviços

Pelo menos 30 cidades do Estado do Rio vêm pagando seus servidores com atraso, revelam CARINA BACELAR e AUGUSTO DECKER. O número corresponde a um terço dos 92 municípios fluminenses, mas pode ser maior, já que 15 prefeituras não responderam ao GLOBO. A redução de repasses do estado e a queda de royalties do petróleo estão entre as razões para os cofres vazios. O programa estadual Somando Forças, por exemplo, destinou às cidades, neste ano, R$ 46 milhões, um quarto do total de 2015.

Crise em efeito dominó

• Municípios fluminenses paralisam obras e quase um terço atrasa salários

Deputados vão propor novas mudanças no pacote de ajuste fiscal

• Extinção dos triênios e limite do Bilhete Único devem sofrer alterações

Carina Bacelar - O Globo

Começa esta semana uma maratona que vai definir, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o futuro das contas do estado. Apesar da defesa do presidente da Casa, Jorge Picciani, de que as negociações avançarão com diálogo, as maiores bancadas não parecem dispostas a aprovar todo o pacote de austeridade proposto pelo governo. Depois de os deputados devolverem ao Executivo o projeto que previa a criação de alíquota previdenciária extra para servidores, parlamentares do PMDB querem recuar em relação a outra medida: a que extingue os triênios (adicionais por tempo de serviço ao funcionalismo). Além disso, devem tentar suavizar o projeto que restringe o uso do Bilhete Único.

Líder do PMDB na Alerj, André Lazzaroni afirma que os projetos “sofrerão mudanças”. No caso dos triênios, diz ele, a bancada vai propor que sejam suspensos por apenas dois anos (até o fim de 2018), em vez de abolidos.

Com grades e policiais, Alerj se prepara para manifestações

• Sindicatos fazem convocação; ruas do entorno são interditadas

Célia Costa - O Globo

Três dias antes de os deputados estaduais começarem a analisar o pacote de austeridade contra a crise financeira, o prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) amanheceu cercado com grades. O isolamento faz parte de um forte esquema de segurança que será montado quarta-feira, quando estão marcadas várias manifestações de servidores. No mesmo dia, o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), receberá representantes de seis sindicatos. A Alerj informou que, na última sexta-feira, a Secretaria de Segurança e o comando da Polícia Militar pediram a instalação da cerca, que foi autorizada pela presidência da assembleia.

O esquema de segurança contará com agentes do 5º BPM (Centro), do Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos e do Batalhão de Choque, além de um helicóptero da PM. Em nota, a Alerj informou que, pela Constituição, cabe ao Executivo o poder de polícia e, consequentemente, “a obrigação de garantir a segurança e o funcionamento das instituições democráticas”.

Maia discute pareceres sobre sua candidatura com Temer e Renan

• Em almoço, sábado, presidente da Câmara disse que encomendou textos a dois juristas

Simone Iglesias, Letícia Fernandes e Carolina Brígido - O Globo

BRASÍLIA - Novos pareceres jurídicos favoráveis à reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara foram discutidos em almoço, sábado, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a participação do presidente Michel Temer, do ex-presidente José Sarney, do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), de ministros do Tribunal de Contas da União, e do secretário-executivo do Programa de Concessões, Moreira Franco. Ontem à noite, Maia negou que tenha tratado do assunto durante o encontro, mas a informação foi confirmada ao GLOBO por outras fontes.

Renan reafirmou sua opinião de que Rodrigo Maia tem respaldo jurídico para concorrer em 2017. Pelo menos dois juristas estão debruçados sobre o tema. Um deles é Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve entregar seu parecer até o fim desta semana. A expectativa é que Ayres Britto conclua no estudo que a situação específica de Maia não o impede de se candidatar ao cargo que ocupa, já que ele cumpre um mandatotampão na presidência da Câmara.

Com PT e PSDB abalados, Minas tem cenário confuso para 2018

• Aécio perdeu em BH, Pimentel está às voltas com a Justiça e PMDB está rachado

Evandro Éboli - O Globo

-BRASÍLIA- O cenário da disputa para o governo de Minas Gerais em 2018 é de indefinição completa. As forças políticas tradicionais no estado — PT e PSDB — amargaram derrotas em Belo Horizonte este ano e alguns de seus caciques estão com a popularidade abalada.

O governador Fernando Pimentel, do PT, às voltas com a Operação Acrônimo, é praticamente carta fora do baralho, e seus aliados consideram muito improvável que ele tente a reeleição. O ex-governador e senador Aécio Neves, do PSDB, não elegeu João Leite prefeito e ganhou um adversário figadal: Alexandre Kalil, do PHS, novo prefeito da capital.

Depois de dois mandatos como prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB) seria um candidato natural ao governo, mas não é. Em 2008, começou com força total, tendo PT e PSDB a seu lado. Agora, deixa a prefeitura rompido com os dois. Como se não bastasse, o nome que lançou para sucedêlo, Délio Malheiros, do PSD, terminou o primeiro turno em quinto lugar, com apenas 5,5% dos votos. Questionado sobre seu futuro após deixar a prefeitura, Lacerda foi vago.

— Tenho muita vitalidade e excelente saúde. Continuarei trabalhando por alguma coisa — afirmou o prefeito, que pode tentar uma das duas vagas ao Senado. Dos três senadores do estado, dois terão o mandato encerrado daqui a dois anos: Aécio e Zezé Perrella (PTB).

Mundo novo – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Quase tudo já foi dito sobre o surpreendente desfecho da eleição americana. Mas a vitória de Donald Trump continua a suscitar discussões, dúvidas e angústias e impõe-se como assunto obrigatório pelo mundo afora.

De início, embora não caibam reparos à soberana decisão dos eleitores americanos, é de se esperar que a realidade imponha limites a algumas posições defendidas pelo presidente eleito ao longo da dura disputa com sua adversária. Em especial, que ele não leve adiante ideias xenófobas e misóginas. Milhares de brasileiros e milhões de imigrantes de outras nacionalidades que vivem nos EUA não podem ser responsabilizados por efeitos econômicos decorrentes de processos históricos.

Perdemos todos - Ricardo Noblat

- O Globo

“A imprensa não é o quarto Poder. É o contrapoder” Zuenir Ventura, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras

Na noite da última terça-feira, antes do início da apuração dos votos, “The New York Times”, o jornal de maior prestígio no mundo, conferia a Hillary Clinton 90% de chances de se eleger presidente dos Estados Unidos. À primeira hora do dia seguinte, as chances dela eram superiores a 60%. Às três horas, segundo o jornal, as chances de Donald Trump de derrotar Hillary batiam na casa dos 90%.

ÀQUELA ALTURA, o preço futuro do dólar em Nova Iorque desabava, assim como o valor das ações negociadas nas bolsas asiáticas. A GloboNews já dera como certa a eleição de Trump. Ainda se passariam mais de duas horas para que a primeira agência de notícias americana, a AP, cravasse o que era fato conhecido aqui e no resto do mundo insone e em sobressalto.

Pesadelo do PT só começou - Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Iniciada em 2015, a noite que deu pesadelos aterrorizantes ao PT em 2016 não deve acabar antes de 2018 – com chance de se prolongar ainda mais se os dirigentes petistas não acordarem logo. Cientistas políticos reunidos em seminário da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo na semana passada apresentaram estudos distintos com a mesma conclusão: a bancada de deputados federais do PT deve diminuir significativamente em 2018.

O principal motivo é a redução inaudita de prefeitos e vereadores sofrida pelo partido em 2016. Artigo ainda a ser publicado pelos professores George Avelino e Ciro Biderman confirma, estatisticamente, que há uma forte associação entre a quantidade de prefeitos eleitos por um partido e o número de deputados federais que a mesma legenda elege dois anos depois.

Mar revolto – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

De repente, o mar ficou revolto para o presidente Temer nesta reta de final de ano. O cenário brasileiro mudou com a vitória de Donald Trump e a proximidade da delação da Odebrecht. Dois fatores que lançam incertezas e vão obrigar o governo a fazer ajustes de rotas.

O Palácio do Planalto confiava num encerramento de ano mais tranquilo, com a aprovação do teto dos gastos públicos, nova redução da taxa de juros e uma economia já dando sinais de crescimento.

Pois bem. Antes mesmo da vitória do republicano, a equipe econômica já havia alterado suas previsões. Saiu de cena um crescimento de 1,6% do PIB em 2017. Entrou no seu lugar a esperança de que seja de 1%.

Democracia exposta - Marcos Nobre

- Valor Econômico

• A própria democracia deixou de ser uma evidência

Aconteceu uma vez, no plebiscito sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, e a explicação bem pensante disse que tinha sido raio em céu azul. Veio o referendo na Colômbia sobre o acordo de paz e uma série de explicações tiradas da cartola tentou mostrar que era ponto fora da curva. A eleição de Donald Trump fixou de vez a exceção como regra, o desvio como tendência.

Ainda como candidato, Trump já tinha deixado claro que não aceitaria um resultado que não fosse o da sua vitória. Acusou o processo de fraudulento antes mesmo de ser iniciada a votação. Após sua vitória, bateu boca pelo Twitter com manifestantes que não aceitaram o resultado. Escreveu o presidente eleito dos EUA: "Eu tive uma eleição presidencial aberta e bem-sucedida. Agora, manifestantes profissionais, incitados pela mídia, estão protestando. É muito injusto!". O fato de ter tentado se desdizer no tuíte seguinte só mostra o grau de confusão em que se encontra o líder de algo que ele mesmo não sabe bem o que é. O mais grave é que provavelmente ninguém sabe. Mas é urgente tentar descobrir.

Crime e política - Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

• Doações eleitorais empresariais eram legais até poucos meses atrás, sendo uma prática por todos reconhecida e aceita

A política brasileira virou crônica policial. Não há dia sem envolvimento de políticos denunciados e investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Num país aparentemente pobre, milhões e bilhões são desviados de suas finalidades públicas para as mais variadas formas de apropriação pessoal e partidária. O Brasil é rico em corrupção e pobre em medidas sociais.

A Lava-Jato tem a grande virtude de estar passando o país a limpo. Sem ela, os mais diferentes tipos de crime estariam se desenrolando normalmente, muitas vezes mascarados de políticas sociais, como tornou-se usual na forma petista de governar. Sua contribuição à República é inestimável.

O novo esforço de reforma política - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Foi instalada e teve seu plano de trabalho aprovado a nova Comissão Especial da Reforma Política. É a quarta comissão sobre o tema da qual faço parte. Tivemos tentativas frustradas em 2011, 2013 e 2015. Estou convencido de que, apesar da consolidação da democracia no Brasil, temos um dos piores sistemas do mundo e precisamos mudar.

O assunto é extremamente polêmico, e vale aqui a regra “cada cabeça, uma sentença”. Cada deputado ou senador tem uma reforma própria na cabeça. Sofremos de uma circularidade lógica perversa, na qual não resolvemos o problema porque temos o problema. Como fazer uma verdadeira e profunda reforma política com 27 partidos representados no plenário da Câmara? A construção de consensos substantivos acerca do tema é tarefa complexa e difícil.

Velhos eleitores – Vinicius Mota

Donald Trump, 70, foi o político mais velho eleito para a Casa Branca. Ninguém tão idoso havia assumido a Presidência no Brasil antes de Michel Temer, que aos 75 substituiu Dilma Rousseff.

Não há uma tendência nesses fatos coincidentes. A gerontocracia, o governo exercido pelos anciãos, não é destino necessário da humanidade. A política praticada sob a influência crescente dos cidadãos mais velhos, porém, talvez o seja.

A correlação positiva entre faixa etária e preferência do eleitor ajudou a selar o divórcio britânico da União Europeia, em junho, e o triunfo republicano nos EUA, agora. Teve traço semelhante a conquista do tucano João Doria em São Paulo.

Reconstrução de uma nação arrasada - Ives Gandra da Silva Martins*

- O Estado de S. Paulo

• O Brasil precisa de maior serenidade agora que é apresentado um projeto coerente

Corrupção, protagonismo excessivo, reformas e desenvolvimento – embora pareça contraditório, esse é o retrato do momento brasileiro. Luta-se contra a corrupção, há excesso de protagonismo das autoridades – apesar de idôneas – no seu combate, as reformas são necessárias, mas atingem interesses burocráticos, políticos e de grupos, e o desenvolvimento só se fará se o País voltar a ter paz para que o governo, com corretas sinalizações, venha a implementá-las.

De que o juiz Sergio Moro com a colaboração do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal passarão à História, pois representam um verdadeiro divisor de águas entre o Brasil antes e depois da Operação Lava Jato, não tenho a menor dúvida. Conscientizaram o País de que a corrupção nos meios políticos tem de ser combatida e os novos políticos – São Paulo, nas eleições municipais, deu um exemplo – terão de ter, antes de tudo, perfil ético. O povo não aceita mais governos corruptos.

Trump, Fed e BC na batalha do câmbio - Angela Bittencourt

- Valor Econômico

• Estados ameaçam dar um baile no governo Temer

Donald Trump, Federal Reserve (Fed) e Banco Central (BC) são fontes de informação e de preocupação que transcendem interesses do mercado e até fronteiras. O feriado pela Proclamação da República, amanhã, poderá adiar votações importantes no Congresso, mas investidores estrangeiros ou locais não serão poupados de intensa volatilidade nos preços dos ativos financeiros.

A queda do dólar de 4% em um pregão e mais 4% no outro seguido de uma reação confirma: o mercado financeiro não é lugar para amadores em situações de crise. Seja ela qual for. Um conflito armado ou a substituição legítima, mas inesperada, de um presidente com propostas malucas de governo. Os dois exemplos parecem distantes mas não estão. Ambos podem mudar expressivamente o preço do dólar, o patamar da taxa de juro e do índice de ações.

Mais manobras – Editorial/Folha de S. Paulo

Seria de espantar se inexistissem, na atual conjuntura, movimentações no sentido de diminuir os potenciais efeitos destrutivos da Lava Jato sobre as principais forças políticas do país.

Entretanto, dada a sensibilidade da população diante de qualquer medida que possa sugerir um arrefecimento da operação, os políticos sempre que possível evitarão ataques frontais às autoridades investigativas e seus procedimentos.

Tão discretos quanto suspeitos, alguns movimentos contra as ações do Ministério Público Federal têm-se verificado nos últimos meses.

O caso da chamada anistia para os crimes de caixa dois, barrado à última hora graças aos alarmes de alguns poucos deputados da Rede e do PSOL, ocupou as atenções há não muito tempo.

A Lava Jato e a economia – Editorial/O Estado de S. Paulo

Como deixou esclarecido acima de qualquer dúvida o juiz Sergio Moro na entrevista exclusiva ao Estado já comentada neste espaço, em nome da preservação dos fundamentos do sistema democrático é preciso saber valorizar e distinguir as indispensáveis ações de combate à corrupção de que a Operação Lava Jato tem sido magnífico e meritório exemplo das generalizações sobre doações eleitorais de pessoas jurídicas que ainda eram permitidas há pouco mais de um ano. Essas doações, por mais que possam ter sido nocivas do ponto de vista ético, nem sempre constituíram crime. Assim, o enquadramento indiscriminado das doações eleitorais de empreiteiras como crime poderia levar, no limite, à virtual proscrição da atividade político-partidária – o que, longe de significar solução para a crise política, a agravaria em proporções imprevisíveis, mas, certamente, catastróficas por suas inevitáveis repercussões negativas na gestão da combalida economia brasileira.

Remédio inevitável – Editorial/O Globo

• As medidas são amargas, mas sem elas o colapso do estado será inevitável, o que seria o pior dos mundos

O insolvente sistema previdenciário está no centro da crise do Rio de Janeiro — de resto, do Brasil —, como um dos fatores que conduzem à ingovernabilidade sugerida pelo governador Luiz Fernando Pezão. Mas o estado padece, ainda, de circunstâncias adicionais, que se somam para produzir o assustador quadro que hoje faz mergulhar poder público, população e instituições em agônica incerteza quanto aos desdobramentos que estão por vir.

Algumas particularidades extras são de origem, de certo modo, exógena, como recessão, desemprego, falência do setor público, derivados do continuado equívoco lulopetista na condução da política econômica do país. Adicione-se a isso uma tendência crônica de pressões sobre o Tesouro, ecoando no estado ações em permanente curso em nível federal, por corporações que buscam assegurar ou ampliar privilégios salariais incompatíveis com a realidade.

Aprovar reformas é arma para enfrentar a crise – Editorial/Valor Econômico

As incertezas sobre qual será a trajetória da inflação e dos juros nos Estados Unidos, após a posse do presidente eleito Donald Trump, provocaram uma grande volatilidade nos mercados na semana passada. As especulações sobre o que fará o novo presidente da maior potência econômica do planeta alimentam esse movimento. A situação só se tornará menos nebulosa quando Trump começar a nomear os integrantes de sua equipe de governo.

Há indicações de que ele será agressivo em questões comerciais, na tentativa de defender a indústria americana da concorrência de produtos estrangeiros, provenientes, principalmente, da Ásia e do México. Mas os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil e, desse ponto de vista, a adoção de medidas protecionistas por parte do novo governo também afetará o país.

As restrições que possam ser instituídas pelo governo americano limitarão o comércio mundial, criando dificuldades adicionais à recuperação da atividade econômica brasileira. Tem sido justamente por meio do setor exportador que o Brasil tenta sair da forte recessão em que se encontra, que já dura nove trimestres. Com a desvalorização do real, que reduziu os preços das mercadorias aqui produzidas, as empresas brasileiras retomaram mercados que tinham perdido. Portanto, uma redução do comércio mundial neste momento será um duro golpe para o setor exportador brasileiro.

Os desafios do PMDB – Editorial/O Estado de S. Paulo

Como marco do encerramento do 9.º Congresso Nacional da Fundação Ulysses Guimarães, o PMDB lançou o livro 50 anos do PMDB - o partido que muda o Brasil. A obra traça um panorama do partido político mais longevo do País desde sua fundação, em março de 1966, até a posse de Michel Temer na Presidência da República.

A extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional n.º 2, de 1965, introduziu o bipartidarismo no Brasil. De um lado, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), base de sustentação parlamentar do governo. Do outro, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), então um fraco aglomerado de oposição. Composto por políticos oriundos de partidos extintos pela ditadura, o MDB foi tolerado para servir como um simulacro de partido de oposição que pudesse conferir alguma legitimidade ao governo militar.

Quero - Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.