terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Atividade industrial pode ter batido no "fundo do poço" – Editorial | Valor Econômico

No dia em que a indústria decepcionava com a divulgação de um crescimento pífio de 0,2% em novembro, reforçando as previsões de nova queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou uma nova diretriz para a concessão de crédito, alimentando a expectativa de que dias melhores podem vir pela frente. A produção industrial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cresceu apenas 0,2% de outubro para novembro, bem menos até do que os 2% esperados. Dos 24 setores pesquisados, apenas 13 apresentaram crescimento. Enquanto a indústria de transformação recuou 0,2%, a de extração mineral avançou 1,5%, superado o efeito do desastre em Mariana (MG). A produção de bens de capital aumentou 2,5% sobre outubro, a primeira expansão em cinco meses; e a de bens duráveis, 4%.

O destaque negativo foi a redução da produção de equipamentos de transporte exceto veículos, que caiu 5,7%, e a de coque e derivados de petróleo, com recuo de 3,3%. Do lado positivo, ficou a fabricação de veículos automotores, reboques e carroçarias, que cresceu 6,1%, animada basicamente pelas exportações. Para compensar o tombo de 20% no emplacamento de veículos no mercado doméstico, as exportações cresceram 24%, especialmente para o México e Argentina.

A queda da produção industrial acumulou 7,1% no ano e 7,5% em 12 meses. Tudo indica que 2016 não será muito melhor do que 2015, quando a indústria encolheu 8,3%, depois de ter caído 3% em 2014. A trajetória errática sepultou as esperanças de recuperação no segundo semestre. Afinal, informa o IBGE, a produção industrial voltou ao patamar de dezembro de 2008, quando a produção desabou 19,6% em três meses. Em bens de capital, a produção recuou ao nível de 12 anos atrás.

O desempenho da indústria em novembro contribuiu para consolidar a expectativa de que o PIB do quarto trimestre será tão ruim ou um pouco pior do que o do terceiro trimestre, quando recuou 0,8%, e que a economia deverá fechar o ano com encolhimento de 3,5%, que se soma ao de 3,8% em 2015. Com esse resultado, os economistas calculam que a herança para este ano é negativa em 1%. Em relatório sobre o desempenho da indústria em novembro, intitulado "No caminho para mais um trimestre ruim", o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) completa o cenário de cautela para o fechamento de 2016 com informações de sondagens realizadas junto às empresas, que revelam que "o pessimismo perdeu força, mas que a recuperação da confiança nos últimos meses (depois de setembro) vem cedendo".

Fazem parte desse quadro a baixa utilização da capacidade instalada, estimada em 74% pela FGV, inferior à média histórica de 80%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem um número ainda menor, de 66% de uso da capacidade instalada. No setor de automóveis, a ociosidade é de 55% e chega a 75% em veículos pesados. A produção de veículos ficou em 2,1 milhões de unidades no ano, inferior aos 3,7 milhões fabricados no melhor ano do setor, 2013, e à capacidade instalada de 5 milhões. O Índice de Confiança da Indústria de Transformação medido pela FGV recuou de 87 pontos em novembro para 84,6 pontos em dezembro, já descontados efeitos sazonais, bem abaixo dos 100 pontos, patamar a partir do qual a avaliação torna-se positiva.

No entanto, há a expectativa de que o pior ficou para trás, dado o baixo nível dos estoques. A CNI prevê que a indústria poderá crescer 1,3% neste ano. A FGV e o IEDI são menos otimistas e estimam em 0,6% o crescimento. Em função da capacidade ociosa elevada, se a retomada se confirmar não deverá haver pressão sobre a inflação; nem investimentos elevados que poderiam contagiar positivamente outros setores da economia.

A nova política de crédito do BNDES contribuiu para reforçar a percepção de que uma recuperação está a caminho. Após seis meses de trabalho da nova administração, o banco reduziu o número de programas, limitou os juros subsidiados a projetos com retorno social e reforçou a oferta de financiamento do capital de giro para as empresas. A intenção é implementar uma política "horizontal" que avalia os atributos de cada projeto. Uma atenção especial foi dada ao capital de giro. Até o fim do ano, o banco vai oferecer R$ 13 bilhões na linha BNDES Progeren, dos quais R$ 5 bilhões de forma direta, para preservar a atividade econômica e os empregos.

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