sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Lenta recuperação - Míriam Leitão

- O Globo

Indústria mais fraca atrasará a recuperação. A indústria decepcionou novamente. Ontem foi divulgada a produção industrial de novembro. Bancos e consultorias previam em média 2% de crescimento, mas a alta foi de apenas 0,2%. Isso ainda é o ano passado, mas a partir do dado as projeções para o PIB do último trimestre podem ser revistas para pior. Essa queda maior em 2016 retarda ainda mais a recuperação em 2017.

O número ruim ajuda a confirmar a previsão de corte de 0,5% dos juros na semana que vem, na primeira reunião do Copom de 2017. Apesar de o quadro econômico continuar mais frio do que previsto, o Banco Central não vai se arriscar a um corte maior porque há várias outras incertezas na conjuntura.

Ontem foi divulgada a produção de veículos do ano. O setor continuou em marcha à ré e voltou ao nível de 2004. Números fortes só são esperados pelos empresários do setor na próxima década. A incerteza política continua sendo vista por eles como uma ameaça e um entrave ao consumo e ao investimento.

O presidente da Anfavea, Antonio Megale, tem uma boa notícia para dar: em 2017, a produção de veículos talvez tenha um crescimento de 11,9% sobre o ano passado. Mas tudo tem que ser entendido no contexto. A queda acumulada desde o melhor momento do setor, em 2013, chega a 43%. O país já chegou a produzir 3,7 milhões de veículos por ano e fechou 2016 em 2,1 milhões.

— A gente só espera números como os de 2013 na próxima década. Mas o mais importante é ter essa expectativa de recuperação. Este ano já teremos crescimento, com novo aumento das exportações e alta de 4% do mercado interno — disse.

O executivo acredita que a queda das taxas de juros pelo Banco Central vai aliviar o custo financeiro das empresas, principalmente para o capital de giro, além de baratear os financiamentos para compras de bens duráveis. Outro ponto importante, diz, é que o mercado de trabalho deve se estabilizar ao longo do ano.

— Quando o medo de perder o emprego diminuir, a pessoa que está trabalhando vai voltar a pensar em consumo. Isso vai ser muito importante, porque hoje até quem está empregado está cauteloso — explicou.

Só que o medo vai demorar a sumir do mercado de trabalho. O desemprego deve continuar piorando nos próximos meses. No setor automotivo, o nível de vagas recuou a 2007. Mesmo com o aumento da produção esperado para o ano, a Anfavea estima apenas uma estabilidade no emprego, com queda no primeiro semestre e recuperação no segundo.

O que tem ajudado muito o setor automotivo é o crescimento das exportações. No ano passado, enquanto o licenciamento de veículos caiu 20%, as vendas externas saltaram 24%. Isso segurou a queda da produção. Para este ano, a expectativa é de novo incremento de 7% nas exportações. A produção de máquinas agrícolas também teve uma forte recuperação no final do ano passado. Embora tenha fechado 2016 em queda, a expectativa de uma safra forte a ser colhida este ano fez as vendas dispararem 84% em dezembro, sobre o mesmo mês de 2015.

A ociosidade da indústria automotiva chega a 55%. No setor de veículos pesados, que inclui caminhões e ônibus, o número chega a espantosos 75%. A venda de caminhões este ano despencou 29%. Se em 2011 foram vendidos 172 mil unidades, no ano passado, foram apenas 50 mil, menos de um terço.

Houve, segundo o IBGE, uma predominância de dados positivos em setores e atividades em novembro, ao contrário de outros momentos em que a taxa negativa se espalhava por todos os segmentos. Mas quando se compara com o mesmo mês do ano anterior a queda é de 1,1%, no 33º mês seguido de queda.

O país é ainda atingido pelos estilhaços da maior recessão da história recente. O PIB de 2017 será melhor do que os últimos dois anos, mas isso não significa que todos os indicadores passarão a ser positivos porque mudou o calendário. Continuarão oscilando em todas as áreas, e não é da indústria que sairá o impulso para a recuperação. Ela vai melhorar devagar.

É sobre o cenário de uma economia fria e com inflação em queda que o Banco Central vai se reunir na semana que vem para reduzir os juros. Mas mesmo com o corte, as taxas permanecerão muito altas.

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