quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Mudança de clima - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

• Temer está forte, seu maior flanco agora é crescimento

Há uma pitada de ideologia, ainda resistente, mas não é nova, já existia com o PT no poder; um naco considerável de viuvez política; mais ainda de campanha à deriva para as próximas eleições sem ter adversário definido. Portanto, muita capacidade de fazer barulho. O fato, porém, é que apesar disso Michel Temer está conseguindo tornar seu governo uma realidade.

Tem força inédita no Congresso Nacional que lhe permitiu, em tão poucos meses, realizar uma obra e oferecê-la ao país sem receio de estar fazendo propaganda enganosa. E sem evitar a impopularidade com que o eleitorado o premia mês a mês.

A situação política, com Operação Lava-Jato e tudo, tem ficado cada vez mais clara: Dilma Rousseff não volta ao governo, não há eleições presidenciais indiretas à vista ou fórmula mágica a que recorrer para trocar de novo o presidente da República antes do prazo. Se o Tribunal Superior Eleitoral cassar a chapa inteira da eleição de 2014, tirando o mandato da presidente (já afastada por impeachment) e do vice-presidente que assumiu a Presidência, será agora uma surpresa.

É impossível imaginar um governo que tenha, na etapa final de seu mandato-tampão, no cargo de presidente, os deputados Rodrigo Maia, Jovair Arantes ou Rogério Rosso. Nem a possibilidade Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, consegue tornar provável a hipótese de um governo de complemento do complemento. A pinguela da pinguela.

O mais provável é que Temer prossiga até 2018 e vá formando novas equipes à medida que seus ministros forem caindo na teia das delações premiadas da corrupção. Três colaboradores dos mais próximos e importantes do governo, dois com gabinete no Palácio do Planalto, caíram: o ministro Geddel Vieira Lima e José Yunes, e o senador-ex-ministro Romero Jucá. Temer seguiu, impávido.

Com um Ministério Público de poder superdimensionado, que não admite regras de controle da atuação de seus promotores, fechados em bunker empunhando uma espada sobre a cabeça do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, cuja existência nas delações premiadas já se começou a mencionar, é como vai seguir o baile. Temer não poderá ser destituído nem por esse poder extraordinário que considera uma agressão pessoal aos seus componentes qualquer crítica, reparo ou desagrado.

Pode até piorar a economia e o mal estar geral com o governo Michel Temer, embora já haja apostas de melhora no horizonte. O governo tem lastro constitucional e político e é praticamente impossível detê-lo.

Nem os adversários mais radicais veem agora solução para tirar Michel Temer. "Se ele atravessar o ano fará um governo muito ruim, mas se não atravessar é pior ainda", diz um realista oponente, completando seu raciocínio de maneira surpreendente: "Se eles fossem devolver o governo para o PT, agora, o PT devia dizer que tirar o seu governo foi uma grande patifaria e devolver seria uma canalhice maior ainda".

A esquerda, o PT e o centro que formou a base do governo petista não têm proposta para enfrentar a atual situação. Também ainda não têm candidato para 2018. Luiz Inácio Lula da Silva precisa da liberação dos habitantes do bunker. Quanto a Ciro Gomes, o que propõe? Vai fazer o mesmo que Lula fez e que já se esgotou.

A solução do PSDB não foi mostrada ainda, certamente porque não existe. Estão todos no rearranjo interno, perscrutando o futuro.

O PT e a esquerda, nessa revisão de sua trajetória política para se reapresentarem, estão fazendo um cálculo que, de tão simples, chega a ser simplório. Decidiram defender os pobres e seus direitos, contra a direita, os conservadores cujo objetivo seria acabar com tudo de bom feito por eles para o eleitorado. É uma agenda confortável e a ela se agarrarão todos. No discurso fica fácil, não exige compromisso com o concreto, encontrarão apoio na sociedade.

A Operação Lava-Jato alimenta também a falsa ilusão de que o dinheiro vai sobrar com o combate à corrupção. Vai sobrar para a Previdência, para a saúde, para a educação, para as passagens de ônibus, para o emprego, para os aposentados. Assim, será possível gastar muito mais. O PT vai se ligar a essa fantasia.

O PSDB está em situação difícil e tem demonstrado isso na sua divisão interna. Torce para Temer dar certo e, ao mesmo tempo, torce para que não dê certo demais. Se der muito certo, o partido pode se inviabilizar na disputa e, se der totalmente errado, também estará fora da competição.

O PSDB não tem feito uma revisão tão profunda quanto o PT, que já iniciou a discussão de seus problemas a partir do debate com a militância, da base ao topo. Mas não se perde em contestações vãs, está voltado para a composição de suas forças.

A solução real, admitem todos, é que é necessário fazer reformas, consertar as contas (o ajuste é impopular porque corta muito de muitos) e retomar o crescimento da economia.

Esse é o resultado que o governo Temer vem conseguindo, com exceção da última dessas questões: já existiriam condições para acelerar medidas de crescimento e a equipe nota dez de Henrique Meirelles não está mobilizada para isso. Daí os ataques ao ministro da Fazenda, sua fritura promovida pelo DEM e pelo PSDB, uma forma de dizer a Michel Temer que seu único flanco ainda muito aberto é o do crescimento.

DEM e PSDB querem ter mais influência na economia, de forma a tornar mais confortável o ato de apoiar o governo sem restrições e ter melhor posição na sucessão presidencial.

Dizem, entre si, até que Meirelles não tem mais o domínio de nada, sequer faz as exposições sobre economia nas reuniões, e tem sido frequente o discurso principal estar com um de seus secretários ou economista convidado de fora.

Com uma intervenção nesse ritmo vagaroso, acreditam poder ousar em iniciativas de crescimento diante das quais a equipe econômica vacila. Até agora, porém, Michel Temer não deu um centímetro de espaço a tão audaz investida. A completar, há uma torcida geral do governo para que a queda da taxa Selic seja de 0,75%, hoje, mas o Palácio do Planalto festejará uma redução de 0,50%. Temer, inclusive.

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