sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A alternativa Meirelles em 2018 - César Felício

- Valor Econômico

• Hoje, o "outsider" seria o papa Francisco

Na hipótese improvável de a política econômica do governo de Michel Temer virar as expectativas do país, quem desponta como candidato governista em 2018 é Henrique Meirelles, e não o próprio presidente. De acordo com este cenário, que é apenas um entre tantos antevistos no momento, a reeleição não é viável nem mesmo no caso de uma gestão exitosa, do ponto de vista administrativo e milagrosa, em termos de marquetagem.

A conclusão de que Temer está atrás do ministro da Fazenda em viabilidade é do publicitário Renato Meirelles, dono do instituto de pesquisa Locomotiva, e parte de premissas que nada tem a ver com a articulação política de um e de outro: Temer é um político tradicional, Meirelles não. Caso a recessão se estanque, terá sido a segunda vez, em governos radicalmente opostos, que o fenômeno se dará com a participação do ministro da Fazenda. Será possível, neste caso, embalar Meirelles e vendê-lo como um técnico que serve ao país, e não a partidos.

O ministro da Fazenda poderia ser apresentado como o nome certo para continuar a retomada, o "outsider" permitido pelo sistema que sinalizaria com a luz no fim do túnel.

O publicitário não fala, mas o que torna Meirelles mais palatável que Temer nesta hipótese também é a distância, por ora, do ministro da Fazenda em relação ao turbilhão da Lava-Jato. A propagação da destruição que vem de Curitiba ainda não terminou e a passagem de Meirelles na presidência do Conselho Consultivo da J&F eventualmente poderá lhe provocar dissabores em tempos jacobinos como os atuais, mas é inegável que a zona de risco sobre Temer é muito maior.

A justaposição da maior crise econômica da história do país com a investigação do maior escândalo de corrupção do mundo produziu na opinião pública um repúdio ao mundo político e uma equação difícil de se resolver.

Em levantamento feito pelo Locomotiva em dezembro, 84% dos entrevistados não souberam dizer o nome de uma pessoa sequer merecedora de confiança. O mais citado de todos se veste de branco, é argentino e mora no Vaticano. O Papa Francisco foi citado como a solução nacional por 6% dos entrevistados.

Cruzando com pesquisas qualitativas, Meirelles concluiu que é forte na opinião pública a crença, ainda que equivocada, de que a raiz da crise econômica está na corrupção e predominante a tendência dos pesquisados de atribuírem a este fator frustrações e dificuldades pessoais de ordem econômica.

A soma destes dados indica que a população anseia por um "outsider", mas regras do arranjo institucional brasileira impedem que este ser estranho chegue ao cenário eleitoral fora do jogo partidário. Quem possui uma estampa nova sai com grande vantagem, mas precisa ter padrinho forte. Parece ser uma novidade de peso para 2018, mas só parece. Este era o caso de Dilma em 2010, o de João Doria na prefeitura de São Paulo no ano passado e o de Fernando Haddad na eleição paulistana em 2012.

O "outsider" ideal precisa falar para diferentes públicos. Terá que colher adesões no antipetismo e na massa de cerca de 60% de pesquisados que hoje rejeitam a administração de Temer. É o dado definitivo que elimina as chances de Jair Bolsonaro. É algo que mantém no jogo Marina Silva e que pode permitir o ingresso de Roberto Justus e Joaquim Barbosa.

Governismo
Com Rodrigo Maia e Eunício Oliveira no comando do Congresso, o presidente Michel Temer consegue a dupla mais governista no manche do Legislativo em décadas. Não haverá um novo Ulysses, Ibsen, Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Severino Cavalcante, Aécio, Garibaldi, Cunha ou Renan para causar os sobressaltos e os golpes por vezes fatais que estes causaram em vários presidentes da redemocratização. Ambos prometem ser duas correias de transmissão do Planalto entre deputados e senadores.

O avanço da Lava-Jato não tem detido a ação reformista de Temer, e mesmo com a sombra da suspeita crescendo sobre a própria pessoa do presidente, tampouco é certo que o fará.

Não é impossível que a delação da Odebrecht nas mãos de Fachin promova um travamento geral do sistema político, paralisando o Congresso e o governo, mas as reformas mobilizam interesses econômicos que transcendem as necessidades de Temer e seus aliados. O próprio presidente é uma correia de transmissão desses interesses.

Se a política econômica fracassar em "colocar o país nos trilhos", como o presidente gosta de dizer, dificilmente terá sido por esta razão e com certeza não será por sabotagem no Congresso. A reforma da previdência, complemento da limitação de gastos, é de difícil digestão por si mesma.

Contraste
A reforma trabalhista ganha relator na Câmara, o deputado federal Rogerio Marinho (PSDB-RN), que na Comissão Especial que analisou o impeachment chamou a atenção pela dureza com que se manifestou. Comparou o PT ao nazismo e ao stalinismo, ligou o Foro de São Paulo à Escola de Frankfurt, Gramsci e a Lava-Jato. Um ano antes, em 2015, apresentou um projeto de lei prevendo até um ano e meio de prisão para o professor que condicionasse o aluno a adotar determinado posicionamento político, partidário ou ideológico, dando nota baixa nas avaliações escolares.

Na Câmara, Marinho exerce a presidência da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Comércio, Serviços e Empreendimentos, "integrada por 237 parlamentares de pensamento liberal", como esclarece uma nota da Associação Comercial do Paraná postada em agosto último. No Senado, quando começou a tramitar o projeto que regulamenta a terceirização, o então presidente da Casa Renan Calheiros escolheu o petista Paulo Paim. O contraste não poderia ser mais eloquente.

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