sábado, 4 de fevereiro de 2017

Petista sinaliza a Temer que está disposto ao diálogo

• Presidente visitou Lula na noite de quinta no Hospital Sírio-Libanês

Lula diz a Temer lamentar ruptura de diálogo com Fernando Henrique

Catia Seabra, Marina Dias | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao presidente Michel Temer que lamenta não ter conversado mais com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao longo dos anos.

Na noite quinta-feira (2), ao receber a visita do presidente no hospital Sírio-Libanês –onde sua mulher, Marisa Letícia, foi internada– Lula se disse disposto a dialogar com Temer sobre reforma política e agenda econômica.

No encontro com Temer, o petista lembrou que, por várias vezes, ele e FHC desenharam uma aproximação. Mas que, por culpa dos dois, o movimento nunca se concretizou.

O petista citou também a viagem em que, a convite da então presidente Dilma Rousseff, ele, FHC, e os ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney foram ao enterro de Nelson Mandela, na África do Sul. Reunidos, os ex-presidentes concordaram que seria necessário conversar mais. O encontro, no entanto, nunca se repetiu.

Visivelmente comovido com a iminência da morte de sua mulher, Lula elogiou a atitude de FHC, que o visitara sete horas antes. Segundo o senador Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Lula afirmou que a visita de FHC é "um exemplo pedagógico para os jovens".

Por várias vezes, Lula afirmou que pretende conversar com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, presente ao encontro. Ele aconselhou Temer a mudar o argumento adotado em defesa da reforma previdenciária.

Segundo Lula, é um erro afirmar que a Previdência Social está quebrada. O correto seria alegar que a aposentadoria das futuras gerações está em jogo.

Na conversa, Lula insistiu que as divergências políticas não podem impedir o diálogo. Lula deu um abraço no ministro José Serra (PSDB) dizendo que tinham uma boa relação pessoal, embora tenham disputado uma eleição presidencial.

Ele chamou Sarney, presente ao encontro, de amigo. Ainda segundo participantes, Lula relatou ter recebido horas antes a visita da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP). À comitiva liderada por Temer, reproduziu o que dissera a Marta.

"Para mim, não interessa que você tenha brigado com o PT aqui [de São Paulo]".

Lula citou ainda o ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) –morto em 2014 num acidente aéreo. Disse que Campos criticava sua política de fomento da economia. Lula defendeu sua agenda econômica, alegando ter permitido o aquecimento da indústria brasileira.

A conversa com Temer consumiu 18 minutos. Só depois, Lula foi informado que o presidente fora chamado de "assassino" por um grupo de militantes petistas na chegada ao hospital.

Informado do contratempo, Lula reclamou com amigos. Disse aos aliados que não gostaria de transformar o momento das condolências em um "espetáculo de intolerância". Ele também afirmou que os petistas deveriam servir de modelo contra o ódio. A seu pedido, militantes e sindicalistas foram orientados a deixar a portaria do hospital.

Na tarde desta sexta (3), Lula recebeu Dilma. Ao lado do empresário Josué Gomes, Lula e Dilma lembraram da luta travada contra o câncer pelo ex-vice-presidente José Alencar, que morreu em 2011. Na conversa, Lula e Dilma afirmaram que Alencar fora um guerreiro. Lula confessou que se arrepende até hoje de não ter insistido para que Alencar fosse à sua posse em 2007.

Filho de Alencar, Josué revelou ter comprado um sapato novo para que Alencar participasse da posse. Mas disse que sua mãe nunca permitiria que o pai, doente à época, cometesse essa extravagância. O sapato nunca foi usado.

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