quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Por acordo, Eunício Oliveira manterá dinastia do PMDB no Senado

• Senador cearense terá papel-chave para aprovação de reformas de Temer

Cristiane Jungblut, Leticia Fernandes e Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- No ano em que devem ser votadas reformas consideradas fundamentais pelo governo para a retomada da geração do emprego e equilíbrio das contas públicas, como as reformas trabalhista e da previdência, o Congresso deverá ser comandado pelo senador peemedebista Eunício Oliveira (CE), dando continuidade à dinastia do partido do presidente Michel Temer no comando da Casa. O PMDB tem o controle do Senado e do Congresso desde a promulgação da Constituição de 1988, sendo que, a partir de 2001, venceu todas as disputas no Senado. A eleição ocorre hoje.

Amanhã, será a vez da eleição na Câmara, onde Rodrigo Maia deve ser reconduzido ao cargo, embora dependa da decisão do Supremo Tribunal Federal, que deverá julgar ainda hoje os recursos contra sua candidatura e enfrente outras candidaturas. Tanto Maia quanto Eunício são citados em delações da Operação Lava-Jato como supostos beneficiários de propinas do Petrolão.

Reuniões e jantares na casa de senadores nos últimos dias levaram ao fechamento de um suposto acordo em torno de chapa única para a eleição do novo comando do Senado e a substituição de Renan Calheiros (PMDB-AL) pelo líder peemedebista. O PMDB filiou mais dois senadores, alcançou maioria absoluta de um quarto da Casa. Os principais caciques do PMDB, entretanto, estão no olho do furacão com o avanço das delações premiadas da Operação Lava-jato, e a estratégia é blindar o partido.

Toda a articulação dos últimos dias foi para garantir ao PMDB os principais cargos com Eunício Oliveira na presidência do Senado, mais dois cargos fortes na Mesa, Renan na liderança para comandar as articulações políticas e a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma espécie de fortaleza para o embate com o Judiciário, entregue a um senador com coragem para reagir como Renan reagiu quando o Supremo Tribunal Federal (STF) o destituiu do cargo. Depois da presidência, esse é o cargo mais disputado entre Renan e Eunício, que quer o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), mas o atual presidente trabalha por Edison Lobão (PMDB-MA) e Eduardo Braga (PMDB-AM).

Essa estratégia, entretanto, não inclui um plano “B” caso o Supremo, em sessão marcada para o mesmo horário da eleição de Eunício, delibere que presidentes de poderes como Senado e Câmara terão que sair do cargo caso sejam transformados em réu. Tudo parecia acertado ao final de articulações frenéticas na noite dessa terça-feira. Mas uma inquietação pairava nos gabinetes do PMDB e aliados ontem a noite.

A inquietação entre os caciques do PMDB aumentou na segunda-feira, quando a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, agilizou a tramitação da Lava-jato no tribunal, homologando a delação dos 77 executivos da Odebrecht que atinge a vários partidos, mas principalmente o PT e PMDB. Tanto o governo quanto o PMDB esperavam ganhar tempo com a morte do ministro Teori Zavascki. Com a homologação, agora o receio maior é da derrubada do sigilo na Procuradoria Geral da República.

— O temor maior do PMDB é com o que vem aí pela frente. Dependendo do que vier, não tem blindagem que segure. A inquietação é grande — disse um interlocutor de um senador governista no meio da tarde.

Único peemedebista que não apoia a eleição de Eunício, em um jantar da bancada com o ainda líder na noite de segunda-feira, na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) , o senador Roberto Requião se meteu em um bate boca com os colegas e disparou:

— Vocês todos estão com medo da Lava-jato e querem impedir o debate com outros candidatos a presidência do Senado.

Se o pior acontecer e o provável futuro presidente Eunício Oliveira for impedido de continuar no cargo por complicações na Lava-jato, cai toda a composição da Mesa . O provável futuro vice-presidente Cássio Cunha Lima ( PSDB-PB) teria que assumir e coordenar uma nova eleição para escolha de novo presidente e nova Mesa.

Apesar de reunir o maior número de partidos em torno de si, Rodrigo Maia não conseguiu, ao menos oficialmente, o apoio do PT, segunda maior bancada da Câmara. Ontem, a despeito das tratativas avançadas com o atual presidente, os petistas decidiram apoiar o candidato André Figueiredo (PDT-CE) e pretendem formar um bloco de oposição para se contrapor ao de Maia. O PCdoB já anunciou que votará no atual presidente, e o PSOL deverá decidir hoje se marchará ao lado do PT ou se lançará candidato próprio.

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