sábado, 11 de março de 2017

A queda que é positiva - Míriam Leitão

- O Globo

A semana foi pesada, com a constatação do tamanho da queda da economia, mas terminou com uma lufada de vento fresco: a inflação caiu mais ainda. Em fevereiro, ficou abaixo do esperado e agora o acumulado está em 4,76%. Os economistas estão refazendo seus cálculos e acham que o índice deve terminar o ano em 4% ou até abaixo disso. Isso permite a queda mais forte dos juros. Há sinais de recuperação.

A inflação vai continuar caindo em 12 meses. Vai chegar ao centro da meta em março, depois deve ficar abaixo de 4% por volta de agosto. Então volta a subir ligeiramente. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco divulgou, ontem, após a divulgação dos 0,33% de fevereiro, que recalculou a taxa do ano para 3,9%. Já havia outros bancos e institutos acreditando em algo em torno de 4%, abaixo da meta.

A inflação quando cai não resolve os problemas, mas torna mais fácil enfrentá-los. A Selic descerá mais forte e isso fará efeito no segundo semestre. Este primeiro semestre será ajudado pela agropecuária. E assim lentamente vamos saindo da recessão que nos empobreceu por dois anos e meio.

Papel ondulado embrulha mercadorias. Quando elas circulam mais, requerem mais embalagem. Por isso, o setor é olhado por quem quer saber a direção do vento. O diretor da Associação Brasileira de Papelão Ondulado Sérgio Ribas contou o seguinte:

— Já tivemos um crescimento de 5,33% em janeiro e agora em fevereiro tivemos outra alta de 3,7%. Foi um crescimento forte e não esperado. Março também não está ruim. Estimamos um primeiro trimestre forte.

Ouvi dois economistas esta semana na Globonews, Rodrigo Melo, do Icatu, e Silvia Matos, da Fundação Getúlio Vargas, e ambos falaram que a recessão ficou para trás. A FGV acha que o primeiro trimestre pode ser de alta de 0,3% do PIB e que em todos os trimestres haverá alta, ainda que pequena. Rodrigo acha que o primeiro pode ficar entre 0,5% e 0,7%.

— Todos os números são de crescimento nos trimestres de 2017. Talvez um pouco melhor no final do ano. Ainda temos muita incerteza, mas acredito que se chegue ao fim da recessão no primeiro tri. A agricultura vem forte no primeiro. No segundo, o crescimento é mais espalhado, está na indústria, mas também em parte dos serviços. O FGTS que está sendo liberado pode ajudar o consumo no segundo trimestre — diz Matos.

— Temos expectativa de alta de 0,5% para o ano. No primeiro trimestre estamos mais otimistas que a FGV, mas por uma questão metodológica. É difícil calcular o impacto do PIB agrícola, por isso dá essa diferença nas previsões — explicou Rodrigo Melo.

A recessão pode estar ficando para trás, mas o crescimento ainda vai demorar. Com a herança estatística fortemente negativa, o país terá que crescer 1% para chegar a zero e só acima disso o número de 2017 será positivo. Armadilhas da estatística, mas é assim. E, quando os economistas dizem que estão otimistas sobre 2017, estão falando de crescimento pequeno de 0,5% a 1% no máximo. E um quadro de desemprego ainda muito difícil. A FGV acha que o ambiente ficará melhor para o emprego durante o ano, mas o primeiro movimento das empresas será aumentar as horas de quem já está trabalhando. Silvia Matos acredita que o desemprego começará a cair no fim do ano, apesar de dizer que mesmo em 2018, quando o ambiente melhorar, ainda ficará alto, em torno de 10% a 11%.

Enfim, a semana termina com sinais de melhora na indústria e na inflação, mas foram dias de ver o quanto o país empobreceu nesta crise.

Nenhum comentário: