segunda-feira, 27 de março de 2017

Apoio ao governo sobe com avanço das reformas | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Melhor avaliação do governo não é transferida a Temer

O governo Temer aproxima-se do ponto de inflexão para um fortalecimento cuja confirmação dependerá principalmente da posição que assumir perante as críticas de um seleto grupo de apoiadores - os empresários - que rejeitam a intenção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de aumentar impostos para alcançar a meta fiscal deste ano, um déficit primário de R$ 139 bilhões, discordam da orientação das políticas do BNDES e desaprovam a liberação de recursos para emendas parlamentares como moeda de troca para obter os votos necessários para a aprovação de suas propostas no Congresso.

Esse ponto de inflexão começou a ser delineado, nos últimos dez dias, por uma sutil mudança na opinião pública sobre três questões nacionais - reforma da previdência, reforma trabalhista e Operação Carne Fraca. Se confirmada, a aprovação da população às principais decisões dá ao governo a oportunidade de conquistar um batalhão de novos aliados que podem fazer diferença na velocidade de implantação de medidas fiscais fundamentais para que a economia brasileira volte a crescer.

Uma dessas questões, a Operação Carne Fraca, pode potencializar a imagem positiva do governo. Essa operação despertou críticas da população à Polícia Federal na ação que envolveu frigoríficos e fiscais na liberação de licenças sem a devida inspeção das carnes e sob pagamento de propinas. Embora predomine o apoio à Operação Lava-Jato, sustentado na semana pelo aniversário de três anos das investigações, o que motivou os internautas a enaltecerem as conquistas, um flanco à críticas menos benevolentes foi aberto.

A Operação Carne Fraca registrou um Índice de Positividade (IP) de 65% na semana encerrada na quarta-feira, resultado muito favorável ao governo. No primeiro momento, a ação justificou elogios à Polícia Federal pela vigilância à qualidade dos produtos oferecidos no mercado interno. Rapidamente, porém, esse sentimento foi substituído pelo temor de impactos na economia e aumento do desemprego que acabou por revelar uma população interessada em defender o crescimento econômico e a recolocação dos brasileiros no mercado de trabalho.

O Índice de Positividade Brasil, lançado e monitorado pela consultoria.Map, é composto pelos subitens IP Política, IP Economia e IP Bem-Estar. Com o objetivo de identificar as questões nacionais mais debatidas pela sociedade e a opinião que se forma sobre elas, o IP é calculado a partir da análise de uma base semanal de 1 milhão de posts publicados nas redes sociais e 250 artigos de opinião na imprensa tradicional.

Na última edição do IP Brasil fechada na quarta-feira - publicada com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor - a.Map explica que o receio da população com os efeitos da Carne Fraca na economia recrudesceu com as críticas à condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães - procedimento que explica críticas também ao juiz Sérgio Moro. No rastreamento dos debates feito pela.Map nas redes sociais, internautas alegavam que o processo foi inconstitucional e um atentado à liberdade de imprensa, tendo em vista que o sigilo da fonte é protegido por lei.

Esta mesma edição do IP Brasil mostra que a opinião pública deu uma resposta muito positiva ao governo sobre a importância das reformas. A imagem do governo teve uma promoção incomum, com seu Índice de Positividade (IP) consolidado na marca de 66%, a maior da série histórica iniciada em junho de 2015. Esse resultado foi decisivo para importante melhora do IP Índice de Positividade Brasil (IP Brasil) que subiu a 44% na semana encerrada no dia 22, vindo de 29% da semana anterior.

As reformas foram destaque também devido à convocação para as manifestações deste domingo, 26 de março, pelos movimentos populares. Os movimentos "Vem Pra Rua" e "Movimento Brasil Livre" - responsáveis pelas manifestações de milhares de pessoas a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff - defendem agora a Operação Lava-Jato e a agenda de reformas de Temer.

O apoio à reforma da Previdência sofreu um baque. Em uma semana, o Índice de Positividade caiu de 31% para 15%. Mas a queda não traduz o aumento do número de brasileiros contrários à proposta do Executivo, mas a reprovação da decisão do governo de excluir servidores municipais e estaduais do projeto inicial.

Gabriel Sant'Ana Wainer, analista de Mídias da.Map, explica que a exclusão desses servidores é colocada, no debate virtual sobre a reforma previdenciária, como um recuo do governo no que diz respeito a um combate efetivo ao déficit da previdência. "A percepção desse nicho, dos favoráveis à reforma, é que não adianta aumentar a lista dos privilegiados, os que não sofrerão com as consequências da proposta. O sentido é muito claro: ou muda para todo mundo, ou não muda para ninguém. A exclusão dos servidores foi interpretada como se o governo estivesse beneficiando o funcionalismo ao poupá-lo de cortes", diz Wainer em entrevista à coluna.

A reforma trabalhista acabou tragada pela proposta de terceirização da mão na semana passada. Com sua aprovação na quarta-feira, a.Map ainda não dispõe de uma base de dados mais consistente sobre o tema. Wainer adianta à coluna que, até a sexta-feira, a terceirização dividia opiniões. "Ressurgiu, na rede social, um tuíte da Dilma em 2016 sinalizando que era muito importante regulamentar a terceirização. Dilma defendia a regulamentação da terceirização para atividade-meio, apenas, não para atividade-meio e atividade-fim, como foi aprovado. Esse post serviu para dar argumentos aos favoráveis à reforma, que passaram a apontar o projeto da terceirização como gesto puramente político."

A.Map nota que a consolidação do IP do governo Temer se explica pelo retorno ao debate da parcela da opinião pública que deixou de se manifestar após a posse definitiva do presidente, no fim de agosto passado. "Os apoiadores do governo voltam a se expressar e a favor das reformas, mas isso não quer dizer que a imagem do presidente, em si, melhore. A avaliação positiva do governo Temer deriva da 'retomada' das manifestações que tendem à direita, no sentido da expectativa de melhora econômica."

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