segunda-feira, 6 de março de 2017

Lavagem eleitoral – Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Caixa um, caixa dois e uma modalidade híbrida foram os mecanismos de doação eleitoral citados pelo empresário Marcelo Odebrecht no depoimento de quatro horas que deu ao ministro Herman Benjamin, do TSE, na quarta (1º).

O grupo Petrópolis, que faz a cerveja Itaipava, é o personagem central da terceira categoria de repasse.

Segundo Odebrecht, a cervejaria do Rio serviu como laranja para esconder milhões de reais destinados pela empreiteira à eleição de 2014.

Também em depoimento ao TSE, Benedicto Júnior, o BJ, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, foi mais sincero e chamou a manobra de caixa dois "travestido" de caixa um. De acordo com ele, a empreiteira doou a campanhas, por meio do grupo Petrópolis, R$ 40 milhões.

A prestação de contas ao TSE sobre a disputa de 2014 aponta que a cervejaria gastou R$ 57,2 milhões.

A campanha de Dilma Rousseff foi a mais agraciada, com R$ 17,5 milhões. O PMDB de Michel Temer levou R$ 14 milhões, sendo R$ 11 milhões para o cofre da direção no Rio. DEM, PSB, PTB, PDT, PC do B e PSB também garantiram seu quinhão.

Na avaliação de investigadores, o caixa dois pode ser caracterizado porque a operação ocultou o verdadeiro doador -no caso, a Odebrecht.

Os beneficiados e a cervejaria argumentam que o repasse foi declarado. A alegação é defensável, mas, além da confissão da Odebrecht, a origem do dinheiro também pode complicar a vida dos dois lados.

A Lava Jato descobriu que a Odebrecht e o grupo Petrópolis operaram no exterior utilizando contas em paraíso fiscal. A empreiteira depositava lá fora para a cervejaria, que repassava a políticos no Brasil.

Basicamente, recursos oriundos de corrupção para pagar propina foram enviados ao exterior e retornaram pelas mãos da cervejaria. Para quem investiga, é um grave indício de que um engenhoso e ousado esquema de lavagem de dinheiro bancou boa parte das eleições de 2014.

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