sábado, 22 de abril de 2017

Alvo de delatores, Pimentel diz que justiça foi solapada por acusações

Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Acusado por delatores da Odebrecht de receber R$ 13,5 milhões para defender interesses da empreiteira, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), afirmou que a liberdade e a justiça foram "solapadas por uma teia de acusações que lembra as alcovas da Conjuração Mineira".

O governador discursou na cerimônia da Inconfidência, em Ouro Preto, que lembra a morte de Tiradentes em 21 de abril. "Naquele episódio fundante da nossa nacionalidade, Tiradentes foi protagonista involuntário de um espetáculo e não de um processo justo", disse em meio a aplausos e gritos de "Fora, Temer".

"As acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusadores morrem, mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada é incontornável e irreparável. [...] Quando uma sociedade se rende aos clamores de vingança, ela se rebaixa e deixa de ser republicana e democrática", afirmou sem mencionar a Operação Lava Jato.

Pimentel, que foi denunciado na Operação Acrônimo e responde a processo eleitoral, também fez críticas ao Judiciário. "O devido processo penal não pode ser atropelado pela ansiedade de condenar, de execrar, de justiçar. O sistema jurídico perfeito não é aquele que se alimenta de estardalhaços, mas silenciosamente não teme encarar os fatos e as provas, e não apenas as versões, e constrói suas decisões com serenidade e isenção."

O pedido de investigação de Pimentel com base nas delações da Odebrecht foi enviado para o STJ (Superior Tribunal de Justiça). Na época do suposto pagamento, o governador era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na gestão Dilma Rousseff. Ele afirma que jamais recebeu benefícios ou valores ilícitos da empreiteira.

Pimentel foi o orador da cerimônia que homenageou o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência. O ex-presidente Lula chegou a ser convidado para discursar no evento, mas desistiu. Outras 170 personalidades receberam medalhas.

Exaltando a convivência com as diferenças, defendida por Mandela, o governador afirmou que ódio e a intolerância "enredaram o país em uma discórdia sem fim". Pimentel disse ainda que é preciso "ir adiante na luta pelos direitos dos atingidos pela recessão econômica, pelas tensões sociais e pela fragilização do sistema politico".

"Falo também das perseguições políticas, religiosas ou raciais, muitas delas respaldadas por processos claramente parciais, onde a violência e o desrespeito se ocultam através de ações espetaculosas nas quais a intenção de justiçamento e não de justiça fica cada dia mais evidente", completou.

HOMENAGEADOS
Pimentel homenageou seis governadores com a Grande Medalha da Inconfidência, mas somente Renan Filho (PMDB), de Alagoas, compareceu. Ele também foi mencionado por delatores da Odebrecht, assim como Rui Costa (PT), da Bahia, Flávio Dino (PC do B), do Maranhão, e Tião Viana (PT), do Acre. Os demais homenageados foram Camilo Santana (PT), do Ceará, e Ricardo Coutinho (PSB), da Paraíba.

Os governadores negam ter recebido valores ilícitos da Odebrecht.

Movimentos de esquerda, como o MST, e sindicalistas da CUT tiveram o acesso à Praça da Inconfidência, onde ocorreu a cerimônia, restringido e protestaram nas proximidades contra as reformas desenhadas pelo governo federal.

Um total de 134 homenageados compareceu à cerimônia. Entre os agraciados estavam dois deputados federais, oito estaduais, os comandantes da Polícia Militar e da Polícia Civil de Minas, além de prefeitos, desembargadores, artistas, procuradores, secretários e militares.

Criada em 1952 por Juscelino Kubitschek, a Medalha da Inconfidência tem quatro graus de designações —Grande Colar, Grande Medalha, Medalha de Honra e Medalha da Inconfidência.

Veja alguns homenageados:
• Fábio Augusto Ramalho dos Santos (PMDB-MG), deputado federal (não compareceu)
• José Saraiva Felipe (PMDB-MG), deputado federal
• Cláudio Couto Terrão, presidente do Tribunal de Contas de MG
• Antônio Sérgio Tonet, procurador-geral de Justiça de MG
• Fernanda Takai, cantora
• Letícia Sabatella, atriz (não compareceu)
• Marieta Severo, atriz (não compareceu)
• Wagner Moura, ator (não compareceu)
• Camila Pitanga, atriz (não compareceu)
• Mano Menezes, treinador
• Gregório Duvivier, artista (não compareceu)
• Joanna Maranhão, atleta
• Samuel Rosa, cantor
• Marilena de Souza Chauí, professora da Universidade de São Paulo
• Bernardo de Mello Paz, presidente do Inhotim
• Beatriz da Silva Cerqueira, presidente da CUT-MG
• Raduan Nassar, escritor

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