sexta-feira, 21 de abril de 2017

Defesa de Lula | Miriam Leitão

- Globo

A estratégia de defesa do ex-presidente Lula foi desmontada. Seus advogados, desde o início, centraram ataques no juiz Sérgio Moro, dizendo que o magistrado o perseguia e cometia abusos. A delação da Odebrecht desmontou a estratégia e ontem a fala de Léo Pinheiro acabou de soterrá-la. O ex-presidente da OAS disse que Lula era dono do apartamento do Guarujá: “Usei valores de pagamento de propina.”

A partir de agora, Lula terá que encontrar outros argumentos em vez de ser um perseguido pelo juiz Sérgio Moro e pela imprensa. Seus advogados estavam em explícito confronto com o magistrado, e Lula, em suas declarações, tentava passar a ideia de que estava ansioso para ficar frente a frente com Moro e que o enfrentaria. Desde as delações da Odebrecht, contudo, o assunto foi muito além de Curitiba.

Lula está agora em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), além dos processos a que responde junto à 13ª Vara Federal, em Curitiba. Há ainda a ameaça de o ex-ministro Antonio Palocci fechar o seu acordo de delação. Mas o que caiu como uma bomba sobre o ex-presidente foi a declaração inesperada do seu amigo da OAS. Esse caso, o do apartamento do Guarujá, é apenas uma das frentes de problemas que Lula tem que enfrentar para se defender dos processos em que é réu, e das investigações em que é suspeito. Mas depois das delações da Odebrecht e da declaração do ex-presidente da OAS, Lula e seus advogados estão num beco sem saída.

A Odebrecht também havia montado uma estratégia inicial de confronto com Sérgio Moro, como se o juiz desrespeitasse as leis e os direitos constitucionais dos executivos da empresa. Os defensores de Marcelo Odebrecht chegaram a ameaçar denunciar Moro em cortes internacionais. Já se sabe o fim da história. Na semana passada, com outra postura, novos relatos e outro tom de voz, Marcelo Odebrecht sentou-se em frente a Moro e confessou crimes. Antes disso, já havia prestado os mesmos depoimentos à Procuradoria-Geral da República em Brasília.

No dia 3 de maio, Lula vai estar com o juiz Sérgio Moro. Ele afirmou que dirá, então, tudo o que pensa. Tomara que diga tudo o que pensa, tudo o que fez, tudo o que sabe. Antes, ele atacava Moro e a Operação Lava-Jato como se fosse vítima de alguma idiossincrasia da “República de Curitiba”. “A Lava-Jato nem precisa de um crime, pois ela tenta achar alguém e depois colocar um crime em cima do criminoso”, disse Lula em março.

Abril foi devastador para o ex-presidente. Seu nome foi falado explicitamente por vários dos delatores da Odebrecht, principalmente os mais poderosos na empresa, incluindo-se o ex-presidente Marcelo e o patriarca Emílio. O custo do que se pagaria a ele era tão alto, que a empresa usou técnicas das boas práticas contábeis e fez um provisionamento numa conta de R$ 35 milhões apenas para futuras demandas.

Mesmo assim, a defesa do ex-presidente continua na mesma linha. Isso depois de inúmeras audiências em que os advogados fizeram provocações claras, à espera de que o magistrado perdesse o controle, o que acabou não acontecendo. A decisão da juíza Maria Cristina Ernandes Veiga Oliveira, de São Paulo, de absolver todos os acusados no caso Bancoop deu a eles 24 horas de alívio. A fala de Léo Pinheiro exibiu toda a trama por trás do apartamento na Bancoop.

No sítio de Atibaia há complicações até para o velho amigo e advogado de Lula, Roberto Teixeira, que teria se reunido com dois funcionários da Odebrecht para forjar um documento sobre o valor e a responsabilidade da reforma no sítio. Como o suposto dono seria Fernando Bittar, foi preciso subfaturar o valor real da obra e declarar menos do que ela realmente custou, segundo contou Emyr Costa, engenheiro da empreiteira.

Há processos, investigações e delações que o cercam de dúvidas e suspeitas. Portanto, se quer mesmo se defender, Lula precisa instruir seus advogados a mudar a estratégia. Há uma coleção de indícios, suspeitas, documentos e declarações contra ele. Ele não é um perseguido. É um réu que tem explicações a dar.

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