domingo, 9 de abril de 2017

O infalível - Ranier Bragon

- Folha de S. Paulo

Deve haver alguma coisa na água servida nos palácios que leva as pessoas a pensar habitar uma espécie de mundo paralelo.

Ou talvez sejam as sabujices simbolizadas no fato de que o sujeito ficará quatro anos sem precisar nem sequer tocar a maçaneta da porta.

Só isso pode explicar a empáfia de Michel Temer ao dizer, em entrevista à Folha, não ter cometido nenhum erro nos seus 11 meses de gestão.

"Eu cometi acertos." E acertos derivados de "coragem" e "ousadia".

Temer assumiu o poder em maio de 2016 com a ousadia, é impossível lhe negar esse mérito, de enfiar um "sê-lo-ia" logo no discurso de posse.

Nomeou um ministério composto exclusivamente por 23 homens, todos brancos. Seis deles cairiam como pinos de boliche nos meses seguintes em meio a polêmicas e suspeita de corrupção. Outros continuam na pontinha da tábua do navio.

Há um ano o Datafolha mostrava que quase 60% da população defendia o "fora, Temer" mesmo antes de ele dar o pontapé inicial.

Ele entrou em campo, cometeu toda a infinidade de acertos corajosos e ousados que conseguiu e, faz uma semana, o Ibope mostrou que o percentual de brasileiros que acham o seu governo uma porcaria bateu recorde: 55% de ruim ou péssimo.

Temer parece apostar na hipótese de figurar no lado róseo da história pela aprovação do limite de gastos, da reforma da Previdência e de uma série de mudanças cristalinamente favoráveis ao mundo empresarial.

Nas palavras do amigo da onça Renan Calheiros (PMDB-AL), o governo Temer parece a seleção do Dunga. O que nos deixará uma dúvida talvez insolúvel. A de quem deve ter se sentido mais injuriado: se Temer por ter sido chamado de Dunga ou se Dunga por ter sido chamado de Temer.

Por suas palavras, Temer não se acha só um Tite, mas talvez um Rinus Michels. O problema é que, pelo visto, só os que estão dentro das cercas do palácio enxergam um carrossel holandês em sua gestão.

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