quarta-feira, 5 de abril de 2017

Pezão foi condenado a viver a ruína | Elio Gaspari

- O Globo

Nada funciona no Rio, só o gabinete do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, mas isso já é um consolo

Tendo vivido o esplendor da ilusão cabralina, quando foi secretário de obras e vice-governador, Luiz Fernando Pezão está condenado a viver sua própria ruína. Aquele teleférico do Morro do Alemão, que foi inaugurado duas vezes, está parado (Ele se entristecia quando era exposto ao ridículo das duas inaugurações). A política de segurança do xerife José Mariano Beltrame ruiu, as contas públicas jogaram o governador para a condição de pedinte, e os cidadãos a um período de decadência jamais visto. Sérgio Cabral está em Bangu, decidindo entre uma cana de 40 anos e a possibilidade de colaborar com a Viúva, cuja bolsa repetidamente assaltou. O coral dos poderosos da ilusão cabralina já tem dois doleiros, um ex-presidente do Tribunal de Contas, seu filho, e mais gente na fila.

Pezão está na situação dos hierarcas do stalinismo que moravam num imponente edifício perto do Kremlin. À noite, quando o elevador fazia barulho, os comissários acordavam temendo que tivessem vindo buscá-los. A administração do Rio está parada. Fica a impressão de que só dois gabinetes funcionam: o do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, e o do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça. Um encanou Cabral. O outro ouviu a melodia da colaboração de Jonas Lopes e de seu filho. O doutor Jonas presidiu o Tribunal de Contas do Estado, e sua cantoria resultou na prisão de cinco conselheiros (Em tempo, não se deveria chamar essas comissões de contas de “tribunal”, pois não o são).

Admitindo-se que Pezão tenha sido secretário de Obras e vice de Cabral sem ter desconfiado de nada, nem dos cortes de seus ternos Ermenegildo Zegna “su misura", Jonas e seu filho jogaram o governador na frigideira. O pai contou que, em 2013, Pezão mediou em sua casa uma acalorada discussão para definir o rachuncho das propinas. Num lance, em 2015, cada felizardo receberia R$ 60 mil mensais. Noutro, mordiam a comida dos presidiários.

Jonas Filho diz ter ouvido que parte do dinheiro mandado aos conselheiros foi desviada para atender a despesas pessoais de Pezão. Coisa de R$ 900 mil. Nesse aspecto, a suspeita é a um só tempo frágil e meritória. Frágil, porque nasce de um “ouvir dizer”. Meritória porque se Pezão recebesse apenas R$ 900 mil para cobrir despesas pessoais, seria um anacoreta na corte de Sérgio, o Magnifico.

O capilé de R$ 900 mil teria sido revelado a Jonas por Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho, subsecretário de Comunicação do governador. Ele estava no lote de celebridades estaduais levadas para a Polícia Federal na semana passada. Se a história do capilé é ou não verdadeira, só Marcelinho poderá dizer. De qualquer forma, ele terá algo a contar sobre o milagre da comunicação de Pezão, que navegava num estado falido com a pose dos canoeiros de Oxford.

Pezão e Marcelinho negam que tenham praticado qualquer malfeito e queixam-se da falta de acesso às narrativas de quem os acusa.

Graças ao juiz Bretas e ao ministro Fischer, a administração do Rio de Janeiro pode garantir ao detento Sérgio Cabral que ficou mais difícil roubar em cima das verbas de alimentação dos presidiários.

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