sexta-feira, 26 de maio de 2017

As emergências se atropelam e paralisam tudo | Celso Ming,

- O Estado de S.Paulo

A reforma política já é proposta que se pereniza. De já em já, ela é sempre reivindicada e nunca desengavetada. Por que será?

No discurso de posse de seu segundo mandato, em janeiro de 2007, o presidente Lula declarou solenemente que a reforma política passaria a ser prioridade de seu governo. Seria a melhor resposta para o escândalo do mensalão que estremeceu a nação em 2005. Já então, o argumento em defesa da proposta era o mesmo de hoje: o de que o atual sistema político, que está na raiz das crises e da corrupção endêmica, está esgotado e precisa mudar.

Não dá para conviver com 35 partidos e sabe-se lá quantos mais em formação, a maioria dos quais só existe para morder o fundo partidário ou faturar com venda de facilidades quando os figurões se apossam de instituições do Estado.

O atual sistema eleitoral ficou tão caro que não bastaram as cada vez mais generosas contribuições das empresas, agora proibidas. Passou a ser necessário pilhar empresas estatais, vender leis, decretos, alvarás, sentenças de juízes, atuação de procuradores e tanta coisa mais.

Mas, desde lá atrás, a aprovação da reforma política não foi prioridade nem nada. Veio a Operação Lava Jato com tudo o que aconteceu e ainda está para acontecer e a reforma continua como clamor geral, mas não passa disso. Uma boa hipótese de explicação para essa enrolação é a de que os políticos eleitos e encharcados com essas cachaças não estão dispostos a largar o vício. Mas agora caíram no tonel e estão morrendo afogados dentro dele.

Nesta quinta-feira, a Fiesp e cada uma das instituições que representam os interesses dos empresários da indústria lançaram nova campanha que repete o nome e o slogan Reforma Política Já.

Esperava-se que a proibição pelo Supremo de que empresas jurídicas continuassem a contribuir para financiamento de campanhas eleitorais seria providência suficiente para moralizar a vida política. No entanto, as novas denúncias que envolveram as atividades da JBS mostraram que os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e de tanta coisa mais continuavam em pleno curso da Operação Lava Jato e, em casos já comprovados, proviam mesadas para os passarões e alpiste para passarinhos, alguns deles já condenados e presos.

Desta vez, alguma correção das regras da vida política terá de sair porque as empresas já não querem correr o risco de passar pelo mesmo desmanche pelo qual passam o grupo de Eike Batista, a Odebrecht, as demais empreiteiras e a JBS. Ou seja, as eleições de 2018 estarão logo aí e já não dá mais para concorrer com as atuais regras do jogo.

Uma reforma política em profundidade envolve inúmeros itens. Começa com a adoção ou não do sistema parlamentarista, passa pela questão da reeleição e da duração dos mandatos, inclui a escolha entre voto proporcional, voto distrital e voto em lista fechada e, naturalmente não pode excluir o financiamento de campanha. O que sairá nos próximos meses não se sabe.

As emergências desta e de outras reformas mais o apagamento dos incêndios se atropelam e já não há mais tempo para longas discussões. Ainda é preciso perguntar até que ponto os políticos estão interessados em largar a cachaça que lhes deu tantos pileques memoráveis.

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