quinta-feira, 11 de maio de 2017

Interesse por triplex era de Marisa, diz Lula a Moro

‘Certamente queria o apartamento pra fazer investimento’, diz Lula sobre Marisa e o interesse pelo triplex do Guarujá

Interrogado pelo juiz Moro, ex-presidente admitiu ter visitado o imóvel em 2014 com a ex-primeira dama e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Bruno Ribeiro e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Lula admitiu em interrogatório do juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira, 10, que esteve em 2014 no apartamento triplex do Guarujá acompanhado de sua mulher, a ex-primeira dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano), e do empreiteiro Léo Pinheiro.

Lula atribuiu à Marisa interesse pelo imóvel, ‘certamente para fazer investimento’, mas afirmou que não fez a compra. Segundo o ex-presidente, Marisa ‘não gostava de praia’ e ele próprio havia identificado ‘quinhentos’ defeitos no apartamento.

Moro questionou Lula se Marisa havia relatado a ele sobre a reforma do tríplex pela OAS.

“Ela disse que não tinha gostado do apartamento mais uma vez e como eu tinha insistido para ela que ela não gostava de praia e que eu gostava, sabe, mas que era inadequado para mim, eu acho que ela tomou a decisão de não comprar”, declarou.

Lula foi confrontado por Moro com o depoimento que deu à PF em março de 2016, quando foi conduzido coercitivamente. O juiz da Lava Jato disse que, na ocasião, o petista havia afirmado que ele próprio teria tomado a decisão de não ficar com o apartamento após uma segunda visita da Marisa ao imóvel.

“Eu repito a mesma coisa, eu apenas não tenho clareza se a Dona Marisa… a Dona Marisa não me disse no mesmo dia que ela foi lá que ela não ia ficar com a apartamento. Eu tinha mostrado para ela que era inadequado o apartamento, ela foi lá, acho que ela queria ver se podia ficar para vender, porque o apartamento, na verdade, é o seguinte, o apartamento nunca, nunca foi me oferecido antes da data que eu fui lá ver e quando eu fui ver, eu não gostei. É isso”, afirmou.

O magistrado quis saber ainda se o empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, informou que reformaria o apartamento.

“O Léo disse que depois ia voltar a conversar comigo, depois de todos os defeitos que eu disse, falou: ‘vou te fazer uma proposta’. E nunca mais conversei com o Léo”, contou. “Não, não relatou, querido. Lamentavelmente, ela não está viva para perguntar.”

Lula disse que não ia ficar com o apartamento ‘porque não tinha como ficar’.

“Esse motivo foi que eu não tinha solicitado e não quis o apartamento”, disse.

“Dr. eu vou repetir. O apartamento estava no nome da minha mulher. Eu tinha dito em fevereiro que não queria o apartamento. Ela certamente pensava qualquer coisa de fazer negócio se ela fosse ficar com o apartamento.”

Moro perguntou ao ex-presidente quantas vezes ele foi ao imóvel.

“Estive em 2014.”

“Quantas vezes?”, perguntou o juiz.

“Uma vez.”

“Pode descrever a circunstância, o motivo dessa visita?”

“O Leó esteve lá no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o triplex. Eu fui lá ver o apartamento e coloquei 500 defeitos no apartamento. Voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento.”

“O sr. se recorda quem foi junto nessa visita?”

“Eu e minha mulher.”

“Quem mais estava presente da OAS?”

“Ah, não sei, sei que estava o Léo.”

“Qual foi o conteúdo dessa conversa?

“Conteúdo da conversa é que o Léo tava querendo vender o apartamento e o sr. sabe que todo e qualquer vendedor que quer vender de qualquer jeito, não sei se o doutor já procurou alguma casa pra comprar, pra saber como é que o vendedor quer fazer. Eu disse ‘Léo, o apartamento tinha 500 defeitos.”

“O sr recusou de plano esse apartamento?”

“Não recusei de plano porque o Léo falou ‘vou dar uma olhada’ e depois me procurava para conversar. Foi em fevereiro de 2014.”

“Solicitaram alguma espécie de reforma nesse apartamento?”

“Não.”

“O sr. tem conhecimento que a sra sua esposa ou familiares estiveram novamente nesse imóvel?”

“Me parece que a minha esposa esteve mais uma vez, me parece, porque ela foi com meu filho Fábio e chegou lá o apartamento me parece estava totalmente desmontado. A informação que eu tenho pelo meu filho e não por ela.”

“Com qual propósito ela teria feito essa visita?”

“Certamente ela ia dizer que eu não queria mais o apartamento, porque quando fui ao apartamento percebi que era inutilizável por mim, pelo fato de eu ser uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia ou na segunda-feira ou na quarta-feira de Cinzas.”

“O sr. e familiares orientaram a reforma?”

Eu não orientei. Sei que no dia que eu fui houve muitos defeitos mostrados no prédio, muitos, defeito de escada, defeito de cozinha.”

“Quando o sr. exatamente decidiu que não ficaria com o imóvel?”

“No dia que fui ver me dei conta que não era possível eu tivesse um apartamento na praia das Astúrias não teria como, segundo porque o apartamento era muito pequeno para uma família de cinco filhos, oito netos e agora uma bisneta. Dona Marisa tinha uma coisa importante, ela não gostava de praia, ela nunca gostou de praia. Certamente queria o apartamento pra fazer investimento.”

“O sr. comunicou Léo Pinheiro que não queria o apartamento?”

“Não, não comuniquei. Eu não ia ficar com o apartamento, mas a dona Marisa ainda tinha dúvida seria ficar prá fazer negócio ou não. Não discutiu isso comigo mais.”

“Tem conhecimento se depois daquela segunda visita ela resolveu ficar com o apartamento?

“Soube depois que ela tinha ido ao apartamento e que ela também não tinha interesse em comprar.”

“Quando o sr. ficou sabendo?”

“Difícil precisar agora.”

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