segunda-feira, 8 de maio de 2017

Mercado de crédito começa a dar sinais de recuperação – Editorial | Valor Econômico

O mercado de crédito começou a reagir em março, com o leve crescimento no estoque de empréstimos e o início da queda nos juros cobrados pelos bancos. Embora incipientes, esses são os primeiros sinais de que o corte de juros básicos está se transmitindo pela economia da forma esperada e de que está avançando o processo de desalavancagem da economia.

Dados do Banco Central apontam uma expansão de 0,2% no volume de crédito bancário em março, comparado com fevereiro. O crescimento é tímido e desigual - os financiamentos a empresas continuam a se contrair -, mas desperta otimismo.

A retomada do crédito ocorre em um ambiente macroeconômico mais positivo, que tende a sustentá-lo daqui por diante, incluindo a queda do risco Brasil, recuo da inflação e perspectiva de continuidade do ciclo de afrouxamento monetário.

Embora a fraqueza do mercado de trabalho preocupe, com a perspectiva de aumento da taxa de desemprego nos próximos meses, a estabilização da economia no primeiro trimestre é o começo da virada. O receio do desemprego entre a população ocupada deve se reduzir nos próximos meses, ampliando o apetite pelo consumo e endividamento. A queda da inflação ajuda a expandir a renda real.

A rigor, o crédito apenas evolui na direção esperada nas recuperações cíclicas da economia. O que há de especial é que o caminho tende a ser um pouco mais longo, já que a recessão foi muito profunda. Além disso, a recuperação deve ser mais lenta, porque será preciso depurar os excessos cometidos em uma década de forte expansão de crédito.

No caso das famílias, as evidências disponíveis sugerem que o processo de desalavancagem está bem avançado. O comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida, exceto financiamentos imobiliários, caiu a 18,7% em fevereiro, o menor percentual observado desde dezembro de 2010.

É provável que ocorram novas rodadas de queda no endividamento. O comprometimento de renda das famílias com o pagamento do principal das dívidas caiu de 13,2% em fevereiro de 2014 para 10,9% em fevereiro de 2017, incluindo o crédito imobiliário. O que subiu foi o comprometimento de renda com pagamento de juros, que passou de 8,9% para 10,32%, refletindo o aperto monetário.

Isso significa que as famílias amortizaram um bom pedaço de suas dívidas com os bancos, mas a alta de juros básicos da economia abocanhou parte da renda disponível. Agora, com a perspectiva de corte da taxa Selic a cerca de 8,5% ao ano até fins de 2017, haverá um alívio no orçamento das pessoas físicas.

O avanço no processo de desalavancagem das empresas, porém, vem ocorrendo de forma mais lenta. Junto com os altos níveis de ociosidade de setores como a indústria, que leva ao adiamento dos investimentos, essa é uma das causas da queda no estoque de crédito das pessoas jurídicas ocorrida em março, de 0,3%. Do lado da oferta de crédito, há sinais encorajadores. Finalmente os bancos começaram a repassar para os clientes o corte nos juros básicos feito pelo BC a partir de outubro, que acumula 300 pontos-base. Os juros cobrados nas operações de crédito livre recuaram de 53,4% ao ano em fevereiro para 52,5% em março.

É uma queda pequena, mas ela confirma que a transmissão da política monetária ocorre como o esperado. Muitos acreditavam que, desta vez, o repasse não ocorreria devido a receios de aumento na inadimplência. A melhora no ambiente macroeconômico já dá maior confiança aos bancos, que reduziram levemente as provisões para devedores duvidosos em março.

Apesar dos progressos, não chegou a hora de comemorar ainda. A recuperação é muito frágil. O crescimento nominal do crédito esperado para o ano é de apenas 2%, abaixo da inflação. O crédito deve encolher dos 49,6% do Produto Interno Bruto (PIB) observados em 2016 para 48% do PIB em 2017, prevê o BC.

Para que se firme uma tendência de expansão mais robusta, será preciso assegurar um ambiente macroeconômico estável, o que depende fundamentalmente da aprovação das reformas, sobretudo a da Previdência.

Também será preciso perseverar na aplicação de uma agenda microeconômica para mitigar os riscos de inadimplência, reduzir custos tributários e subsídios cruzados e garantir um ambiente de maior competição entre os bancos para que os ganhos sejam distribuídos por toda a sociedade.

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