quinta-feira, 11 de maio de 2017

Na versão de Lula, presidente da OAS era ‘vendedor’ de apartamento

Ex-presidente contou ao juiz Sérgio Moro que ex-chefe de uma das maiores empreiteiras do País foi com ele até tríplex do Guarujá, que ele chamou de 'Minha Casa Minha Vida', para saber de interesse de compra da família

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Bruno Ribeiro, Fausto Macedo e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

Presidente de uma das maiores empreiteiras do País, em 2014, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, foi apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um “vendedor” de imóveis, ao relatar sua versão ao juiz federal Sérgio Moro, sobre o emblemático tríplex 164-A, do Edifício Solaris, no Guarujá (SP).

“O Léo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o tríplex. Eu fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, não voltei e nunca mais conversei com Léo sobre o apartamento”, afirmou Lula, ao ser questionado se já visitou um dia o imóvel, que ele afirma não ser o dono.

O Ministério Público Federal imputa prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro – pena prevista de até 22 anos de prisão, se condenado. A ampliação, reforma e decoração de um tríplex, no Guarujá (SP), e o custeio do armazenamento de bens, de 2011 a 2016, seriam “benesses” dadas ao petista, em troca de negócios na Petrobrás.

“Quem foi junto?”, perguntou Moro, que ouviu Lula, o último réu do processo a ser interrogado – passada essa fase, as partes (acusação e defesas) têm prazo para suas alegações finais e depois o juiz dá sua sentença.

“Eu e minha mulher”, respondeu Lula. O ex-presidente atribuiu à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro, o interesse no triplex.

Em outras ocasiões, Lula afirmou que o triplex no Guarujá, com 215 metros quadrados de área, “era pequeno”.

Em 4 de março, no Aeroporto de Congonhas, em meio a um clima de forte tensão, quando foi conduzido coercitivamente para depor alvo da Operação Alethea, na 24ª fase da Lava Jato.

“Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex ‘Minha Casa, Minha Vida’, era pequeno.”

Dia D. Frente a frente como Moro pela primeira vez como réu da Lava Jato, em Curitiba, o ex-presidente foi questionado sobre o conteúdo da conversa com Léo Pinheiro, então presidente da OAS, uma das maiores empreiteiras do País.

“O Léo estava querendo vender o apartamento. O senhor sabe como todo e qualquer vendedor, quer vender de qualquer jeito. Não sei se o doutor já procurou uma casa para comprar para saber como que o vendedor faz”

Lula admitiu que em fevereiro de 2014, um mês antes de ser deflagrada a Lava Jato, esteve com Léo Pinheiro no Guarujá para visitar o imóvel, junto com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro.

A versão contada por Léo Pinheiro, em juízo, há 10 dias, é outra. Candidato a delator da Lava Jato, pela segunda vez, o ex-presidente da OAS contou que em 2009 foi procurado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para que a empreiteira assumisse a obras do edifício, que era da Bancoop e estava quebrando.

Léo Pinheiro contou a Moro, como réu nesse processo, no dia 20 de abril, que só comprou os prédios da Bancoop no Guarujá porque Vaccari e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, indicaram a importância do negócio por ter no local uma unidade da família de Lula.

O ex-presidente da OAS confessou que o triplex, apesar de estar em nome da empresa, era de Lula e foi reformado atendendo seus interesses e pedidos.

A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu ‘uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico’, atual Solaris, em abril de 2005.

Em 2009, a OAS adquiriu o empreendimento da Bancoop. Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no empreendimento.

Segundo Léo Pinheiro, que tenta um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, o custo das reformas do triplex 164-A, do Edifício Solaris, foi abatido de um acerto de R$ 15 milhões da OAS com o PT.

“Levei esses créditos e esses débitos. Levei o que a OAS estava devendo por conta desses pagamentos de vantagens indevidas ao PT naquele momento, o que estava atrasado e que ainda ia acontecer. E os custos dos empreendimentos que estávamos fazendo, desses passíveis ocultos, e mais os custos do tríplex e do sítio”, afirmou Léo Pinheiro, ouvido como réu nesta ação penal.

“A OAS pagava, primeiro, porque é uma regra de mercado. Tinha sido estabelecido que em alguns mercados àquela época existiria contribuição de 1% para o Partido dos Trabalhadores e que o gerenciamento disso seria feito pelos tesoureiros do partido”, afirmou Léo Pinheiro.

Léo Pinheiro explicou que a OAS comprou o Edifício Solaris no Guarujá, em 2009, da Bancoop – que estava em falência – a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Apesar da falta de interesse comercial no empreendimento, ainda em construção, Vaccari teria orientado a compra por envolver um imóvel de Lula. O negócio foi referendado posteriormente pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto.

Para a Lava Jato, a aquisição do empreendimento pela OAS, em 2009, da Bancoop, e a reforma do apartamento foi propina da empreiteira para o ex-presidente.

Além de Lula, são réus nessa ação penal Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, Paulo Gordilho, arquiteto e ex-executivo da OAS, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, ex-executivo da OAS, Fábio Hori Yonamine, ex-presidente da OAS Investimentos e Roberto Moreira Ferreira, ligado à OAS.

A ação do tríplex é a primeira aberta por Moro contra Lula, no dia 19 de setembro de 2016. Em três anos de investigação, a Lava Jato descobriu que partidos da base aliada – PT, PMDB e PP – comandaria diretorias da Petrobrás, por meio das quais, desviavam de 1% a 3% em propinas de contratos fechados com empreiteiras cartelizadas.

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