quarta-feira, 10 de maio de 2017

Pilares muito firmes | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Não tem desenlace se o enlace é bom para Temer e Meirelles

Há algo em comum entre os integrantes do governo Temer que têm sido alvos de tentativas de desestabilização e desempenham funções cruciais, no momento, para o equilíbrio político e econômico do país: Pedro Parente (Petrobras), Maria Silvia (BNDES) e Henrique Meirelles (Fazenda). Impermeáveis à Lava-Jato, sem pontos de fragilidade moral e ética com que se preocupar e portanto fora do protocolo de demissão definido pelo presidente, têm a missão de sanear as áreas que comandam e que foram protagonistas, em passado recente, do ato de perdição dos governos petistas. Esses profissionais, reconhecidos e ainda admirados um ano depois de um governo tão impopular quanto de resultados, são potenciais nomes a concorrer às eleições gerais. Representam o novo, o não político, o ficha limpa. Talvez seja essa a razão de estarem na berlinda. Num elenco que vem se formando à revelia dos canais políticos e do empresariado, mesmo sem pleitear, já têm o seu lugar. Isso, mas não só isso, lhes dá o traço que une e explica a razão de estarem sob um bombardeio sem tréguas.

Outra condição que os identifica como grupo: Apesar dos ataques e das pressões, não estão saindo nem vão sair do governo. Estão satisfeitos com o presidente, o presidente está satisfeito com eles. Sua escolha é considerada, até hoje, um achado.

O Palácio do Planalto está cansado de tanto responder que Parente, Maria Silvia e Meirelles não estão deixando seus gabinetes. As motivações vão variando, teses e argumentos são testados a cada nova investida. Há pouco tempo, a turma da campanha contra Pedro Parente centrou o tiro na questão de uma licitação organizada pelo presidente da Petrobras via carta-convite só para empresas estrangeiras. As nacionais, envolvidas na Lava-Jato, estariam sem condições de entrar em licitação até de pão com manteiga. E não firmaram ainda acordos de leniência que lhes permitirá continua a usar o dinheiro público baratinho. Então atacam quem está na cadeira que, antes, executava uma política que lhes servia de bálsamo ao bolso.

Talvez por ser mulher, embora não transpareça fragilidade, talvez por estar ocupando uma cadeira de onde se espalhavam reais com contrapartidas frouxas, Maria Silvia Bastos Marques, desde que entrou e ajustou os mecanismos para não ser arrastada à lama, sofre ataques, inclusive, da escalada autoritária do Ministério Público que exige controlar o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e as empresas privadas com quem negociam acordos que servem aos seus propósitos investigatórios mas não à probidade exigida pelos recursos públicos geridos com lisura. A campanha contra Maria Silvia visa o caixa do BNDES e até agora ela não permitiu o método leite de pato.
No terceiro pilar do governo, Henrique Meirelles, há um equívoco inicial. O ministro da Fazenda é tratado como bobo, tudo o que Meirelles não é. A última razão de sua saída do cargo, segundo a boataria mensal, seria a insatisfação com as concessões que o presidente Temer está fazendo na negociação da reforma da Previdência.

Mas não houve uma só concessão que tenha sido feita contrariando a posição da equipe econômica. As mudanças permitidas só o foram após aprovação e cálculo do impacto sobre as contas feitos no gabinete de Meirelles.

É admirada, no Palácio do Planalto, a paciência e empenho da equipe econômica, Meirelles à frente, para explicar à exaustão as reformas e sua importância para a recuperação do país. Em entrevistas, palestras, seminários, encontros, o ministro fez a catequese da reforma. Quando se pergunta no Palácio se Meirelles está de saída, o presidente e seus auxiliares mais próximos respondem: "Plantação de interessados em que o governo faça o que gostariam." Ou: "São pilares do governo, muito bem alicerçados, muito firmes."

Meirelles não sairá do governo e o governo não sairá do Meirelles. Não há razão para um desenlace se o enlace é bom para os dois. Se até os ministros denunciados na Lava-Jato estão firmes, o que se dirá de quem não foi mencionado e sustenta a transição?

As concessões à reforma foram, todas, feitas não só com a concordância de Meirelles, mas sob sua liderança nas negociações. Especialmente depois que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) saiu da linha de frente para um tratamento de saúde, em fevereiro. O Ministério da Fazenda vinha sendo representado nesses encontros de negociação com o Congresso pelo secretário da Previdência, Marcelo Caetano. Com o afastamento de Padilha, Meirelles o substituiu para dar o peso da presença de um ministro do governo no aval às mudanças. A repórter Edna Simão perscrutou a agenda de Meirelles, em São Paulo, no Rio, em Brasília, em Nova York, em Washington, em Londres, nos últimos dois meses e meio. Onde esteve o ministro usou os microfones para tentar convencer e explicar a reforma.

Só em fevereiro foram sete eventos públicos, em todos discursou e, no contexto da retomada da economia, enfatizou a necessidade de aprovação de reforma da Previdência Social: reunião no Ministério da Fazenda com o presidente da Comissão Especial de Reforma da Previdência; reunião com o presidente Temer para discutir pontos da reforma; encontro com a comissão especial da reforma da Previdência. Nos eventos públicos de março, Meirelles intensificou os discursos a favor da reforma e ficou mais veemente sobre a necessidade da mudança em sete eventos: encontrou-se com o presidente da Câmara para discutir Previdência e terceirização; reuniu-se com o relator, e jantou com líderes da Câmara, no Palácio da Alvorada; teve reunião com as bancadas do PSD, PRB e PP; participou em evento da Bloomberg e em Forum do Estadão sobre Previdência; fez reunião com líderes e ministros sobre a Previdência e encontrou com o presidente Temer para debater a reforma; participou de reunião com bancada do PSB, PSDB, DEM e PV. No último dia do mês, foi a uma audiência pública na Comissão Especial de Previdência Social.

Em abril foram sete eventos, incluindo palestra a investidores estrangeiros, organizada pelo "Financial Times", um seminário do Valor Econômico, e reunião em que negociou a flexibilização de cinco pontos da reforma. Essas mudanças foram discutidas em reuniões de bancadas e com o presidente Temer. Entre 19 e 22, em reunião do FMI, aproveitou para falar sobre a reforma da Previdência. Em maio já foram quatro eventos, entre seminários e reuniões com o presidente e líderes dos partidos.

A composição do governo, como está, só muda se não for aprovada a reforma da Previdência, mas aí o país terá chegado ao final da transição.

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