segunda-feira, 5 de junho de 2017

Janot quer constranger TSE, diz defesa de Temer

PGR tenta constranger TSE, diz defesa de Temer

Advogado do presidente no TSE, Gustavo Guedes vê ‘atuação política’ de Janot ao tomar medidas às vésperas de julgamento; Temer obtém apoio de ministros tucanos

Beatriz Bulla e Isadora Peron | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Com o avanço das investigações da Lava Jato sobre o presidente Michel Temer, o Palácio do Planalto deu início no domingo, 4, à estratégia de enfrentamento ao Ministério Público Federal e escalou o advogado Gustavo Guedes para atribuir ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma tentativa de influenciar o Tribunal Superior Eleitoral. Próximo do julgamento que pode cassar seu mandato, Temer ainda atuou junto de aliados do PSDB e obteve o compromisso de permanência dos tucanos na base ainda nesta semana.

“Nós teríamos total tranquilidade para discutir tudo o que venha do Ministério Público. Agora a questão é o momento. Fazer isso às vésperas do julgamento do TSE nos parece uma tentativa de constranger o tribunal”, disse Guedes ao Estado, no domingo. Na terça-feira, 6, a corte eleitoral inicia a fase final do processo proposto pelo PSDB em 2014, no qual a chapa campanha de Dilma Rousseff-Michel Temer é acusada de abuso de poder político e econômico.

O enfrentamento do Planalto contra Janot foi revelado no domingo pelo Estado. A Procuradoria-Geral da República não quis comentar as declarações do advogado de Temer. A estratégia foi definida no sábado, 3, no Palácio do Jaburu logo após a prisão do ex-deputado federal e ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures. Também participaram do encontro os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).

Segundo Guedes, que defende Temer no TSE, Janot manobra ao tomar medidas relacionadas à investigação neste momento. “O que estamos indignados é com a tentativa de atuação política do Ministério Público”, afirmou.

O advogado disse que chegam notícias à equipe palaciana de que o procurador-geral deve atuar nesta semana pautado pelo “timing” político, seja ao revelar uma nova gravação contra Temer, seja até mesmo ao apresentar uma denúncia no STF, onde o peemedebista é investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.

Entre as críticas da defesa de Temer ao MPF estão a pressa em concluir o inquérito contra o presidente, a falta de perícia prévia no áudio em que o empresário Joesley Batista, da JBS, conversa com Temer e o fato de um ex-procurador da Lava Jato ter participado de negociação do acordo de leniência do Grupo J&F. “Qual inquérito da Lava Jato foi concluído em dez dias, mesmo com presos? Nenhum”, disse o advogado.

Apesar da acusação de que há uma investida da PGR sobre o julgamento, a defesa de Temer considera que é melhor o processo se encerrar ainda nesta semana, considerando que “as tentativas (de Janot) não cessariam”. Nos bastidores, a defesa do peemedebista teme um pedido de vista logo após o voto do relator, Herman Benjamin. A expectativa é de que o ministro apresente posição dura, pela cassação da chapa, e a suspensão do processo nessa situação poderia ser um fator de complicação no cenário político.

Questionado pelo Estado sobre uma eventual pressão da PGR, o presidente do TSE, Gilmar Mendes, disse que os ministros não vão “se impressionar com bravatas”. “O tribunal tem uma composição de gente madura e qualificada, que não vai se impressionar com qualquer bravata, venha de onde vier”, afirmou o magistrado, que tem adotado tom crítico ao trabalho de Janot e ao que considera atos de abusos nas investigações.

Aliados. Na frente política, Temer articulou encontros com lideranças partidárias para manter o PSDB, fiel da balança do governo, em sua base aliada diante de ameaças de desembarque. No domingo, 4, logo pela manhã, o presidente se reuniu com ministros tucanos e obteve o compromisso dos tucanos de que a Executiva do partido não vai definir nesta semana, como anteriormente previsto, a permanência ou não na base. A decisão estava marcada para o mesmo dia do julgamento do TSE.

Segundo um dos ministros que estiveram no Jaburu, haverá uma reunião da Executiva na quinta-feira, 8, mas apenas para fazer uma “análise de conjuntura”. A permanência do PSDB na base aliada dá uma sobrevida política a Temer. A decisão dos tucanos é vista como um referencial para os demais partidos da base, que poderiam acompanhar a debandada.

Participaram do encontro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades), que chegou a ameaçar entregar o cargo no dia em que a delação dos empresários do grupo J&F veio a público.

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