terça-feira, 13 de junho de 2017

PSDB decide permanecer na base de Temer com vistas a acordo para 2018

Marcelo Ribeiro, Vandson Lima e Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - Em meio a divergências entre a ala jovem e os mais experientes do PSDB, o partido decidiu ontem, durante reunião da Executiva ampliada realizada em Brasília, manter, ao menos por ora, o apoio ao governo de Michel Temer. A pressão da cúpula partidária, ministros e governadores tucanos - além da possibilidade de uma aliança futura na eleição presidencial de 2018 e do apoio do PMDB à manutenção do mandato do senador Aécio Neves (MG), que está afastado - se sobrepuseram ao ímpeto dos mais jovens de romper.

A tese de que o momento não é adequado para deixar a base governista foi o argumento corrente. Os tucanos pró-desembarque, no entanto, devem retomar a pressão para que a legenda deixe a base aliada quando surgirem novos fatos contra Temer, como uma eventual denúncia do Procurador-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot. "Não existe casamento indissolúvel", afirmou o deputado federal Jutahy Júnior (BA).

O líder da bancada do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), afirmou que vai orientar a bancada a votar pela admissibilidade de uma eventual denúncia pela PGR.

Os ministros Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antonio Imbassahy (Secretaria do Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos), o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria, eram alguns dos presentes à reunião.

O senador José Serra (SP) disse que o PSDB "não fará nenhum movimento agora no sentido de sair do governo". "A decisão é de os ministros não saírem. Alguns parlamentares pensam diferente, mas não vi nenhum clima de dissidência. Há um clima de unidade dentro do partido. Todos os governadores falaram no sentido de não ter mudança".

O governador do Paraná, Beto Richa, reforçou a posição. "No Congresso o PSDB está dividido, mas entre os governadores o melhor é ficar no governo", afirmou Richa.

Após a maioria dos participantes apoiar a permanência na base aliada, o PSDB teria deixado os insatisfeitos livres para sair da sigla, como o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), que estaria com negociações avançadas para migrar para o PSL e se candidatar ao Senado em 2018. Questionado pelo Valor, Coelho disse que não pensa nisso.

Outro apoiador da saída, o deputado Betinho Gomes (PE) afirmou que a "possibilidade é zero de alguém deixar o PSDB". "O debate se faz internamente. Se hoje perdemos, vamos trabalhar para ser maioria em outro momento".

Apesar da permanência, o líder da bancada na Câmara disse que o PSDB pretende recorrer no Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolver a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.

Na avaliação do presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, a decisão foi fundamentada em três pilares: legitimidade, que o governo teria, convalidada pelo TSE, avalia; manutenção dos acordos, que estão sendo cumpridos com as reformas propostas; e a questão ética. Essa última variável causa preocupação, disse, mas por enquanto os tucanos avaliam estar sob controle. Contou no recuo tático a absolvição de Temer no TSE, segundo tucanos.

Aliados de Temer teriam proposto, com o objetivo de desmobilizar o movimento de resistência ao governo dentro do PSDB, garantir apoio ao candidato do PSDB à Presidência da República em 2018. Além disso, o PMDB controla o Conselho de Ética do Senado e sinalizou aos tucanos que a manutenção do mandato de Aécio também dependeria da decisão do partido em relação à sua permanência no governo.

Antes da decisão do PSDB, Temer dedicou muitas horas para acompanhar, de perto, a movimentação em torno da reunião dos tucanos. O presidente se reuniu com dois de seus auxiliares mais próximos que defendiam a permanência da sigla no governo - os ministros Aloysio e Imbassahy. À tarde, ainda recebeu, individualmente, o senador Flexa Ribeiro (PA), no Palácio da Alvorada. Por telefone, manteve contato com Alckmin e Doria, que também defenderam a permanência na base. Nos últimos dias, o presidente procurou se aproximar do grupo que quer deixar o governo: há dez dias, recebeu no Jaburu o grupo de tucanos mais insatisfeitos, como Coelho, Araújo e Nilson Leitão (PSDB-MT).

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