quarta-feira, 28 de junho de 2017

Temer e a matemática | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

As reformas ficaram para 2019, com Temer ou sem Temer

O presidente Michel Temer é o maior eleitor de si mesmo, tanto da sua permanência como da sua deposição. Se ele não quiser, não sai, e se um candidato quiser o cargo à sua revelia, não ganha, pois ele ainda tem opinião, caneta e votos no Congresso. Por isso está cercado de atenções, é um presidente em ação para se defender, com um poder relativo, porém sólido, enquanto durar.

As tentativas feitas para que renuncie ao mandato e facilite a rearrumação do sistema político, na ordem de pelo menos uma por semana, são ideias superadas em tempo recorde por outros fatos e reações que a elas se sobrepõem. A última ocorreu semana passada, quando surgiu a proposta de um afastamento branco.

Sem deixar de ser presidente, Temer se recolheria ao Jaburu, concentrado na defesa judicial e mantendo o foro privilegiado, numa espécie de licença para cuidar de assuntos pessoais. Enquanto Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara onipresente em todas as articulações da sucessão, conduziria o desfecho formal, ao lado do presidente. Temer não concordou.

Pagou para ver a denúncia de Rodrigo Janot, e ao promotor reagiu como advogado de defesa, desfazendo as acusações porque baseadas em delação premiada sem apresentação de provas. Vai se defender, neste momento ainda tem maioria na Câmara e expectativa de ver recusado o pedido de abertura de processo contra si, ao mesmo tempo em que tentará provar que consegue governar e aprovar medidas necessárias ao desenvolvimento do país.

Só há uma forma de mudar esse quadro: é a desconfiguração do apoio político de que ainda desfruta. Isso, esperam os adversários, o levaria a aceitar conselhos de amigos e da família, que surgem em casos dramáticos como este, para renunciar ao mandato.

A balança pesa, mas levemente, para o lado dos seus opositores, mas ainda não pendeu de vez. Das forças que fizeram o impeachment de Dilma Rousseff, Temer viu transformarem-se em adversários parte substancial da mídia, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal e um pouco das ruas, hoje limitadas à militância, sobretudo do PT. Dizia-se que só as ruas teriam força para levar um presidente da República a sair para facilitar as soluções. Nos pelotões contra Temer já se apostou muito nos movimentos de protesto, agora não mais. Os não militantes preferem ficar contra ou a favor nas conversas em casa, nos almoços em família, nas missas do domingo, nas festas, nas escolas, mas não querem se juntar à militância petista na rua. E também ninguém quer ir à rua para ser contra e menos ainda a favor de Michel Temer. Tirar para colocar quem, é a pergunta mais frequente feita aos mobilizadores.

Ainda acreditando que ele é a melhor solução para levar o país às eleições de 2018, dentro de um ano e três meses, alinham-se a outra parte da mídia, minoritária, o PSDB, e o assim definido às vezes como sistema financeiro, em outras como o PIB paulista. Diz-se que essa equação é simples: os empresários, banqueiros e empregadores em geral apostam em Temer como o presidente capaz de ainda fazer alguma reforma constitucional, além das que já fez. Se perde essa vantagem, o apoio seria retirado, puxando para fora também o braço político do grupo, o PSDB.

Com todos do mesmo lado, estaria, assim, configurado o cenário da renúncia. É uma equação matemática, e o presidente, no momento, está exatamente no ponto de equilibrio dessa balança.

Com a denúncia do procurador Rodrigo Janot, esperada como peça definitiva para afastar os empresários reformistas da aliança com Temer, houve decepção entre os opositores. Exatamente pelas razões que sustentaram, ontem, a absolvição do tesoureiro petista João Vaccari, em julgamento do TRF-4: falta de provas que sustentassem a delação premiada.

Há dois consensos ainda a considerar. As novas reformas, ainda que ligeiras e pontuais, só seriam levadas adiante com Temer no cargo. Qualquer outra solução, poderiam todos arquivar a ideia até 2019, quando assumirá o novo governo eleito no ano que vem. Ainda assim a depender do próximo presidente que, se não disser, em campanha, que fará reformas, e o fizer depois de assumir, estará em pleno estado de estelionato eleitoral. E se disser que fará, dificilmente as corporações permitirão que sua campanha avance. É um mau momento para as reformas na sociedade brasileira.

Os que defendem o fico alegam a inexistência de candidato melhor para chegar a 2018 sem muita marola no cargo. Os que defendem que saia alegam a falta do que fazer já que não conseguirá mais ser o governo reformista.

Quem está em vantagem, até agora, e pesa na balança da permanência de Temer, é o PT. Uma vez concentrada a ação do Procurador Geral na deposição do presidente da República, um troféu inigualável na conclusão da carreira, todos os demais participantes do sistema político puderam respirar e ganhar um pouco da simpatia da opinião pública. O ex-ministro José Dirceu está sendo aplaudido em restaurantes de Brasília; o ex-presidente Lula viu aumentar as intenções de voto em sua candidatura e reduzir a rejeição a seu nome. O PT sobe alguns degraus na retomada de uma posição no sistema e tem hoje 18% de adesão. Evidentemente não quer perder o que move sua engrenagem ladeira acima, ainda mais que está contra as reformas que tudo isso inviabiliza.

Nesse momento em que só a debandada de quem ainda está ao lado do presidente pode modificar o cenário, os políticos sustaram a articulação objetiva da sucessão de Temer. Permanece a postos, porém, a candidatura Rodrigo Maia (DEM), considerado o sucessor natural por ser o presidente da Câmara, que tem preservado, em declarações, o presidente que ainda não está livre de substituir.

Ontem, depois de avaliar como positiva a reação do presidente à denúncia, seus adversários já não sabiam prever os próximos passos. Muito menos seus aliados. A não ser, como disse um deles, já no início da noite: "o que se sabe é que vai todo mundo jantar daqui a pouco".

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