terça-feira, 27 de junho de 2017

Um prólogo à sentença de Lula | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Na densa e consistente sentença em que condenou o ex-ministro Antonio Palocci Filho a 12 anos, 2 meses e 20 dias, o juiz Sérgio Moro construiu um prólogo para sentenciar, em breve, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O nome de Lula aparece 35 vezes na peça de Moro, na maioria delas em citações de depoentes ou delatores, mas em muitas na pena do próprio coordenador da Lava Jato, que escolheu algumas informações centrais para estabelecer a ligação indissociável entre o agora condenado Palocci e Lula.

Nessas vezes em que é o próprio Moro que se refere a Lula, que são sete, ele lembra: que o petista era o “Amigo” da planilha da Odebrecht, que este “Amigo” recebeu recursos da chamada conta geral da propina da empreiteira, que esta conta tinha Palocci como coordenador-geral, que foi o próprio Lula quem designou o “Italiano” para cuidar de distribuição de recursos na campanha, que foi também o ex-presidente que o nomeou como interlocutor com a Odebrecht. Logo, está pavimentado o caminho para incluir Lula neste enredo.

Esta construção diz respeito não ao processo de Lula que está mais próximo do final, o do triplex do Guarujá, que teria sido parte de propina disfarçada paga a Lula em troca do favorecimento da OAS em seu governo.

Ainda assim, não se duvida mais de que Moro vai fechando um enredo para sentenciar Lula, que emerge da sentença de Palocci como plenamente conhecedor da engrenagem do petrolão e da total promiscuidade que havia entre partido e governo na era petista.

Moro também não deixou de mandar de volta o recado que Palocci lhe deu, de forma nada sutil, quando se dispôs a colaborar com informações durante audiência. Dois meses depois disso e a delação do petista segue um vaivém que acompanha as pressões externas a Curitiba para evitar que ele fale – que vêm não só do PT como dos setores financeiro e produtivo.

Moro disse, sem rodeios, que hoje Palocci parece ter feito mais uma tentativa de barganha que demonstrado efetivamente disposição de colaborar. O puxão de orelhas foi entendido. Além disso, a revisão das penas de colaboradores como o casal João Santana e Mônica Moura e o herdeiro Marcelo Odebrecht deve terminar por convencer o antes bipolar Palocci.

Diante das cartas postas à mesa e da possibilidade de vir rapidamente uma condenação em segunda instância, os advogados devem ultimar os pontos do acordo nas próximas semanas.

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