terça-feira, 25 de julho de 2017

Alckmin recebe cúpula do DEM em encontro que pode aproximar siglas

Por Ricardo Mendonça, Fernando Taquari e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Um jantar entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pode marcar o início de uma reaproximação entre as duas siglas com vistas às eleições de 2018. Previsto para a noite de ontem, o encontro no Palácio dos Bandeirantes tinha como convidados outros líderes do DEM, como o ministro da Educação, Mendonça Filho, e o prefeito de Salvador, ACM Neto.

"Com o jantar, Alckmin faz um gesto político para evitar o descolamento entre os partidos e pretende neutralizar um eventual desejo de Maia de fazer voo solo na disputa eleitoral pela Presidência da República em 2018. O governador enxerga no DEM um potencial aliado para a corrida presidencial do ano que vem e não quer que o partido de Maia se transforme em um potencial oponente", afirmou um interlocutor de Alckmin ao Valor PRO.

Maia foi apontado como mentor das articulações para inflar a bancada de deputados do DEM, retirando integrantes do PSB, partido que é um potencial aliado de uma candidatura presidencial de Alckmin em 2018.

O DEM e o PSDB são aliados em eleições presidenciais desde 1994, mas a ascensão de Rodrigo Maia à presidência da Câmara deu mais autonomia ao partido. Pouco depois de suceder o então deputado Eduardo Cunha, em 2016, Maia em uma entrevista chegou a citar Temer como um possível candidato da base governista para a eleição presidencial, caso chegasse ao último ano do seu governo com popularidade razoável e um cenário de crescimento econômico.

O governador paulista é um dos dois presidenciáveis tucanos. O outro é o prefeito de São Paulo, João Doria, que está em viagem oficial na China (ver página A2). Tanto Alckmin quanto Doria articularam para impedir que o PSDB desembarcasse do governo ainda em junho, no auge da crise provocada pela delação, contra a vontade do próprio presidente interino da sigla, o senador Tasso Jereissati (CE).

A maior parte da bancada tucana na Câmara, contudo, apoia a aceitação da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer por corrupção passiva. Dos sete integrantes da sigla na Comissão de Constituição e Justiça da Casa (CCJ), cinco votaram contra Temer.

Os três líderes do DEM que se encaminhavam ontem para São Paulo têm sólidos interesses regionais a serem defendidos nas urnas no próximo ano. Rodrigo Maia pode articular a candidatura ao governo do Rio de seu pai, o vereador Cesar Maia. ACM Neto almeja o governo da Bahia. Mendonça Filho é citado como interessado no governo de Pernambuco.

Alckmin confirmou o encontro, mas despistou sobre sua motivação. Disse que ia tomar "um café com algumas lideranças do DEM", depois de assistir a uma mostra de cinema negro no próprio Palácio dos Bandeirantes. O governador chegou a dizer que teria com a cúpula do DEM "uma conversa geral sobre nada, nada específico". Mas em seguida foi um pouco menos reticente e afirmou que haveria um diálogo para "uma visão mais ampla sobre as reformas, a conjuntura política, enfim. Esse momento difícil que o Brasil está atravessando".

A reunião não foi divulgada na agenda oficial de nenhuma das autoridades. A última vez em que Maia esteve com Alckmin foi em janeiro, quando o deputado fez uma visita ao governador em meio a sua campanha pela reeleição. Na ocasião, eles anunciaram ter tratado de pautas de interesse do governo paulista no Congresso.

Antes do encontro, Alckmin discursou em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, onde lamentou o desemprego e a baixa taxa de investimento público e fez referência crítica ao aumento do tributo que incide sobre os combustíveis para cumprimento da meta fiscal.

"O governo não investe - nós estamos com o pior investimento da história, 0,35% do PIB, nunca foi tão baixo. Gasta tudo o que arrecada. Não paga um centavo de juros - nem do principal, estamos com 72,5% de dívida pública em relação ao PIB. E ainda aumenta imposto para poder parar no déficit de R$ 139 bilhões".

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