quinta-feira, 13 de julho de 2017

Condenação de Lula é símbolo no combate à corrupção – Editorial | O Globo

Ex-presidente é condenado no processo do tríplex do Guarujá, anos depois de ter escapado do processo do mensalão, esquema montado em seu primeiro mandato

A condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá é um marco no combate à corrupção, símbolo fortalecido pela coincidência com a acusação ao atual presidente, Michel Temer. Em uma fase da vida pública repleta de fatos históricos, por inéditos, ocorre mais um, com a condenação de Lula, a primeira de um ex-presidente. E numa coincidência inaudita: ao mesmo tempo em que um presidente no cargo, Michel Temer, é denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Ambos por corrupção, e, no caso de Lula, punido também por lavagem de dinheiro. Coincidência feliz, porque reflete um forte enfrentamento deste crime de colarinho branco pelo Estado.

Esperada, devido à solidez das provas, esta condenação no processo sobre o tríplex do Guarujá, pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, base da Lava-Jato, é um marco neste ciclo de combate à corrupção por organismos de Estado, com grande respaldo na sociedade. Depois de ter passado incólume pelo mensalão, montado pelo lulopetismo no seu primeiro mandato, Lula não está conseguindo escapar do petrolão.

Mais até que a pena de nove anos e seis meses de reclusão, em regime fechado, tem importância o fato de, se a sentença for confirmada em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, Lula se tornará inelegível por oito anos, como estabelecido pela Lei da Ficha Limpa. Sendo que Moro já o condena a ficar 19 anos longe de cargos públicos e de postos de direção na iniciativa privada, o dobro da pena de reclusão. O projeto de se lançar candidato em 2018, como se previa, pode naufragar.

A defesa e o PT insistem em que não há provas, apenas a delação premiada de Léo Pinheiro, expresidente da empreiteira OAS, que garantiu que o apartamento foi dado a Lula, em troca de facilidades concedidas à empresa em contratos com a Petrobras. Com o valor do imóvel sendo abatido da conta-propina entre PT e OAS. Em 2010, o GLOBO revelou a existência do tríplex.

Somam-se ao testemunho de Pinheiro, forte por si só, registros em vídeo e fotos de Lula e Pinheiro em visita ao imóvel; depoimentos de testemunhas sobre pedidos de reformas feitas por Marisa Letícia, mulher do então presidente, falecida; notas fiscais de compras de materiais para o tríplex, pagas pela OAS etc.

Há desdobramentos previsíveis da condenação de quem já foi chamado de o maior líder popular vivo da América Latina. Um equivalente a Hugo Chávez (em todos os sentidos). O clássico truque da vitimização deve ser usado à exaustão. Animal político, Lula tentará capitalizar a condenação com vistas a 2018: em benefício próprio, caso a condenação caia na segunda instância; ou para ser um forte eleitor em pouco mais de um ano.

A sentença é prova de que não deu certo a estratégia da defesa, bem no pedigree petista, de agredir Moro, procuradores, imprensa, quem fosse. A condenação vem comprovar que as instituições funcionam com base nas leis e na Constituição. Para quem for, como registra a sentença de Moro. Condenado, vítima autodeclarada do “sistema”, Lula tenderá a se manter na linha da radicalização do discurso, uma volta ao Lula tipo metalúrgico zangado, pré-2002, quando assumiu a persona “paz e amor” esculpida sob medida pelo marqueteiro Duda Mendonça. O primeiro desses profissionais do longo ciclo de subordinação do PT ao marketing político, encerrado de forma trágica: com o impeachment de Dilma Rousseff e prisões a granel, inclusive do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura.

Lula aparece com 30% de apoio em pesquisas eleitorais do Datafolha. Precisará decifrar este índice, que era do Lula radical pré-2002. Se errar no tom das vociferações — deve achá-las necessárias para manter a militância mobilizada —, não ultrapassará este teto. Até porque tem uma elevada rejeição de 45%. E mesmo que o faça, pode sucumbir no segundo turno. Mas antes disso terá de, com os advogados, rever a estratégia da agressividade com a Justiça. Se não funcionou em Curitiba, não deverá fazer efeito em Porto Alegre.

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