segunda-feira, 10 de julho de 2017

Economia resiste à piora da crise política

Por Marta Watanabe, Arícia Martins e Thais Carrança | Valor Econômico

SÃO PAULO - Quando os índices de confiança deram um salto com a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer na Presidência, em 2016, a economia não reagiu. Agora parece ocorrer o contrário - os índices de confiança desabaram após a delação de Joesley Batista, mas a economia segue em seu lento processo de recuperação. Efeitos mais drásticos sobre emprego e consumo só devem ocorrer se o quadro de incertezas se prolongar.

Os indicadores de atividade já conhecidos do mês revelam sinais mistos e os relatos de empresas e analistas sugerem que, após o "susto" de maio, persistiu a expectativa de melhora em relação a 2016. 

"O lado real da economia deu de ombros para a crise política", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores. Segundo ele, isso acontece porque algumas variáveis importantes seguem sob controle, como a taxa de câmbio relativamente estável, a inflação baixa e o saldo comercial positivo. A situação das contas públicas é "apavorante", mas os ânimos estão sob controle porque os agentes ainda confiam que os atores políticos vão tratar dessa questão.

Alguns fatores apontam na direção na continuidade da recuperação. Uma queda mais forte do juro ganhou fôlego na sexta-feira, com a deflação do IPCA de junho. A desaceleração da inflação tem impulsionado a recuperação mais rápida que o esperado dos rendimentos do trabalho. Após caírem 2,3% em termos reais em 2016, os salários acompanhados pela pesquisa Pnad Contínua avançaram em média 2,3% entre janeiro e maio, na comparação com o mesmo período de 2016.

A possível saída de Michel Temer, para dar lugar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), resgata, segundo economistas, alguma esperança de viabilidade das reformas. A combinação de todos esses fatores poderia melhorar a confiança mais adiante. "Maio teria sido mais um soluço do que uma inflexão de trajetória", diz Borges. Para ele, o PIB do segundo trimestre pode até ter crescido cerca de 0,1% ou 0,2% na margem.

O agravamento da crise política mantém deprimidos os investimentos, desafiados ainda pela grande capacidade ociosa da indústria e pelas incertezas de médio prazo.

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