sábado, 8 de julho de 2017

Mercado já vê cenário mais favorável sem Temer

Para analistas, Rodrigo Maia teria maiores chances de aprovar reformas

Na Alemanha, presidente diz que ‘crise econômica no Brasil não existe’ e comete gafe ao afirmar que fez ‘voltar o desemprego’ no país; cresce o número de deputados favoráveis à aceitação da denúncia

Analistas do mercado já traçam cenário mais favorável na economia com a eventual saída de Temer. Eles avaliam que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, teria mais condições de conduzir as reformas da Previdência e trabalhista. Na Alemanha para reunião do G-20, Temer disse que não há crise econômica no Brasil e cometeu gafe ao afirmar que fez “voltar o desemprego”. Em Buenos Aires, Maia evitou defender o presidente, mas disse ter aprendido em casa “a ter lealdade”. Na CCJ, cresce o número de deputados a favor da denúncia contra Temer. A investidores, o tucano Cássio Cunha Lima disse que “em 15 dias o país terá novo presidente”.

Agenda Maia

Após ser lançado pelo presidente do PSDB, deputado pede ‘prudência’ e defende reformas

Janaína Figueiredo e Catarina Alencastro, O Globo

-BUENOS AIRES E BRASÍLIA- Um dia após ser apontado pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), como o nome certo para assumir o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), publicou mensagens eu sua conta no Twitter pedindo “tranquilidade e prudência”.

Em vez de defender o presidente Michel Temer, seu aliado, e rechaçar as declarações de Tasso da véspera sobre o estado “ingovernável” do país, Maia experimentou um tom neutro nos posts — como se respondesse à frase de Tasso, que falou sobre as condições de o presidente da Câmara “juntar partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade”.

“Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise. #reformas”, publicou Rodrigo Maia na rede social, que, depois, afirmou a jornalistas ser leal ao presidente.

A defesa das reformas trabalhista e previdenciária foi o assunto escolhido no dia em que seu nome foi ventilado como presidenciável, caso Temer seja afastado do cargo em decorrência da denúncia por corrupção passiva feita pela Procuradoria-Geral da República.

“Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda da Câmara dos Deputados”, acrescentou. Por último, Maia destacou que é preciso ir além da reforma trabalhista: “Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, tributária e mudanças na legislação de segurança pública”, escreveu.

Rodrigo Maia embarcou na quinta-feira para Buenos Aires com uma comitiva de peso, incluindo seis deputados que têm influência dentro dos seus partidos no Congresso. Em meio a especulações sobre sua viagem de dois dias no mesmo momento em que Temer embarcou para a Alemanha para participar do encontro do G20, o presidente da Câmara afirmou que a denúncia contra Temer “é grave” e “tem de ser respeitada”.

Aliados de Maia dizem reservadamente que o presidente da Câmara está articumento lando sua ascensão ao Planalto, mas despistando. Parlamentares próximos afirmam que ele tem sido “escorregadio” sobre o seu real papel nessa “campanha”.

Em seu segundo dia de atividades em Buenos Aires, Maia admitiu estar preocupado com a “crise tão profunda” que vive o Brasil e assegurou que mantém sua posição de aliança com o governo de Michel Temer. Durante os eventos do Foro Parlamentar sobre Relações Internacionais e Diplomacia Parlamentar, Maia não desgrudou do celular. O presidente da Câmara mostrou-se tenso e negou o que chamou de “especulações criativas”.

— Quando se vive uma crise tão profunda como essa, cabe especulação de qualquer tipo. Há algumas que li pela manhã que são muito criativas, mas têm pouca informação — disse Maia a um pequeno grupo de jornalistas.

“APRENDI EM CASA A SER LEAL”
Ao responder sobre sua expressão de preocupação durante o dia, o presidente da Câmara foi enfático.

— Se você pensar que o Brasil vive uma crise tão profunda, quem tem responsabilidade com a democracia, com o futuro do Brasil, se falar que não está preocupado, estará mentindo. É claro que a gente tem preocupação, principalmente na posição que estou hoje. Qualquer movimento que eu faça é interpretado — assinalou. E frisou: — Aprendi em casa a ser leal, correto e serei com o presidente Temer sempre.

Maia negou, ainda, um suposto acordo entre PSDB e DEM para começar a minar a base parlamentar de Temer e trabalhar por uma derrota do presidente na Câmara, que vai votar sobre a aceitação ou não a denúncia feita pela PGR.

— Sou presidente da Câmara, meu partido e eu pessoalmente somos aliados do presidente Michel Temer apesar de toda a crise, e eu disse ao presidente de meu partido, no primeiro dia da crise, que, se tivesse de acontecer alguma coisa, o DEM deveria ser o último a desembarcar do governo. Vamos aguardar, vamos manter a nossa posição de apoio ao governo — prometeu. Rodrigo Maia reiterou que, como presidente da Câmara, não cabe a ele “fazer defesas na tribuna da Câmara”.

Ele disse que será o coordenador das votações do processo da denúncia e que, por isso, tem se mantido afastado do tema. Questionado se também estaria “afastado de Temer”, o deputado sorriu e disse que “não do Temer e não dos temas do governo que é uma agenda que tira o Brasil dessa profunda crise que nós já vivemos há três anos”. O único momento de descontração de Maia foi quando conversou por telefone sobre a vitória de seu time, o Botafogo.

Ao ver que os jornalistas estavam ouvindo a conversa, brincou: — Botafogo, estamos comemorando nossa vitória, esse é o assunto daqui. Enquanto Maia e Temer não voltam do exterior, está surgindo na Câmara o movimento “Maia presidente”. Aliados que acompanham a comitiva de Temer na Alemanha relatam a colegas que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem sido mais procurado para conversas do que o próprio presidente. Enquanto a situação de Temer se deteriora, partidos aliados veem o voto do relator da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Sergio Zveiter (PMDB-RJ), como modeterminante para o presidente. Se o relatório for a favor da denúncia por corrupção passiva apresentada pelo Ministério Público contra Temer, as chances do peemedebista se recuperar são consideradas baixas. Isso porque Zveiter é do mesmo partido do presidente.

JULGAMENTO POLÍTICO
Se o próprio partido de Temer não quiser salvá-lo, será, na avaliação de integrantes da base, um sinal verde para que o restante dos partidos aliados sigam também no mesmo caminho de aceitação da denúncia. O voto do relator será apresentado na segunda-feira. Em seguida, advogados de defesa de Temer discursarão contra a peça acusatória preparada por Janot.

— Se vier negativo para o governo, o voto do relator será muito ruim. Vai ficar muito complicado para o presidente Michel Temer conseguir virar o jogo — diz Efraim Filho, líder do DEM na Câmara.

Embora aliados ainda estejam se movimentando para trocar deputados na CCJ, na tentativa de garantir votos próTemer, todos observam a dinâmica da crise, evitando se comprometer precipitadamente. O PP, que sempre foi fiel ao governo, avalia mexer em sua composição na CCJ. Mas a sigla ainda não definiu como se posicionará em relação à denúncia.

— Ainda não fechamos essa questão da denúncia. O julgamento será 100% político. Ali será possível medir a força do governo — pontua o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP.

Outro partido importante da base, o PSDB já decidiu que não fará trocas na CCJ, e dos sete membros tucanos da comissão apenas um deve votar a favor de Temer. (Colaborou Cristiane Jungblut)

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