segunda-feira, 31 de julho de 2017

Ofensiva de imagem

Temer investe nas redes sociais e em ações de impacto, como visita ao Rio, para barrar denúncia

Júnia Gama, Eduardo Barretto, Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- Na reta final para a votação da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), por corrupção passiva, que pode afastá-lo do mandato, o presidente Michel Temer intensificou a ofensiva política e de imagem na tentativa de se manter no cargo. Depois de divulgar três vídeos nas redes sociais exaltando medidas do governo nos últimos dias, o presidente esteve ontem no Rio para capitalizar politicamente a ação das Forças Armadas no combate à violência na cidade e na Região Metropolitana. De volta a Brasília, a maratona prosseguiu com sua participação em reunião com ministros e líderes aliados para afinar a estratégia para a votação marcada para quarta-feira no plenário da Câmara. Na noite anterior, Temer recebeu em jantar o presidente afastado do PSDB, senador Aécio Neves (MG), seu maior aliado na legenda que está dividida sobre o apoio ao governo.

Aliados do presidente dizem reservadamente que a contabilidade indica que ele terá mais de 250 votos contra a denúncia, mas, publicamente, o tom é de cautela na divulgação de placar, para que não haja frustração se o resultado for abaixo do esperado. Na reunião de ontem, ministros e líderes de partidos na Câmara continuaram contando votos e ligando para deputados indecisos. Além de Temer, participaram da reunião os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário).

Padilha disse que é cedo para falar em placar, embora muitos estejam fazendo estimativas:

— Nós do governo estamos prontos para votar. Mas, se quarta-feira a oposição obstruir e não der quorum de 342, o problema não é nosso. Eles é que querem aprovar a denúncia, então têm que garantir o quorum para votação. Se não o fizerem até 31 de dezembro de 2018, o que estará valendo é a decisão da Comissão de Constituição e Justiça, que rejeitou a denúncia da PGR.

Moreira Franco buscou demonstrar tranquilidade sobre a votação e reforçou os argumentos de Padilha:

— A avaliação jurídica já se deu na CCJ, que negou a denúncia. Agora, é o julgamento político. Então, quem tem que colocar voto é quem quer derrubar o parecer da CCJ. Essa preocupação de voto deve ser muito mais de quem quer derrubar do que nossa.

Moreira disse não saber se a sessão terá quorum para encerrar a votação na quarta-feira, mas lembrou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que será possível ter deputados suficientes para concluir o processo. O ministro enfatizou que, mais do que enterrar logo a denúncia, a prioridade do governo é aprovar a reforma da Previdência e mostrar que está atuando para enfrentar a crise de segurança no Rio de Janeiro.

— O Rodrigo Maia está dizendo que vai ter quorum. O melhor para o governo é continuar a bem-sucedida operação no Rio, que não é pontual. E votar a reforma da Previdência.

TEMOR DE EXPOSIÇÃO ADVERSA
Também foi avaliado no encontro que, se houver quorum para votação, o melhor para o governo seria encurtar ao máximo a sessão. Isso pode ser feito se algum deputado apresentar requerimento de encerramento da discussão. Um dos temores dos parlamentares pró-Temer é a alta exposição na mídia, principalmente na televisão aberta. Como o Planalto julga ter margem confortável de votos, o mais vantajoso seria liquidar a votação o quanto antes.

Os partidos que fecharam questão a favor de Temer somam mais de 200 deputados. O governo precisa de pelo menos 172 dos 513 deputados que não votem pelo prosseguimento da denúncia — ou seja, votando a favor de Temer, faltando ou se abstendo de votar.

— Vamos trabalhar para que a sessão acabe ainda no mesmo dia — afirmou o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE).

Temer também tem usado as redes sociais nos últimos dias com maior intensidade, parte da investida para melhorar sua imagem junto à população, já que, segundo a mais recente pesquisa do Ibope, ele tem apenas 5% de aprovação.

Foram três vídeos em 18 horas, entre sexta-feira e sábado. Ele tratou do envio de Forças Armadas para o Rio, da antecipação do 13º salário dos aposentados e pensionistas do INSS e elogiou ações do governo na economia. Ontem, divulgou imagens de sua visita ao Rio em sua conta no Twitter. Em uma delas, escreveu: “Estamos sobrevoando o Rio de Janeiro e acompanhando a execução das ações conjuntas de segurança”.

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