quarta-feira, 19 de julho de 2017

Temer e Maia disputam votos do PSB

Dez deputados dissidentes do PSB estão no centro de uma disputa entre o presidente Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O PMDB quer os votos deles em favor de Temer. Maia, que pode suceder a Temer caso ele seja afastado, tenta leválos para o DEM.

Disputa por dissidentes

Temer e Maia concorrem para atrair grupo de deputados do PSB e provocam mal-estar

Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto, Júnia Gama e Leticia Fernandes, O Globo

-BRASÍLIA- A disputa por um grupo de cerca de dez dissidentes do PSB — que estão votando com o governo — provocou uma crise ontem entre o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em mais uma reunião fora da agenda oficial, Temer esteve com os dissidentes durante um café da manhã e disse que o PMDB está de “portas abertas”, tentando neutralizar a ação de Maia para filiar o grupo ao DEM. Diante do mal-estar, o ministro da Educação, Mendonça Filho, entrou em campo e marcou um jantar ontem à noite com Temer e Maia, na residência oficial da Câmara. Mas, nos bastidores, o clima foi de troca de farpas o dia inteiro. Os ministros Moreira Franco e Antonio Imbassahy também foram chamados para o jantar, pedido por Temer e organizado por Mendonça Filho.

Após receberem Temer para o café da manhã, dissidentes do PSB se reuniram com o próprio Rodrigo Maia, que há três meses vem negociando a filiação do grupo a seu partido. Temer acertou na véspera com o deputado Danilo Forte (PSB-CE) a ida a um café organizado pelo grupo na residência da líder do PSB na Câmara, deputada Tereza Cristina (MS). No encontro, o presidente disse que o partido também está aberto a bons quadros.

Segundo o deputado Fabio Garcia (PSB-MT), que participou do café, Temer disse que todos são muito bons e que seriam bem-vindos no PMDB e em qualquer sigla, mas disse que não houve convite explícito. Tanto Fabio Garcia como Danilo Forte votaram a favor de Temer, ou seja, contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que acusa Temer de corrupção passiva, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, no último dia 12. Danilo Forte saiu do PMDB por problemas políticos no Ceará. O encontro teve a participação de Tereza Cristina, Fabio Garcia, Danilo Forte e Adilton Sachetti (PSB-MT).

— Não teve um convite para que a gente vá para o PMDB. Ele disse que somos quadros tão bons e que o PMDB é sempre uma opção. Estamos, sim, conversando já há dias com o DEM — disse Fabio Garcia.

— Não é uma debandada do partido (PSB). No encontro, aventou-se a possibilidade de se ir para o PMDB, mas temos questões locais. A conversa (com Temer) foi tranquila — disse Tereza Cristina, após o encontro em sua residência.

À tarde, poucas horas depois de estar com Temer, a deputada participou de audiência com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Segundo o blog da jornalista Andréia Sadi no G1, o presidente teria apoiado reclamações dela em relação à Receita, que estaria se negando a mudar entendimentos regulatórios que beneficiariam a bancada ruralista.

O grupo do PSB tem enfrentando a ira da direção nacional. A líder, Danilo Forte e Fabio Garcia foram recentemente afastados do comando dos diretórios regionais pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira. Mas ontem Fabio Garcia já obteve uma decisão da Justiça do Mato Grosso para retomar o posto.

JOGO DE APROXIMAÇÃO E AFASTAMENTO
À tarde, Maia tentou minimizar o incômodo em relação às movimentações de Temer.

— Está tudo tranquilo. O problema não saiu daqui — disse Maia ao GLOBO. Mas o DEM reagiu com irritação à movimentação do PMDB em direção ao grupo de dez deputados do PSB. O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), considerou desleal a atitude do PMDB de tentar cooptar para o partido os dissidentes que já estão negociando com o DEM. Nos bastidores, há um jogo de aproximação e afastamento de Temer e Maia.

— Essa atitude (de Temer se reunir com dissidentes do PSB e de dirigentes do PMDB estarem também em contato com os deputados), foi recebida na bancada com um certo constrangimento. Não é atitude que se espera de um aliado. Não foi um ato leal — disse Efraim Filho.

Principal bombeiro do episódio de embate entre Temer e Maia, o ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que o jantar marcado por Temer para acalmar os ânimos de sua relação com Maia seria amigável. O encontro aconteceu na residência oficial do presidente da Câmara ontem à noite.

— Os dois concordaram em jantar e vai ser só beijos e abraços — minimizou Mendonça.
O presidente da Câmara e outros dirigentes do DEM têm se movimentado para ampliar os seus quadros, aumentando, assim, a importância no cenário nacional. Segundo parlamentares do partido, a negociação com o PSB já tratou até dos espaços regionais que seriam dados a esses deputados. A avaliação de políticos próximos aos dois lados é que, enquanto o DEM tem de fato possibilidade de crescer, o PMDB está “engessado” e com os comandos regionais já tomados, há anos, por caciques da legenda. Isso daria larga vantagem a Maia na disputa. No entanto, a entrada de Temer com a máquina do governo à disposição poderia contrabalançar.

Após ministros entrarem em campo para apaziguar a relação, interlocutores dos dois lados admitiram que o mal-estar foi gerado por uma “trapalhada” do presidente, que “se precipitou” ao se reunir com deputados do PSB e falar em possível migração para o PMDB.

— É uma coisa que incomodou o Rodrigo, mas a pressão da bancada do DEM é que gerou o mal-estar maior. Temer resolveu dar um ponto final nisso e marcou o jantar — contou um interlocutor do Palácio do Planalto.

Alguns caciques do PMDB também entraram em campo. O presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR), negou qualquer tentativa de barrar a filiação dos parlamentares ao DEM. Em sua conta no Twitter, Jucá reforçou que o DEM é “aliado de primeira hora” do PMDB: “Desminto a tentativa de intriga”.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), no entanto, deixou claro que o PMDB está sempre de “portas abertas” para parlamentares que queiram entrar no partido. O líder minimizou o episódio afirmando que cada parlamentar define o partido conforme as circunstâncias estaduais e que Temer quis ter um “ato de gentileza” com os deputados do PSB que têm votado com o governo:

— O presidente fez uma gentileza com a líder Tereza Cristina, do PSB. O PMDB está de portas abertas, se alguém decidisse vir para o partido, ganharíamos qualitativamente, mas o deputado tem que ver a realidade dos estados para decidir. Baleia Rossi elogiou o presidente da Câmara: — O Maia tem sido muito leal e muito correto.

PRESIDENTE DO PSB: TEMER FAZ COOPTAÇÃO
Sob risco de perder quase um terço de sua bancada na Câmara, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, reagiu aos movimentos de cooptação dos deputados da legenda. Para Siqueira, ao sondar parlamentares dissidentes sobre a possibilidade de deixarem o PSB, Temer está deixando seus afazeres como presidente da República de lado para atuar como um dirigente partidário. Segundo o presidente do PSB, a ação demonstra que a principal preocupação de Temer é “salvar a própria pele”. — O que me surpreendeu muito negativamente foi o presidente sair de seus afazeres presidenciais para tratar de um assunto tipicamente de chefe de partido. Ele se preocupa em fazer essa cooptação, como se o país não passasse pela gravíssima crise pela qual passa. Fica claro que, para Temer, a principal preocupação é salvar a própria pele — afirma Siqueira.

O presidente do PSB admite a existência de insatisfeitos em seu partido, alguns por questão de identidade, outros motivados pela posição da legenda em relação à reforma trabalhista, que fechou posição contrária à lei. Carlos Siqueira diz ver como algo normal uma eventual mudança de partido, mas diz que isso não é assunto para o presidente da República tratar.

— Isso revela o nível da política, a que ponto chegamos. Não quero dizer que é o fundo do poço para não desmoralizar o fundo do poço. Lateralmente, tem esse aspecto a ser resolvido entre o atual presidente e o pretendente a presidente. Mas seria mais útil se um e outro cuidassem dos problemas graves pelos quais a população passa — criticou Siqueira.

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