quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Falta bambu | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Se denúncia for enterrada, Janot não deve ter elementos nem ímpeto para disparar novas flechas contra o presidente

Depois de um dia de périplo por seis gabinetes nos diferentes lados da Praça dos Três Poderes e prédios adjacentes, é possível dizer que é unanimidade em Brasília a constatação de que, uma vez enterrada a denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva, Rodrigo Janot não terá elementos nem ímpeto para disparar novas flechas na direção do presidente. Acabou o bambu, reconhecem até aqueles de alguma maneira próximos ao procurador-geral.

“Esqueça isso. Não vem mais nada dali, para haver novas denúncias teria de haver novo conjunto probatório, e não há. E se, para marcar posição, ele apresentar novas denúncias, passa a correr sério risco de uma queixa-crime”, aposta um ministro. O mesmo raciocínio, sem o rancor em relação a Janot, foi ouvido pela coluna no Supremo Tribunal Federal e no Ministério Público Federal. Uma denúncia contra o presidente é medida extrema e não desejável, raciocina um procurador. Por isso mesmo, a Constituição estabeleceu dificuldades para que seja acolhida e não vire algo trivial. Para ser apresentada, tem de ser consistente, aponta. Ou seja, mesmo na vizinhança de Janot já se admite que o gato subiu ao telhado.

Resta saber se haverá quórum hoje para liquidar o assunto que se arrasta desde maio. O Planalto garante que haverá mais que os 342 votos totais necessários, bem como a cúpula da Câmara. Um auxiliar de Temer arrisca um número que seria “bonito” para o governo coroar uma vitória que lhe permitisse sair das cordas e tocar alguma pauta econômica: 257 votos entre favoráveis ao parecer pelo arquivamento e abstenções.

TROCA DA GUARDA
Janot e Raquel Dodge formam grupo de transição

Janot e Raquel Dodge designaram cinco representantes cada para a transição. O grupo escolhido pela futura PGR inclui Raquel Branquinho, que atuou no mensalão, e Alexandre Camanho, que presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República.

TÚNEL DO TEMPO
Temer sugeriu recondução de algoz já neste ano

Tanto assessores de Temer quanto amigos de Janot notam que foi recente o rompimento entre ambos. Já neste ano, em conversa no Planalto, contam os dois lados da contenda, o presidente chegou a dizer que reconduziria o chefe do MPF, que declinou.

PARTIDOS
Para MPF, provas contra Dilma por obstrução são ‘frágeis’

Se novas denúncias contra Temer perderam força, Janot também demonstra hesitação em denunciar Dilma Rousseff por obstrução da Justiça no inquérito aberto a partir da delação do ex-senador Delcídio Amaral. Dilma, Lula e petistas como José Eduardo Cardozo estão “pendurados” no STF nesse caso graças ao ministro Marcelo Navarro, do STJ, único com foro, cuja nomeação teria sido feita para frear a Lava Jato. Janot considera as provas frágeis, segundo pessoas próximas.

DOIS EM UM
Governo deve rever também meta fiscal para 2018

Além da revisão da meta fiscal para este ano, que deverá superar em pelo menos R$ 20 bilhões a previsão atual, de R$ 139 bilhões de déficit, o governo já considera inevitável mexer também na meta de 2018, de R$ 129 bilhões de rombo. Os dois anúncios deverão ser feitos de uma só vez. A avaliação é de que o desgaste será menor, e que rever o número agora ajudará na elaboração do Orçamento.

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