segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Temer ou Meirelles, quem capitalizará o PIB? | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Temer completa 1º ano com avanços, lista consultoria

Sexta-feira, 1º de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil do segundo trimestre do ano. A média das projeções colhidas pelo Valor Data indica estabilidade do indicador e aponta alguma melhora na abertura das contas. E ela será mais que comemorada. No governo e fora dele. Após retração de 7,5% nos últimos dois anos, se a atividade parar de cair o país estará no lucro.

O presidente Michel Temer, um dos interessados em capitalizar o feito, estará na China. Embarca amanhã. Lá, participa da cúpula do G-20. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles - duplamente interessado no dado do IBGE - estará no Brasil. Assim como os ministros do núcleo político de Temer. O titular do Planejamento, Dyogo Oliveira, estrela em ascensão na administração pública, integra a comitiva - lotada de políticos - do presidente.

O bom desempenho da economia ou uma piora menor - se capitalizada - aproxima Temer de uma possível, embora negada, candidatura à Presidência em 2018 ou, no mínimo, de um passe livre para a história. Meirelles cobiça esse destino, mas tem meta adicional a cumprir. É ministro da Fazenda. Portanto, responsável imediato pela gestão da política econômica - sucesso ou fiasco. É um aspirante à Presidência e nessa condição depende do sucesso do seu atual trabalho.

No Congresso promovido pela B3 no fim da semana passada, em Campos do Jordão, o ministro da Fazenda demonstrou grande otimismo com a recém anunciada proposta de privatização de empresas pelo governo e até com a encalacrada Reforma da Previdência - tudo ainda neste ano. Se mostrou refratário a críticas de renomados economistas.

Consultado sobre o seu futuro profissional, o ministro faz acrobacia e escapa do assunto. Elegante, indica que essa 'promoção' não está nos planos. Garante estar 100% dedicado à restauração da atividade, como se recuperar o crescimento econômico depois do caos - também político - não patrocinasse uma escalada para maiores desafios e responsabilidades. Patrocina.

Nesta semana, sem algum esforço, Temer estará mais distante do PIB do 2º trimestre. E poderá estar mais próximo de alguma má notícia, portanto, em maior desvantagem em relação ao seu ministro da Fazenda. Temer não estará no controle direto das expectativas crescentes de que novas denúncias contra ele poderão ser reveladas com delações de implicados na Operação Lava-Jato em fase de homologadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Em compensação, Temer parece ter acertado em cheio ao decidir pela venda de estatais no momento em que a meta fiscal - mesmo com o déficit bilionário ampliado - parece ameaçada.

Marília Stabile, diretora-executiva da.Map, consultoria especializada no monitoramento e análise de temas nacionais em artigos de formadores de opinião e em redes sociais, disse à coluna que a privatização da Eletrobras anunciada pelo governo no fim da segunda-feira, na quarta obteve a melhor percepção da economia como segmento analisado: 66%. Pela métrica da.Map, quanto mais próximo de 100, maior é a aprovação do tema em debate. Quanto ao impacto, a privatização só foi menos discutida que o desemprego - assunto que desde o início da crise puxa o debate nas redes.

A pedido da coluna, a.Map monitorou as redes sociais na sexta-feira para mensurar a repercussão da iniciativa da Petrobras de reestruturar a composição societária da BR Distribuidora, fazer um aporte de capital e um lançamento inicial de ações ainda neste ano. Mas ao contrário do posicionamento positivo dos analistas à privatização da holding do setor elétrico, menções à BR foram irrelevantes nos resultados observados pela consultoria. Já as menções diretas à Petrobras, que somaram, quantitativamente, 1.027 posts, não foram todos elogiosos. Entre os termos mais associados à estatal foram registrados: "Bendine", "Corrupção", "Destruiu", "Privatização" e "Eletrobras". A.Map não identificou citação do público às novidades sobre a reestruturação da subsidiária.

Na quinta-feira, véspera do anúncio do PIB do 2º trimestre, o governo Temer completa o 1º ano de gestão definitiva. E, apesar da herança maldita, levantamento realizado pelos economistas Luiz Castelli e Rafael Oliveira, da GO Associados, a pedido da coluna, mostra que houve avanços econômicos importantes nesse período: emenda do teto de gastos, nova Lei das Estatais, redução do número de ministérios, reforma do Ensino Médio, devolução de R$ 100 bilhões do BNDES para o Tesouro, Lei do Pré-Sal e choque de credibilidade na gestão da Petrobras, suspensão do Ciências sem Fronteiras, Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Lei da Terceirização, mudança nas regras do cartão de crédito, aumento dos impostos sobre combustíveis, liberação do FGTS e Reforma Trabalhista.

Medidas ainda em tramitação: privatização e concessão de novos empreendimentos, reoneração da folha, novo Refis, reforma tributária e reforma da Previdência, liberação do PIS-Pasep, privatização da Eletrobras e reestruturação societária da BR Distribuidora.

A suspeita de que o exame de algumas dessas medidas poderá exaurir o Congresso, combinada à certeza de que não será fácil chegar a um acordo para aprovar a reforma da Previdência, fez com que o governo adiasse a retomada das negociações. Mas sequer houve repercussão no mercado financeiro, dada a profusão de iniciativas anunciadas pelo governo.

Mas nada de ilusões. As matérias mais pesquisadas no site do Valor, tanto na sexta-feira quanto na semana passada, retrataram especialmente as questões levantadas pelo governo. As que o governo têm apresentado como alvo de preocupação. O novo texto do programa de renegociação tributária, Refis, foi busca constante. O risco de o governo cometer crime fiscal devido ao imenso déficit também. Mas a líder de leitura tratou da desconsideração pela Receita Federal da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de não cobrar INSS sobre um terço de férias e aos primeiros 15 dias de afastamento de empregado - em razão de doença ou acidente.

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