segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Novas velhas caras | Ricardo Noblat

- O Globo

“Em nenhum país um chefe de governo permaneceria no cargo depois de acusações tão graves quanto as feitas contra Temer”. JOAQUM BARBOSA, ex-ministro do STF

Uma notícia boa e outra má para os brasileiros aflitos (para os eternos satisfeitos não fará diferença). A boa: só faltam 483 dias para que acabe o governo Michel Temer. Sim, é logo ali! A má notícia: ainda restam 483 longos dias de vida ao governo Michel Temer. Ou 11.592 opacas horas. Exatos 695.520 minutos amargos. Ou para os que se sentem culpados por isso, 41.731.200 intermináveis segundos.

AO TODO, JÁ SE PASSARAM 475 DIAS desde que Temer sucedeu a Dilma, primeiro como presidente provisório a partir de maio de 2016, passando a presidente definitivo em agosto do ano passado e até 31 de dezembro do próximo ano. Sobreviveu ao discurso do golpe que a oposição, à falta do que propor, insiste em manter. Passou no teste da denúncia por corrupção, arquivada pela Câmara.

ESTÁ PARA SER ALVO DE MAIS uma flechada da Procuradoria-Geral da República, essa também por corrupção, obstrução da Justiça e, talvez, formação de organização criminosa. Salvo o improvável — a descoberta de que há manchas de batom em sua cueca —, outra vez escapará da morte súbita. E assim seguirá sangrando até o último dos seus dias como aconteceu com José Sarney nos idos de 1980.

SEM DINHEIRO PARA QUASE nada, com apenas 5% de aprovação, carente de sólido apoio no Congresso para vencer a pinguela que levaria o país às portas do futuro como prometeu, a Temer só restará recolher-se à sua insignificância, desfrutar das miçangas do cargo e assistir contrariado à abertura precipitada da temporada de caça ao seu substituto.

É O QUE OCORRE. OS POLÍTICOS já não ligam para ele, a não ser na incansável tarefa de cobrar cargos e sinecuras em troca de votos que impeçam sua queda. Os aspirantes a candidato à Presidência da República desembestam numa corrida insana. Os partidos começam a tecer coligações de olho no potencial financeiro e no tempo de propaganda eleitoral de cada um no rádio e na televisão.

UMA CARA NOVA QUE AMBICIONA a vaga de Temer apresentou-se na semana passada. Nova por nunca ter disputado uma eleição. Nova por negra num país mestiço jamais presidido por um negro. Nova porque pretende se aproveitar da repulsa da maioria dos eleitores às caras de sempre. No seu melhor estilo, a cara nova de Joaquim Barbosa, o algoz dos mensaleiros, debutou nas páginas do jornal “Valor.”

E QUE ESTREIA! Por ela, a repórter Maria Cristina Fernandes foi obrigada a esperar seis meses. E a não fazer perguntas sobre três assuntos: Judiciário, Supremo Tribunal Federal e Operação Lava-Jato. Foi como “ir a Roma sem ver o Papa”, reconheceu ela. Embora o Papa negro e autoritário estivesse à sua frente dizendo unicamente o que desejava e imune a contestações.

O EX-MINISTRO NÃO DISSE QUE é candidato. Mas falou como se fosse. Bateu duro em Temer e nos “políticos inescrupulosos” que reduziram “a frangalhos” as instituições do país. Referiu-se ao impeachment de Dilma como algo patético. Criticou o parlamentarismo. E poupou Lula. Limitou-se a aconselhá-lo a usufruir da vida “e do dinheiro que ganhou com suas palestras”, não com outras coisas.

ENQUANTO O PREFEITO JOÃO DORIA (PSDB-SP), para irritação do seu criador Geraldo “Hillary” Alckmin, perambula por aí como o executivo dinâmico e o anti-Lula por excelência, Barbosa veste o figurino do “candidato da reconciliação”, capaz de unir o que o PT separou. Quem não o conheça bem que o compre.

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