segunda-feira, 25 de setembro de 2017

‘O pior problema que temos hoje é o AfD’

Para deputado federal, a coalizão de seu partido com o da chanceler possibilitou o crescimento de extremistas

Graça Magalhães | Ruether / O Globo

BERLIM - Filho de um finlandês e uma alemã, na antiga Alemanha Oriental, Helge Lindth estava em suspense na noite de ontem para saber se o resultado magro do SPD, de 21%, um dos piores da sua História, custaria seu mandato de deputado federal na lista da cidade de Wuppertal. Para ele, os anos de coalizão dos dois grandes partidos causaram letargia política e tornaram a extrema-direita possível.

Qual foi o erro dos partidos da “grande coalizão”?

O principal foi reunir os dois grandes partidos em um governo, dando às pessoas a impressão de que não havia opção. O SPD sofreu ainda mais porque não conseguiu “vender” bem tudo de positivo que conseguiu impor no governo Merkel. A chanceler agia como se tudo de bom no governo fosse seu mérito. Foi o SPD, e não Merkel, que atuou para a redução dramática do desemprego. Foram as reformas durante o governo (do ex-chanceler Gerhard) Schröder que ajudaram na queda do desemprego.

Se a coalizão com o FDP e os verdes não for possível, o SPD aceitaria uma nova aliança ou apoio passivo a Merkel?

O SPD vai se sentar no banco da oposição. O partido está em crise e precisa desses anos na oposição para se regenerar e revitalizar sua luta pelo interesse dos trabalhadores, como era na sua origem.

O SPD não difere muito da CDU. Foi o SPD que adotou o programa da CDU ou o contrário?

Foi Merkel quem transformou seu partido em uma CDU social-democratizada. Ela assimilou características do SPD e dos verdes, na tentativa de tornar os dois partidos desnecessários. O pior é o problema que temos hoje, o AfD. Os eleitores querem partidos com características próprias para ter a opção de escolher um ou outro. Se todos são iguais, elas buscam a opção nos extremos, da direita ou da esquerda.

Qual é o principal desafio do próximo governo?

No plano da Europa, é preciso continuar a integração, o que pode ser feito com o presidente francês, (Emmanuel) Macron. No plano interno, é preciso acabar com o setor de salários baixos, tornar a moradia financiável, para que as pessoas não gastem quase tudo que ganham pagando o aluguel. Outro desafio é na educação. A Alemanha, que no passado liderava o setor de tecnologia, ocupa hoje um segundo ou terceiro lugar nas inovações. E há ainda a crise dos refugiados. Embora cheguem menos refugiados, há crise ainda no Mediterrâneo, onde os fugitivos continuam morrendo afogados. E alguns países, como a Itália, precisam arcar mais do que outros com o problema. O ideal seria conseguir dividir os fugitivos entre todos os países do bloco.

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