sábado, 9 de setembro de 2017

Todos no mesmo saco | Merval Pereira

- O Globo

Temer está seguro sobre JBS, mas em perigo com denúncias contra PMDB. A situação patológica da política brasileira faz com que o presidente Michel Temer sinta-se seguro em relação à confusão instalada sobre os áudios de sua conversa com Joesley Batista e, ao mesmo tempo, esteja em perigo com as denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a cúpula do PMDB, classificada como “organização criminosa”.

À denúncia contra a cúpula do Senado feita ontem se seguirá a contra a da Câmara, em que estão envolvidos o próprio Temer e seus principais assessores, sejam os que já estão presos, como Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha, sejam os ainda exercendo cargos no governo, até mesmo ministeriais, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Ontem o presidente ganhou tempo com a decisão do ministro Luiz Edson Fachin, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de levar ao plenário o pedido de sua defesa de suspender uma provável segunda denúncia contra Temer até que as investigações sobre a delação premiada dos donos da J&F terminem.

O segundo passo será pedir que o Supremo anule todas as provas baseadas na gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu. Com isso, o governo pretende inviabilizar uma segunda denúncia, que seria baseada na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, que já foi homologada. Funaro, que era o operador clandestino do PMDB, confirmou que recebia dinheiro de Joesley Batista para ficar calado sobre os crimes do PMDB, fato que foi relatado ao presidente Temer pelo próprio Joesley na fatídica noite do Jaburu e recebeu seu apoio com a frase emblemática “tem que manter isso, viu?”.

Funaro delatou todos os principais líderes do partido que hoje está no governo e foi a base da denúncia contra a cúpula do PMDB, lastreada em outras delações premiadas, inclusive a do ex-senador Sérgio Machado, que, como presidente da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, indicado por Renan Calheiros, desviou recursos para o grupo e depois gravou vários deles.

A PGR os acusa de “receberem propina de R$ 864 milhões e gerarem prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e de R$ 113 milhões aos da Transpetro”. O grupo controlava as nomeações da diretoria de Abastecimento e da diretoria Internacional da Petrobras, bem como para cargos da Transpetro.

Na semana passada, Janot já denunciara ao Supremo Tribunal Federal por integrarem organizações criminosas políticos do PP e do PT. Uma das peculiaridades da geleia geral em que se transformou nossa política partidária é que o fato de todos os principais partidos, no governo e na oposição, estarem denunciados pelos mesmos crimes faz com que todos se sintam mais próximos e protegidos, pois os pedidos de processos se acumulam no Supremo Tribunal Federal e levarão presumivelmente mais tempo para serem analisados do que eles terão para tentar novos mandatos e garantirem o foro privilegiado novamente.

Um novo alento estimula a base aliada do presidente Temer, reagrupada pela esperança de que o procurador-geral da República sairá desgastado de seu mandato. Com sinais de melhora da economia, já estão dispostos novamente a encarar a reforma da Previdência, na esperança de que a economia se recupere até o próximo ano, fortalecendo o grupo nas eleições gerais.

A probabilidade, cada vez mais alta, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não possa concorrer, e o desgaste do PT, faz com que imaginem novamente o presidente Michel Temer como alternativa viável à reeleição. Essas reviravoltas cíclicas fazem parte da patológica situação em que nos encontramos, em que num dia descobre-se que os mocinhos são ladrões e, no seguinte, os ladrões sonham parecer mocinhos novamente aos olhos atônitos dos cidadãos, que já não sabem em quem confiar e, por via das dúvidas, cravam em todos os possíveis presidenciáveis altas taxas de rejeição.

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