terça-feira, 31 de outubro de 2017

Destruindo riqueza: Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A economia cresce encontrando soluções, em geral tecnológicas, para reduzir ineficiências e, nesse processo, libera mão de obra.

Um exemplo esclarecedor é o do emprego agrícola nos EUA. Até 1800, a produção de alimentos exigia o trabalho de 95% da população do país. Em 1900, a geração de comida para uma população já bem maior mobilizava 40% da força de trabalho e, hoje, essa proporção mal chega a 3%. Quem abandonou a roça foi para cidades, integrando a força de trabalho da indústria e dos serviços.

Esse processo pode ser cruel para com indivíduos que ficam sem emprego e não conseguem se reciclar, mas é dele que a sociedade extrai sua prosperidade. É o velho fazer mais com menos.

A internet, com sua incrível capacidade de conectar pessoas, abriu novos veios de ineficiências a eliminar. Se você tem um carro e não é chofer de praça nem caixeiro viajante, ele passa a maior parte do dia parado, o que é uma ineficiência. Se você tem um imóvel vago ou mesmo um dormitório que ninguém usa, está sendo improdutivo. O mesmo vale para outros apetrechos que você possa ter, mas são subutilizados.

Aplicativos como Uber, Airbnb e demais tecnologias de compartilhamento, ao ligar de forma instantânea demandantes a ofertantes, permitem à sociedade fazer muito mais com aquilo que já foi produzido (carros, prédios, tempo disponível etc.), que é outro jeito de dizer que ela fica mais rica (não discuto aqui a repartição dessa riqueza).

É claro que isso só dá certo se o poder público não estragar tudo, criando regulações desnecessárias que embaracem os acertos voluntários entre as partes. Lamentavelmente, é isso que o Senado deve fazer ao aprovar as novas regras que burocratizam a oferta de serviços como o Uber, tornando-os indistinguíveis dos táxis. Dá para descrever isso como a destruição de riqueza.

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