sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Temer: país ficou mais forte após ‘suposta crise política’

Apesar de ter perdido votos, presidente não cogita mudar ministros

Leticia Fernandes | O Globo

-BRASÍLIA- Um dia depois do arquivamento da denúncia por organização criminosa e obstrução de Justiça, o presidente Michel Temer publicou ontem um vídeo no Twitter para dizer que o Brasil teve “suas instituições testadas de forma dramática”, mas que o país “ficou ainda mais forte” depois disso. No mesmo dia, em evento no Palácio do Planalto, chamou as turbulências dos últimos meses de “suposta crise política”.

— No fim, a verdade venceu — afirmou o presidente.

O placar pelo arquivamento da segunda denúncia contra Temer foi menor que o contabilizado na primeira denúncia. Em um intervalo de menos de três meses, o presidente perdeu 12 votos. Apesar das duas denúncias que enfrentou e que paralisaram o governo, Temer disse que a normalidade do país não foi afetada.

O presidente disse ainda que pretende fazer mais pelo país com a ajuda do Congresso e agradeceu aos parlamentares que lhe concederam placar favorável no plenário da Câmara.

— Quero até aproveitar para agradecer às deputadas e deputados que na votação de ontem (anteontem) reafirmaram o compromisso comigo e com o nosso governo — disse o presidente no Twitter, acrescentando: — A todos que mantêm a fé no Brasil, a hora é agora. É hora de transformar o país e superar nossos desafios. Agora é avançar.

Temer avaliou que é hora de “ter foco no que interessa ao nosso povo” e citou conquistas econômicas:

— A perseverança derrotou o medo. Meu compromisso é fazer nosso país respeitado no cenário internacional, confiável nas relações comerciais, com credibilidade para atrair investidores nacionais e estrangeiros.

AGRADECIMENTOS A EQUIPE MÉDICA
Apesar de ter minguado o placar pelo arquivamento da denúncia, o governo não deve fazer modificações no primeiro escalão antes de março de 2018, sete meses antes das eleições. Eventuais trocas em ministérios devem ficar para esse momento, dizem interlocutores do presidente.

O PSDB, que deu mais votos contra Temer do que a favor, apesar de ter quatro ministérios, deve manter os cargos. A principal reclamação de partidos da base aliada, em especial os do centrão, é em relação ao ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. Ele ocupa um dos cargos mais cobiçados e que historicamente esteve na mão do PMDB. Nas últimas semanas, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, acabou assumindo informalmente a articulação política do governo por conta da insatisfação de muitos parlamentares, que se negavam a despachar com o ministro tucano.

A avaliação do Planalto é que, apesar da ala contrária a Temer que desequilibrou a votação, o PSDB sempre foi a favor da reforma da Previdência, principal bandeira do governo a partir de agora, e que a ajuda da legenda será fundamental para avançar a proposta no Congresso.

— A partir de março, naturalmente vai acontecer um esvaziamento do PSDB, até porque ele deve seguir um caminho próprio nas eleições. Nesse momento, virão quadros que estarão afinados com o projeto eleitoral do governo e aí teremos mudanças ministeriais — afirmou um auxiliar de Temer.

Depois de ter ficado internado na quarta-feira, após sentir um desconforto urológico, o presidente chegou ontem por volta de 12h ao Planalto e trabalhou normalmente, com sete compromissos na agenda oficial.

“Os médicos me recomendaram desacelerar, mas temos muito o que fazer”, publicou o presidente no Twitter, que também agradeceu à equipe médica que o atendeu no Hospital do Exército: “Agradeço aos militares da equipe médica e integrantes do HMAB pela dedicação e atenção que tiveram enquanto estive no hospital”.

Temer deve viajar a São Paulo hoje ou amanhã, após atender aos apelos do médico Roberto Kalil, que cuida de sua saúde. Na capital paulista, passará por novos exames e vai tirar a sonda que colocou no Hospital do Exército em Brasília, para desobstruir a uretra. Ontem, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), intimou a Polícia Federal a formular perguntas a serem apresentadas a Temer numa investigação sobre um decreto editado neste ano no setor de portos. No despacho, Barroso, que é relator do caso, registrou que a PF ainda não apresentou as questões para interrogar Temer, como autorizado no início deste mês.

Temer é um dos alvos do inquérito que apura suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, junto com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, executivos da Rodrimar, empresa concessionária no Porto de Santos.

A suspeita é que Temer recebeu propina pela edição, neste ano, de um decreto que teria beneficiado a empresa. A defesa de Temer e a Rodrimar negam e dizem que a norma atendeu a todo o setor. (Colaborou Patrícia Cagni)

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