quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Doria: só frente de centro derrotará Lula e Bolsonaro

Tucano prega articulação rápida de candidatura: ‘em abril será tarde’

Jeferson Ribeiro / O Globo

É necessário e urgente criar uma frente de partidos para lançar uma candidatura de centro que seja capaz de vencer a eleição presidencial de 2018, que está polarizada entre um candidato da “extrema direita”, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), e outro de “extrema esquerda”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem o prefeito de São Paulo, João Doria, que tem se movimentado nos últimos meses para ganhar a preferência do PSDB para a disputa da Presidência no ano que vem.

Segundo ele, Bolsonaro e Lula estão fortalecidos, e isso “acendeu” a luz amarela entre os políticos que não defendem qualquer um dos dois polos. Doria, porém, afirmou que estava recomendando com “modéstia e com muita humildade que os líderes partidários pudessem conversar” para criação da frente, indicando que ainda não há uma articulação nesse sentido.

— A hora é agora. Estamos a um ano da eleição. Se não aproveitarmos esses dois, três meses para consolidar uma aliança entre os partidos que têm essa mesma crença, a partir de abril será tarde — alertou o prefeito.

No domingo, o colunista Lauro Jardim revelou os números de uma pesquisa do Ibope, realizada entre os dias 18 e 22 de outubro, mostrando que a intenção de votos no ex-presidente chegava a 35% e no deputado, a 13%. Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO analisaram que a vantagem deles é fruto da atuação dos dois como pré-candidatos. No caso do petista, segundo os analistas consultados, ainda pesa a seu favor o recall por ter presidido o país por oito anos durante um período de estabilidade econômica e melhoria das condições de vida, principalmente das pessoas de baixa renda.

ALIADO INCÔMODO
Questionado se uma aliança de centro envolveria o PMDB e o presidente Michel Temer, Doria afirmou que não é uma aliança em torno do presidente, denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça.

— Não é em torno do Temer, mas o PMDB é uma sigla importante no processo de aliança no Brasil. O PMDB, o PSDB, o DEM, o PPS, o PP, o PR, O PRB, o PV e o próprio PSB, ou parte dele. Não vejo candidatura vitoriosa no Brasil se esses partidos não estiverem aglutinados — afirmou o prefeito de São Paulo a jornalistas após uma palestra na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

O tucano insistiu que ou se faz essa articulação ou a vitória estará nas mãos de Lula ou Bolsonaro.

— Neste momento, é a defesa do Brasil, não é a defesa nem do PSDB nem do governo Temer. Se não houver capacidade de união desses partidos em torno de candidaturas maduras, efetivas e transformadoras, nós entregamos a eleição de 2018 para dois candidatos, para Lula e Bolsonaro. O bônus (dessa aliança) é uma candidatura fortalecida, ajudar a criar esperança para o Brasil. O ônus é a falta de uma candidatura que unifique o país — argumentou.

Doria, que é cotado para ser candidato à Presidência pelo PSDB e chegou a rivalizar nos últimos meses com seu padrinho político, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que não será um agente “fracionador em São Paulo e nem no PSDB”. O prefeito gostaria que, até a convenção nacional do partido, marcada para 9 de dezembro, os tucanos paulistas já pudessem ter uma definição de quem poderia representar essa frente de centro.

Ele buscou se distanciar da ideia de uma chapa pura do PSDB para a disputa presidencial, como chegou a ser ventilada por uma ala da legenda nos últimos dias. Segundo ele, é necessário um amplo arco de alianças para garantir tempo de TV suficiente para apresentar um projeto de governo e vencer os candidatos que ele classificou como radicais.

Perguntado sobre uma eventual candidatura do apresentador de TV Luciano Huck, que aparece na pesquisa Ibope com 8% das intenções de voto num cenário sem a presença de Lula, o tucano disse não acreditar que ela seja capaz de aglutinar os partidos.

— Respeito e gosto muito do Luciano, que é meu amigo. Mas não creio que essa é uma força aglutinadora. Precisamos da força partidária — sentenciou.

PARCERIA COM CRIVELLA
Mais cedo, Doria e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, anunciaram uma parceria para compra conjunta de medicamentos a partir de dezembro. A união entre os dois também deve se estender para a troca de experiências em outras áreas. A gestão paulistana pode compartilhar a tecnologia do Corujão da Saúde, que possibilita às pessoas que aguardam na fila do sistema público de saúde por exames e cirurgias serem atendidas em horários alternativos em hospitais da rede privada. Já a gestão carioca pode exportar o aplicativo de táxis criado para atender os motoristas do Rio.

O anúncio da parceria foi marcado por um protesto dos profissionais das organizações sociais (OS) da Saúde que estão com salários atrasados por falta de repasses do governo municipal.

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