terça-feira, 28 de novembro de 2017

Raymundo Costa: Alckmin avança, mas prévia é ameaça real

-Valor Econômico

O PSDB e a fórmula gasta e desbotada do acordo de cúpula

O governador Geraldo Alckmin está na ofensiva e em menos de duas semanas após as convenções regionais do PSDB, da qual saiu amplamente vitorioso, suas tropas renderam e capturaram os adversários na disputa pela presidência do partido, o governador Marconi Perillo (GO) e o senador Tasso Jereissati (CE). Alckmin avança com a força de São Paulo na retaguarda - o que não quis dizer muita coisa para José Serra em 2002 e 2010 e a ele mesmo, em 2006 -, mas talvez tenha que enfrentar uma prévia para confirmar sua indicação. "Eu não vou desistir", diz o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, também pré-candidato.

O acordo para firmar o pacto em favor da eleição de Alckmin seria selado ontem à noite em São Paulo, mais uma vez num jantar de cúpula tão ao gosto dos tucanos, com as presenças de Alckmin, Tasso, Perillo e Fernando Henrique Cardoso. A conversa deveria passar pela indicação do senador José Serra ao governo de São Paulo, que também conta com rivais dispostos a desafiá-lo em prévia. O PSDB vai decidir já na reunião da Executiva Nacional desta quinta-feira sobre a inclusão da exigência de prévias nos estatutos do partido para a escolha de candidatos a cargos executivos. Virgílio é um crítico do atual sistema de cúpula, uma fórmula gasta e desbotada que não deu certo nas quatro últimas eleições.

O prefeito lembra-se que em 2006 participou de uma reunião no Rio de Janeiro com Fernando Henrique Cardoso, Tasso, que à época presidia o PSDB, Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio à época secretário-geral do PSDB, e Aécio Neves, na condição de governador de Minas Gerais. Em discussão, quem seria o candidato tucano a presidente em 2006. Serra vinha de uma derrota para Lula, quatro anos antes, mas estava bem posicionado nas pesquisas e venceu por 3 X 2 com os votos de FHC, Virgílio e Eduardo Paes. Algum tempo depois houve outra reunião, em São Paulo, desta vez com um colégio ainda mais reduzido: FHC, Tasso e Aécio. Serra perdeu por 2 X 1 e Alckmin foi o candidato. "A manada acompanhou a voz de comando. Resultado: Alckmin teve menos votos no segundo turno que no primeiro e o PSDB está há quatro eleições sem vencer uma disputa".

Para Alckmin, a presidência do PSDB é importante por lhe dar acesso aos recursos do partido e a um palanque na pré-campanha, especialmente a partir de abril, quando deixará o governo de São Paulo para concorrer às eleições. Para a campanha de Aécio Neves, em 2014, o modelo funcionou muito bem. Mas não foi tão bom para a dinâmica partidária, como reconhece o presidente encarregado de fazer a transição no PSDB, o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman.

As situações são distintas. Na época de Aécio não houve disputa, o então governador mineiro era o candidato incontestável do partido. Virgílio agora diz que não arreda o pé e se prepara para golpear as fortes guarnições de Alckmin, cujo mapa parece conhecer bem.

Tão logo Alckmin for confirmado na presidência do partido, o que julga uma "insensatez", Virgílio vai fazer três pedidos ao novo comandante. O primeiro é a lista dos 1,2 milhão de filiados ao PSDB, com endereço, telefone e e-mail, pedido que fez também a Tasso Jereissati e Alberto Goldman, sem sucesso. O segundo é que "a pessoa jurídica Geraldo Alckmin, o presidente do PSDB, destine metade dos recursos do partido para as campanhas, na prévia, das pessoas físicas pré-candidatas", por enquanto ele mesmo e Alckmin. Por fim marcar dez debates em dez cidades brasileiras. "O Alckmin está se escondendo de mim", provoca Virgílio. O prefeito quer cobrar de Alckmin as vezes em que São Paulo se opôs ao resto do país em demandas federativas, especialmente com o Amazonas.

Virgílio quer virar o PSDB de ponta cabeça. Além de acabar com as escolhas de cúpula, defende que seja adotada uma resolução em relação às alianças partidárias, nos moldes empregados pelo PT. Para as eleições de 2018 quer que sejam proibidas coligações com o PMDB e o PP, além do PT, é claro. "Às favas com o tempo de televisão das alianças, é assim que se começa a vender a alma ao diabo, depois não se consegue nem governar". E posições programáticas "retas", o que não precisa esperar pela eleição, deveria ser feito já, como votar a reforma da Previdência. "Ela [a reforma previdenciária] tira votos, inclusive meus, mas salva o Brasil. Não é possível o partido abrir questão em uma causa tão importante para nós".

Impressiona como Virgílio é cáustico em relação a Alckmin e sua candidatura. O prefeito diz que o governador de São Paulo só é candidato porque se convenceu que Lula será impedido pela Justiça e a Presidência da República lhe cairá no colo. Diz que levará a disputa até o fim, mas não vai sair do PSDB se perder, como já teriam dado a entender Alckmin, ao pensar no PSB como uma alternativa, e João Doria, ao posar de mãos dadas ora com Romero Jucá (PMDB) ora com Rodrigo Maia (DEM).

Virgílio é uma pororoca amazônica, faz estrondos, mas não parece ter efetivamente como barrar a onda Alckmin que avança rio adentro do PSDB.

"O PSDB foi abalado em vários aspectos, nesse período", diz Alberto Goldman. "A direção partidária não funcionava como direção política. Agora [com o acordo em torno de Alckmin] podemos ter uma direção mais coletiva para que o PSDB possa voltar a ter o papel que teve na política nacional e ser o polo aglutinador do centro, nas eleições de 2018". Para Goldman, "as diferenças não são tão díspares assim". Pode ser. O chamado centro político é um campo aberto a uma disputa onde ora se aposta num noviço (João Doria) ou outsider (Luciano Huck) e ora em um nome sênior como Alckmin. Basta ver a pesquisa feita pela XP Investimentos em expressivo segmento do mercado financeiro, que em agosto apontou para Doria (42%) e em novembro fez uma inflexão em direção a Alckmin (46%) como provável vencedor em 2018.

O desafio para Alckmin agora é unir o PSDB e atrair aliados. Virgílio pode ser apenas a ponta de algo maior. O prefeito João Doria, por exemplo, não deve ser considerado fora do páreo. Há uma pesquisa gigante em campo para "levantar Doria" aparentemente encomendada no sistema financeiro. Ele está muito bem na foto, segundo uma preliminar.

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