sábado, 2 de dezembro de 2017

João Domingos: O fator Previdência

- O Estado de S. Paulo.

Começam a ser criadas as condições minimamente favoráveis à reforma

No universo de incertezas que tomou conta da política brasileira a menos de um ano da definição de qual grupo assumirá o poder no País, e quem o comandará, uma certeza paira sobre todos: a reforma da Previdência terá impacto direto na eleição presidencial.

Se a proposta for aprovada, seja ela enxuta, mais ou menos enxuta, ou até aguada, os defensores da reforma previdenciária sairão fortalecidos e terão uma bandeira para apresentar ao eleitor. Poderão dizer, por exemplo, que eliminaram privilégios do setor público em relação ao setor privado, que tiveram responsabilidade na preservação do sistema, evitando o colapso iminente, e que a economia conseguida com a reforma poderá ser usada para novos investimentos públicos.

Em caso de derrota da proposta, os defensores da reforma sairão da votação enfraquecidos, não só porque os contrários vão dizer que evitaram a retirada de direitos dos trabalhadores e aposentados, mas também porque, na última votação importante da atual legislatura, não tiveram competência para vencer. A consequência para a eleição será sentida durante toda a campanha.

Os partidos que fazem oposição ao governo de Michel Temer já perceberam que a reforma da Previdência praticamente definirá o futuro das forças políticas do País. Por isso mesmo é que, independentemente da divisão ideológica e de concepção de mundo que seus partidos carregam, há um ponto de convergência entre eles: a luta contra a aprovação da reforma, visto que ela fortalecerá o centro político.

Do lado do governo e dos que apoiam a reforma previdenciária, tal percepção ainda engatinha. À exceção de uns poucos, entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vê na aprovação da proposta a abertura do caminho para a campanha presidencial com possibilidades reais de vitória, boa parte do grupo que está no poder ainda não se convenceu da importância do tema.

Estão muito mais preocupados é com a possibilidade de terem o nome exposto num cartaz de alguma corporação de servidores públicos do que em assumir uma posição a favor da reforma. Agem assim por imaturidade política e ignorância ideológica, ou porque estão querendo proteger um parente, um amigo ou a si mesmos quando se trata da manutenção dos privilégios.

Quando o Congresso começar a examinar a reforma da Previdência, deputados e senadores vão se deparar com uma novidade. Pela primeira vez em muito tempo começam a ser criadas na sociedade as condições minimamente favoráveis à reforma da Previdência.

A propaganda do governo a respeito da reforma previdenciária melhorou. Em vez de uma maçaroca que não dizia a que veio, ficou mais direta e entrou na questão dos privilégios inegáveis dos servidores públicos quando comparados aos da iniciativa privada. Percebe-se, enfim, que a população começa a entender que a reforma é necessária.

As peças que entidades ligadas aos servidores públicos têm exibido é que parecem aéreas, fora da realidade, feitas para outro mundo. Falam que o problema é a sonegação, o que pouca gente entende, e sobre dinheiro que deveria ir para a seguridade (palavra que não é do domínio de boa parte da população) mas que não vai. De quebra, atacam o governo, o que não é novidade. Recado objetivo mesmo, que é bom, não conseguem dar.

O jogo pode até não ter virado a favor dos que defendem a reforma. Mas não é mais tão desfavorável. Se não aparecer uma surpresa de última hora na área da corrupção, é possível que a reforma consiga caminhar.

De qualquer forma, o tema já colou em todos, de tal maneira, que não tem como não influenciar a campanha presidencial desde agora. O lado que fizer o trabalho político e de propaganda mais bem feito, seja para aprovar a reforma, seja para rejeitá-la, chegará à corrida presidencial em vantagem.

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