sábado, 23 de dezembro de 2017

José Murilo de Carvalho: 2018 o ano da incerteza

- O Globo

Tentar prever como será 2018 é uma fria e correr o risco de dizer bobagem. Mas como recusar um pedido da coluna? Vou para o sacrifício.

A incerteza sobre 2018 está concentrada, sobretudo, na política, mais precisamente no resultado das eleições presidenciais. Há três cenários plausíveis. O candidato mais forte até agora, Lula, pode ou não concorrer, pendendo decisão judiciária. Se puder, terá alta probabilidade de chegar ao 2º turno.

Nessa hipótese, poderá enfrentar com vantagem seu principal concorrente atual, Bolsonaro. Sua eleição reabrirá feridas geradas pelo impeachment e, se a tendência de 2016 se repetir, será acompanhada da redução da bancada de seu partido na Câmara e no Senado. Ele terá de exercer ao máximo sua capacidade de negociação, buscando alianças até com os defensores do impeachment.

O 2º cenário será disputar o 2º turno com Alckmin. É difícil fazer qualquer previsão.

O 3º cenário será uma eleição sem Lula. Assim, Bolsonaro também sairá enfraquecido porque sua força depende da polarização com o petista: suas campanhas alimentam-se mutuamente.

O leque de candidaturas será ampliado numa fragmentação favorável ao candidato mais conhecido, Geraldo Alckmin, do PSDB, caso não seja ele atingido por alguma denúncia grave.

O novo presidente, seja qual for, será atormentado pela acusação, dos derrotados, de que é fruto de uma eleição “ilegítima” pela exclusão de um candidato popular. Sua habilidade de aglutinação será também posta à prova.

O eleito terá de negociar alianças que garantam a governabilidade, mesmo as mais esdrúxulas. Será um teste do impacto do Mensalão e da Lava-Jato sobre a fisiologia e a corrupção que contaminaram nossa política.

Em qualquer cenário, o fiel da balança será o PMDB (agora MDB). Sua cúpula foi atingida pela Lava-Jato, mas seu peso político e sua capacidade de sobrevivência (a moda é dizer resiliência) não podem ser subestimados. Controla mais de mil prefeituras e tem as maiores bancadas no Congresso. Até agora, não tem candidato competitivo. Mesmo que não venha a ter, pode ser decisivo na eleição e com certeza apresentará a conta ao vencedor.

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José Murilo de Carvalho, historiador

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