terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Piñera terá que fazer acordos para governar

Maior desafio na condução de sua agenda será na Câmara, onde seu partido não tem maioria

- O Globo

-SANTIAGO- Eleito para mais um mandato, no domingo, o expresidente Sebastián Piñera, candidato da coalizão de direita Chile Vamos, deverá lidar com um Congresso onde não tem maioria, o que pode dificultar a implementação de suas promessas de campanha. Em discurso ontem, Piñera sustentou que vai recuperar o país com o plano de estímulo ao crescimento econômico do maior exportador de cobre do mundo e optar por políticas mais favoráveis ao mercado do que a atual presidente, Michelle Bachelet, de centro-esquerda. Politicamente, no entanto, o caminho não deve ser fácil.

O maior desafio será na Câmara dos Deputados, onde precisará fazer acordos, mas a configuração do Senado — que não teve uma renovação tão abrangente — também representará desafios para aprovação de suas pautas.

— Quero reafirmar um compromisso com o diálogo e os acordos. Podemos pensar diferente, mas nunca essas diferenças podem nos converter em inimigos — disse Piñera em sua primeira entrevista coletiva. — Há um mundo novo e moderno que já está batendo em nossas portas. Um mundo generoso e cheio de oportunidades para os países que queiram abraçá-lo e aproveitar seu potencial.

EM DISCURSO, TOM CONCILIADOR
Piñera, de 68 anos, que governou o Chile de 2010 a 2014, conquistou mais votos do que qualquer presidente do país desde seu retorno à democracia em 1990. Essa também foi a maior derrota para a coalizão de centro-esquerda, que tem dominado a política do Chile desde o final da ditadura de Augusto Pinochet. Mas, em seu discurso de ontem, Piñera preferiu o tom conciliador e prometeu firmar “compromisso com a unidade de todos os chilenos”.

— Vou propor grandes acordos para enfrentar e resolver os grandes problemas que afligem tantas e tantos chilenos. Amigas e amigos, podemos pensar diferente. Viva a diferença! Viva o pluralismo de ideias!

GOVERNO ‘MAIS LEGISLATIVO’
A composição do Congresso indica que, de fato, Piñera será obrigado a alcançar acordos com a nova oposição. Embora sua coalizão — o bloco Chile Vamos, que reúne os partidos Renovação Nacional (RN), UDI, Evopoli e PRI — tenha sida a mais votada nas legislativas de novembro, com a eleição de 72 deputados, não conquistou a maioria absoluta num Parlamento fortemente fragmentado com a entrada da Frente Ampla. O bloco mais à esquerda obteve 20 cadeiras de um total de 155 na Câmara dos Deputados, e um senador.

Mesmo assim, a esquerda acabou dividida entre a Frente Ampla e a Nova Maioria, com 43 deputados. Outros 14 assentos ficaram com a Democracia Cristã (DC), enquanto a Coalizão Regional Verde acabou com 4 deputados. Ainda resta uma vaga para o Pró-Chile (0,6%), e outra para um deputado independente.

— É possível que seu plano de políticas públicas se apoie mais nos ministérios que no Parlamento, que seja um governo mais ‘executivo’ e menos ‘legislativo’ — explicou ao “La Tercera” o analista Mauricio Morales, da Universidad de Talca. — De todos modos, será impossível realizar mudanças estruturais em um Congresso em minoria.

Piñera venceu em 13 das 15 regiões do Chile, incluindo Antofagasta, cidade pela qual seu rival, o jornalista Alejandro Guillier, é senador. Um dos trunfos da campanha foi a associação do opositor ao venezuelano Nicolás Maduro — nas redes sociais, partidários de Piñera passaram a chamar o Chile de “Chilezuela”. Piñera também conseguiu captar o voto dos eleitores descontentes com o ritmo lento das reformas sociais realizadas por Bachelet, sem no entanto, criticá-las.

— Não foi um voto ideológico na direita, ou na esquerda. Foi um voto muito pragmático. Votaram em quem apresentava mais certezas — explicou à AFP o analista Guillermo Holzmann.

O mercado comemorou imediatamente a eleição de Piñera, que prometeu dobrar o crescimento do país, atrair novos investimentos e reduzir de 27% a 25% a taxa de impostos sobre as empresas. Na abertura, o principal indicador da Bolsa de Comércio de Santiago avançou 6,2%, estimulado por empresas de mineração, construção e varejo.

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