domingo, 31 de dezembro de 2017

Vinicius Torres Freire: Promessa de vida e reconstrução

- Folha de S. Paulo

O ano que começa daqui a pouco é de aniversários políticos e econômicos tristes, datas de lembrança da morte da sensatez e da civilidade na conversa pública brasileira, se é que restou alguma conversa. Conviria fazer um luto rápido e tentar logo e outra vez recuperar o tempo e as oportunidades perdidas. Até porque a reconstrução vai demorar.

Vai fazer cinco anos que se destampou de vez o tumulto político lavado em ódio. Todas as flores do pântano floresceram a partir de Junho de 2013, embora não bem por causa das manifestações ou da maioria delas.

Vai fazer dez anos que começou o desatino econômico que em boa parte foi o responsável por nos enterrar nesta crise, rara até para este país primitivo e volátil.

Mais difícil do que restabelecer a economia será refazer a política. Jamais fomos governados por tanto tempo por tanta gente ao mesmo tempo tão desclassificada, descarada e incompetente como nesta década. Embora a política tenha se tornado especialmente podre por escolha própria, note-se que foram coalizões político-sociais que ampararam o saque do Estado, a bandidagem, o desatino econômico e o oportunismo político odiento.

As alternativas de lideranças seniores são quase nulas. Na melhor das hipóteses, podemos aspirar a uma mediocridade estável no próximo quadriênio. Seria um tempo para reparar o que está arruinado, arrumar as bases da economia e tentar recriar partidos, correntes e lideranças políticas, da esquerda à direita.

Reconstrução é a palavra adequada. Passamos por uma devastação que em geral apenas guerras costumam produzir.

O país ficou quase 9% mais pobre de 2013 a 2016. Dadas as expectativas atuais de crescimento, voltaremos ao nível de 2013 apenas em algum momento de 2022; na expectativa mais otimista, em 2020. Isto quanto a recuperar o que perdemos, a voltar ao mesmo nível de PIB per capita do encantado ano de 2013.

Mas isso é pouco. Quanto deve demorar para recuperarmos também o que deixamos de ganhar? Isto é, recuperar também o que a economia poderia ter crescido nos anos perdidos. Digamos que o país pudesse ter continuado a crescer à medíocre taxa de 2,7% ao ano (média do crescimento de 1996 a 2015). Deixemos um ano, 2015 ou 2016, para lá, um ano perdido mesmo de recessão feia, coisa que volta e meia acontece, é inevitável, "está no preço".

Se crescermos sem parar à taxa de 3,6% ao ano, ritmo que no momento parece bom além da conta, vamos recuperar o tempo perdido em 2026. Esse é o tamanho do desastre, uma medida da miséria que governos dementes e uma oposição sabotadora produziram. Quando voltarão os empregos perdidos e aqueles que a economia deixou de criar? É bem mais complexo especular, neste caso. Mas, se tudo der muito certo, não antes de cinco ou seis anos.

Faz já 40 anos, cometemos besteirões que nos têm condenado a ser o país do futuro medíocre, talvez sombrio. Vivemos intervalo de relativos progresso, estabilidade e sensatez nos anos de 1995 a 2008, nada brilhantes, mas animadores. Dá medo de pensar que esses 14 anos tenham sido exceção. Mas a estupidez, a violência, a pobreza e a desigualdade não são destino. São escolha.

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