segunda-feira, 1 de maio de 2017

Opinião do dia – José Álvaro Moisés

Quais os dados mais expressivos que a nova pesquisa do Núcleo da USP detectou?

Ele detectou que estamos vivendo, talvez, a mais grave crise de todo o período republicano. E ela é multidimensional. Uma crise econômica, uma crise política e uma profunda crise de valores –, agravada por um abismo entre a opinião pública e o sistema político.

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José Álvaro Moisés é professor da USP em entrevista O Estado de S. Paulo, 1/5/2017

Obras feitas por esquema de propina somam R$ 120 bilhões

Segundo delatores, quatro projetos nasceram só porque houve pressão

Ex-executivos da Odebrecht afirmam que empresa de sondas Sete Brasil, usina de Belo Monte, Arena Itaquera e Porto de Mariel são fruto de corrupção

Se não fossem a pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o interesse da Odebrecht em manter o esquema de corrupção montado com o governo, não teriam nem saído do papel obras e empreendimentos que, somados, chegam a um valor total de R$ 120 bilhões. De acordo com a delação de ex-executivos da empreiteira na Operação Lava-Jato, a empresa de sondas Sete Brasil, a usina de Belo Monte, a Arena Itaquera e o Porto de Mariel, em Cuba, nasceram como fruto da corrupção. Marcelo Odebrecht, por exemplo, disse que foi contra a usina e o estádio, mas Lula apelou a seu pai, Emílio. Alguns desses empreendimentos, como a Sete Brasil, enfrentam graves problemas financeiros e devem resultar em prejuízo bilionário. A Arena Itaquera, orçada inicialmente em R$ 400 milhões, deverá ter um custo final de R$ 1,7 bilhão.

Favores de R$ 120 bi

Quatro obras não tinham interesse da Odebrecht, mas foram feitas apenas para manter esquema

Danielle Nogueira e Jeferson Ribeiro | O Globo

Aos olhos de Emílio e Marcelo Odebrecht, a empreiteira da família se envolveu em quatro empreendimentos que não teriam ido adiante se não houvesse tráfico de influência ou se o objetivo não fosse o de alimentar o esquema de corrupção no governo petista, revelam as delações. Juntos, esses investimentos — Sete Brasil, Belo Monte, Arena Itaquera e Porto de Mariel, em Cuba — somam quase R$ 120 bilhões.

Odebrecht só fez Belo Monte e Itaquerão por pedido de Lula a Emílio

Ex-presidente da empreiteira disse ser contrário à usina de R$ 30 bilhões

Em seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Marcelo Odebrecht afirmou que era contra a hidrelétrica de Belo Monte (PA) e que teria até se desentendido com seu pai, Emílio Odebrecht, sobre o assunto. A polêmica sobre o leilão da usina, feito em 2010, e o desenho final do consórcio responsável pela construção, no entanto, indicam apetite da empreiteira pelo projeto, segundo fontes do setor. Apesar de ter desistido de participar do leilão às vésperas do certame, a Odebrecht integra o grupo de construtoras responsáveis pela obra.

Instalada no Rio Xingu, em plena Floresta Amazônica, Belo Monte é estudada desde a década de 1970. Mas o projeto só acabou saindo do papel nos anos 2000, quando pressões ambientais e uma legislação mais restritiva levaram a uma revisão no projeto original, com a eliminação dos reservatórios existentes em hidrelétricas tradicionais.

Com capacidade instalada de 11.233 MW, Belo Monte será a segunda maior do Brasil quando estiver pronta, em 2019 — com quatro anos de atraso —, atrás de Itaipu. Sua construção, embora polêmica, é apontada como necessária por especialistas do setor elétrico.

Dilma sabia de caixa dois, diz João Santana

Segundo jornal, marqueteiro afirmou que a ex-presidente sofre de ‘amnésia moral’

- O Globo

-BRASÍLIA- Em depoimento à Justiça Eleitoral, o marqueteiro João Santana afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff e outros políticos brasileiros sofriam de “amnésia moral”. Segundo ele, Dilma sempre soube do caixa 2, embora não tivesse conhecimento de todos os detalhes financeiros, comportando-se como uma “Rainha da Inglaterra”. Santana disse ainda que Dilma se sentia “chantageada” pelo empresário Marcelo Odebrecht, que queria ajuda dela para frear as investigações da Operação Lava-Jato. As informações foram publicadas pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

De acordo com a reportagem, o marqueteiro confirmou que tratava de caixa 2 com Dilma. “Infelizmente, (ela) sabia. Infelizmente porque, ao me dar confiança de tratar esse assunto, isso reforçou uma espécie de amnésia moral, que envolve todos os políticos brasileiros. Isso aumentou um sentimento de impunidade", teria dito Santana no depoimento à Justiça Eleitoral.

STF avalia se Lula, réu, pode ser candidato

Não há consenso entre ministros sobre proibição de candidatura, que também pode afetar Serra e Aécio

Carolina Brígido e André de Souza | O Globo

-BRASÍLIA- Presidente da República não pode virar réu. Caso vire, é afastado de suas funções. É o que diz a Constituição. Um réu não pode nem sequer ficar na linha sucessória da Presidência, como decidiu o Supremo Tribunal Federal. Mas e o contrário? Réu pode ser candidato a presidente da República? O debate, longe de ser retórico, se aplica ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu em cinco ações, candidato declarado à Presidência em 2018 e líder nas pesquisas. Entre os ministros do STF ouvidos pelo GLOBO, não há consenso. Um deles defendeu a proibição de candidaturas de réus, o que pode vir a afetar os planos de Lula. Outros dois ministros acreditam que a vedação não atinge candidatos, apenas quem já está no cargo.

O ministro Marco Aurélio Mello é um dos que não veem problemas jurídicos em réus serem candidatos a presidente. Ele destacou que, quando alguém é eleito presidente, a ação a que respondia fica suspensa. A Constituição diz que um presidente não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Temer: ‘haja protesto, ou não, Brasil continuará trabalhando’

Para presidente, objeções a reformas são típicas da democracia

Luiza Souto | O Globo

SÃO PAULO- O presidente Michel Temer (PMDB) disse ontem que “haja ou não protestos, o Brasil continuará trabalhando”. Ele fez um pronunciamento em São Paulo, durante inauguração da Japan House, complexo cultural localizado no bairro Bela Vista, Zona Sul da cidade. Num breve discurso para uma plateia que incluía o vice-primeiro-ministro, ministro das Finanças e presidente da liga parlamentar Brasil-Japão, Taro Aso, Temer disse que a reforma trabalhista que está tramitando no Congresso é fundamental, apesar de gerar no país “objeções num primeiro momento”, mas que “são típicas da democracia plena que vemos no nosso país”.

— O brasileiro é otimista. Haja protestos, ou não, o Brasil continuará trabalhando — afirmou ele, para continuar: — Lanço essa mensagem especialmente para o investidor brasileiro e japonês, para dar tranquilidade e segurança de que estamos desobstruindo os caminhos da economia para alcançar a tranquilidade e eliminar o desemprego.

No dia do Trabalho, o presidente deve divulgar vídeo nas redes sociais destacando medidas como o saque de recursos de contas inativas do FGTS e a reforma trabalhista.

Palocci deu ‘segurança’ para caixa 2, diz delatora

Ex-ministro apresentou Odebrecht como empresa sólida, disse Mônica Moura ao TSE

Rafael Moraes e Moura Fábio Fabrini | O Estado de S.Paulo

O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil) foi quem “vendeu” ao marqueteiro João Santana a ideia de que seria seguro receber pagamentos da Odebrecht por meio de caixa 2 após mensalão. O relato foi feito ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela empresária Mônica Moura, mulher do publicitário, que deu detalhes sobre a gênese do esquema de financiamento ilegal de campanhas do partido pela empreiteira.

Conforme o depoimento de Mônica, Santana resistia a aceitar recursos não contabilizados em 2006, após o escândalo de compra de apoio político que envolveu alguns dos principais quadros do PT, ainda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas foi convencido pelo argumento de Palocci de que a empreiteira era uma empresa “sólida”.

“A primeira vez em que foi proposto isso, em 2006, teria caixa 2, o João falou que não faria, tinha acabado de acontecer o mensalão: ‘Não dá para fazer uma campanha assim’”, afirmou a empresária.

Maia descarta cassar deputados por crime anterior ao mandato

Só crime no mandato será alvo de conselho, diz Maia

Presidente da Câmara afirma que deputados federais investigados no Supremo por crimes cometidos antes de 2015 não devem sofrer processo de cassação

Igor Gadelha, Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Um dos 39 deputados alvo de inquérito na Lava Jato, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que os parlamentares só devem responder a processos no Conselho de Ética na Casa se os crimes apontados nas investigações tiverem sido cometidos no atual mandato. De acordo com Maia, esta é a “jurisprudência” no colegiado, que ele deve seguir.

“O que está acontecendo na Câmara desde 2015 e desde antes é que, por exemplo, o Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara, cassado em outubro) apenas respondeu a processo no Conselho de Ética porque mentiu no mandato. Então, há uma jurisprudência na Câmara que você responde pelo ato daquele mandato. Isso está meio que colocado hoje. Pode mudar amanhã”, afirmou, em entrevista ao Estado.

Na prática, o entendimento do presidente da Câmara representa uma espécie de salvo conduto para os parlamentares. Nos inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base nas delações da Odebrecht, a maior parte dos crimes descritos são anteriores a 2015, início da atual legislatura da Câmara. Um dos delatores – o ex-executivo Fernando Reis –, porém, afirmou que, mesmo com o avanço da Lava Jato, houve pedidos de caixa 2 na disputa eleitoral de 2016, embora não tenha citado nomes de políticos.

Reformas impõem desafios a sindicatos

Mudanças como fim do imposto sindical e negociações diretas nas empresas devem obrigar sindicalismo a buscar novos caminhos

Cleide Silva, Márcia De Chiara e Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo

O movimento sindical comemora hoje o 1.º de Maio, data ícone para as organizações de trabalhadores, tendo de rever seu papel na sociedade brasileira. Após mais de uma década de atuação praticamente sem grandes mobilizações, até porque havia um alinhamento com o governo do PT, as centrais sindicais agora estão acuadas.

A reforma trabalhista pode minar o poder de atuação das entidades sindicais ao acabar com o imposto sindical e estabelecer negociações por meio de representantes internos nas empresas com mais de 200 funcionários. A reforma da Previdência é outra dor de cabeça. Além disso, há número recorde de 14,2 milhões de desempregados no País.

Centrais discutem os próximos passos para barrar reformas

Pressão direta sobre senadores, marcha a Brasília e uma nova greve geral de dois dias são as opções de luta

Cleide Silva, Márcia De Chiara e Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo

As tradicionais comemorações do Dia do Trabalho, em São Paulo, devem trazer mais uma mostra da postura mais agressiva das centrais sindicais em relação ao governo. Essa linha de confronto já tinha ficado clara na sexta-feira, com a convocação de uma greve geral contra as reformas trabalhista e previdenciária.

As centrais CUT, CTB e Intersindical realizam seu evento hoje em dois pontos: haverá um ato político na Avenida Paulista e shows de artistas na Praça da República. Já o evento da Força Sindical, com shows e sorteios de carros, será realizado na Praça Campo de Bagatelle.

As centrais também já começaram a discutir os próximos passos em relação às reformas propostas pelo governo. O primeiro será pressionar os senadores, tanto em Brasília quanto nas suas bases eleitorais, para barrar a reforma trabalhista, que ainda tem de passar pelo Senado. Se não for suficiente, as entidades avaliam promover uma grande marcha a Brasília e nova greve geral, desta vez com dois dias de duração.

Temer diz que reações às reformas são típicas da democracia

Presidente esteve em evento junto a João Doria e Alckmin; governador de São Paulo disse que as mudanças estão adequadas para 'este momento do mundo'

Julianna Granjeia | O Estado de S.Paulo

O presidente Michel Temer (PMDB) evitou comentar assuntos polêmicos -como Lava Jato e pesquisas eleitorais - durante sua participação na cerimônia oficial de abertura da Japan House, na região central de São Paulo, neste domingo (30). Em seu discurso, aproveitou a deixa do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para enaltecer as reformas de sua gestão.

Alckmin, que discursou antes de Temer, destacou a reforma trabalhista. "Permitam-me destacar a importância da reforma trabalhista aprovada na Câmara dos Deputados. Saímos de um modelo contratual, aliás, de um modelo estatutário de cima para baixo para um novo modelo de relações contratuais muito melhores neste momento do mundo", afirmou Alckmin.

Empreiteira OAS pretende delatar dois ministros do STJ

Bela Megale, Wálter Nunes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - Os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Humberto Martins, atual vice-presidente da corte, e Benedito Gonçalves foram citados nas negociações de delação premiada da OAS com procuradores da Lava Jato.

Pessoas ligadas às tratativas relataram à Folha que eles são apontados como beneficiários de recursos por atuação no tribunal favorecendo a empreiteira.

No caso de Martins, os executivos afirmam que o dinheiro foi repassado por meio de seu filho Eduardo Filipe, que também teria se beneficiado. Advogado, ele tem escritório em Brasília e atua em causas junto ao STJ.

Já Gonçalves apareceu em um relatório da Polícia Federal devido à proximidade com Léo Pinheiro, sócio da OAS preso em Curitiba e que tenta firmar acordo de delação.

Franceses às urnas: Corrida por votos

Le Pen tenta conquistar eleitores da esquerda e Macron reforça imagem de tolerância

- O Globo

-PARIS- A apenas uma semana do segundo turno na França — o primeiro sem um candidato dos dois principais partidos no país — a candidata da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, tenta virar o jogo. Ontem, Le Pen fez uma visita surpresa aos funcionários de uma fábrica ameaçada de fechamento em Gardanne, no Sul, no momento que seu adversário, à frente nas pesquisas, Emmanuel Macron se reunia com sindicatos. A candidata da extremadireita ainda depositou flores no monumento aos deportados em Marselha — pouco antes de Macron visitar o Memorial do Holocausto — e, em uma entrevista ao jornal “Le Parisien”, explicou um dos pontos mais confusos de seu programa econômico: como sairá da zona do euro.

Macron, ex-ministro de Economia entre 2014 e 2016 e ex-banqueiro, tenta alavancar sua campanha depois de um início ruim, quando se viu superado por Le Pen, que soube se vender como uma candidata muito próxima ao povo. Mas desde o domingo, quando passou ao segundo turno como o mais votado — com 24,03% dos votos — o candidato de 39 anos vem caindo vários pontos, segundo as pesquisas, que lhe dão uma vitória ainda confortável, mas cada vez mais estreita: o último levantamento o coloca com 59% das intenções de voto contra 41% de sua rival, diferença bem menor do que alguns institutos previam inicialmente.

MÉLENCHON FALA SOBRE ERRO DE VOTAR NA FN
Ontem, o candidato, que já tem o apoio de representantes dos dois partidos tradicionais — do presidente socialista François Hollande e de boa parte dos Republicanos (centro-direita) — recebeu o reforço do ex-ministro centrista Jean-Louis Borloo. E o líder da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que conseguiu 19,6% dos votos no primeiro turno, se pronunciou pela primeira vez contra o “terrível erro” de se votar em Le Pen, sem no entanto revelar se votará em branco ou em Macron.

Reforma constitucional sim, mas só após eleição, diz Álvaro Moisés

Sonia Racy | O Estado de S. Paulo

Para o cientista político, Constituição tem, sim, de ser revista, mas não pelo atual Congresso, que repetiria os vícios de sempre.

Números de recente pesquisa da USP, que ele expõe em livro a ser lançado nos EUA, apontam “completa desconexão” entre os partidos e a sociedade

Há cerca de dez anos José Álvaro Moisés estuda, com regularidade e método, o modus vivendi entre governantes e governados no País. Há quatro, mergulhou na intrincada relação entre a elite e a população, trazendo à luz um cenário bem diverso do discurso habitual sobre esse tema. Como resultado, escreveu vários livros descobrindo o Brasil real que se move no dia a dia entre governo, cidadãos, partidos, ideologias, democracia, autoritarismo.

O mais recente desses estudos, com sua equipe no Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP, está exposto em dois livros que o cientista político lançará nos Estados Unidos, pela Global Press. Neles vem à tona, entre outros dados, que 90% dos eleitores do Brasil não se sentem representados por nenhum partido – isso em meio a uma crise “multidimensional”, ao mesmo tempo econômica, política e de valores. “Estamos vivendo talvez a mais grave crise de todo o período republicano”, afirma o professor nesta entrevista a Gabriel Manzano.

Trabalho na berlinda | Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Uma das datas mais simbólicas do calendário, o 1º de Maio deste ano encontra o país imerso nas consequências da crise recessiva que dilapidou o mercado de trabalho.

Na semana passada, o IBGE deu a dimensão da calamidade social que se abate sobre as famílias brasileiras.

São 14,2 milhões de desempregados, um recorde gestado no governo anterior e, sem dúvida, o principal desafio atual do Brasil. Acrescente-se a precariedade das relações contratuais. No setor privado, o país tem mais de 10 milhões de pessoas sem carteira assinada. Além disso, grande parte da mão de obra não dispõe de benefícios complementares.

No Brasil do século 21, choca saber que nada menos que 1,5 milhão de pessoas estão impedidas de sair do emprego. Elas não têm como pagar despesas contraídas com alimentação e transporte, custeados pelo patrão. É uma situação conhecida como servidão por dívida, considerada trabalho análogo à escravidão.

À espera do novo | Ricardo Noblat

- O Globo

“A História irá me absolver” Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Datafolha trouxe duas novidades e confirmou duas suspeitas. A primeira pesquisa Datafolha aplicada depois da suspensão do sigilo em torno das delações da Odebrecht trouxe duas novidades e confirmou duas suspeitas. Novidades: Lula cresce nas intenções de voto para presidente e Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece em segundo lugar empatado com Marina Silva (Rede-AC). Suspeitas: despencam Aécio Neves e Geraldo Alckmin, e aumenta a impopularidade do governo Temer.

LULA RECONCILIOU-SE COM os 30% do eleitorado que sempre votou no PT. Na pesquisa de dezembro último, oscilara entre 25% e 26%. Se o segundo turno da eleição presidencial fosse hoje, ele só ficaria atrás de Marina ou do juiz Sergio Moro. Em compensação, continua sendo o candidato com o maior índice de rejeição. E o seu governo é considerado o mais corrupto da história. (Alegre-se, Dilma!)

Temer fez a greve | José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Quem ganhou com a greve geral? Lula da Silva e João Doria. Um é o candidato dos organizadores da paralisação; o outro superou a concorrência nas mídias tradicional e social e se afirmou como principal liderança antigreve. Quem perdeu? Temer e seus aliados pró-reformas - porque a greve acabou sendo aquilo que eles não queriam que fosse: uma demonstração contra o fim de direitos trabalhistas e mudanças das regras para aposentadoria.

Enquanto o governo e seus aliados pintavam a greve como um protesto contra o fim do imposto sindical, boa parte da sociedade fazia um debate muito mais amplo sobre seu significado. Como há tempos não ocorria, a igreja católica fomentou uma discussão socioeconômica. A conversa extrapolou as bolhas do Facebook e embrenhou-se por homilias e salas de aula. Alunos, pais e professores debateram as causas da greve.

As relações de trabalho no Século XXI | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

A sociedade moderna surgiu a partir da Revolução Industrial, no Século XVIII, na Inglaterra, sob os escombros da ordem feudal e impulsionada pela enorme expansão comercial patrocinada pelo mercantilismo. As sucessivas inovações introduzidas pela ordem capitalista produziram um salto inédito de produtividade e diversificação produtiva. A divisão de trabalho, o tear mecânico, o uso do carvão e do ferro, a máquina a vapor, as ferrovias, a eletricidade, o motor a combustão, a telefonia, a urbanização, a introdução do aço e de produtos químicos foram avanços que progressivamente redesenharam a economia.

Do ponto de vista social, a nova ordem se ancorava em estrutura social caracterizada pela presença, de um lado, dos empresários, de outro, dos trabalhadores. De início a classe média era incipiente e os setores agrários, senhores feudais e camponeses, decadentes. As condições de trabalho, nos primórdios do capitalismo, eram desumanas. Trabalho infantil, jornada de trabalho de 16 horas, insalubre, falta de segurança no trabalho, salários vis.

Não é na marra | Dora Kramer

- Revista Veja

Nem sempre o que o povo quer é o que o juiz pode fazer

Políticos jogam para a arquibancada, e é da natureza da atividade que isso aconteça. Sustentados pelos votos das torcidas, eles se permitem liberalidades que não cabem nas funções do Poder Executivo (caso das reformas estruturais indispensáveis), muito menos no papel exercido pelo Judiciário, cujo primado é a lei, goste-se ou não dela.

Quando veem sua sobrevivência em risco, políticos podem seguir o que lhes for mais conveniente: atender ao clamor da sociedade, ceder aos interesses dos patrocinadores ou das corporações, entidades e grupos de pressão a que estão ligados. Atuam de acordo com as circunstancias. A magistrados não é dada essa prerrogativa, muito embora nada impeça que alguns cedam à tentação de extrapolar. Para o bem e para o mal.

A boa regra, no entanto, impõe que a Justiça caminhe por espaços bem mais estreitos que aqueles desejados pela sociedade. Em suma: nem sempre o que o povo quer o juiz pode fazer. Em tempos como os atuais, em que decisões do Judiciário são acompanhadas, questionadas e discutidas com interesse e paixão, facilmente se cai na armadilha da precipitação, prima-irmã da simplificação.

Não chores por mim em Curitiba | Paulo Delgado

- O Globo

A vida real é mortal para o carismático. A Lava-Jato “humanizou” Lula, o sonâmbulo usuário de pedalinhos, tríplex, cachês, sítio, jatinhos, compadre

São razões arcaicas que fizeram Lula e Zé Dirceu se imporem essa forma de menos valia. Sempre ausente quando alguém é destruído, a lealdade política é baseada numa farsa: não creiam, confiem. Quando alguém bom se dispõe a errar supõe ser invisível. Esquecendo-se de que não há líder popular em sociedade politizada. Há líder respeitado.

A esquerda, espiritualmente, nunca precisou estar em guarda. Até que alguém introduza a inveja social no seu meio. Mas quando parceiros ficam submetidos ao mesmo constrangimento, não há necessidade de um acabar com o outro para definir a si mesmo. Cabe ao que circula, quando chega ao local em que outra lógica decide quem vai morrer, desfazer a inimizade nascida quando havia gente demais para aclamá-lo. Antes de depor, consulte a todos os encarcerados sobre o infortúnio de suas famílias.

Pacto? | Denis Lerrer Rosenfield

- O Estado de S. Paulo

Acordo de reconstrução nacional não pode ser tábua de salvação para certos líderes e partidos

A questão político-partidária, em seu viés policial, está sendo colocada de forma assaz enviesada. Discute-se amplamente sobre o caixa 1 e o caixa 2 dos políticos, partidos e campanhas eleitorais, como se tudo se reduzisse à legalidade de um e à ilegalidade de outro.

Os mais afoitos chegam a sustentar que basta uma declaração formal à Justiça Eleitoral de doações aparentemente legais para que tudo esteja resolvido. Burla-se a lei sob a aparência de respeitá-la. De modo diverso, o caixa 2 é defendido como se fosse uma simples escolha de doadores que, por uma razão qualquer, preferiam não aparecer.

O problema, porém, não reside nessa distinção, superficial, mas nos crimes que são cometidos seja com o caixa 1 ou com o caixa 2. O volume deles chega a ser alucinante: corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, e assim por diante. Dá vertigem!

A janela se fecha | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

A centro-esquerda tem à disposição uma última grande cartada para transformar o Brasil em exceção à onda de centro-direita que engolfa nações do Ocidente. Para isso, precisa derrotar a reforma previdenciária do governo Temer.

O Datafolha simulou a eleição presidencial num quadro de fim de linha para políticos que avistaram a Medusa da Lava Jato e no fundo do vale da recessão.

A centro-esquerda torna-se mais competitiva nesse ambiente não apenas pelo resultado de Lula. A ausência do aiatolá petista, resultante de possível condenação judicial, seria preenchida por Ciro Gomes em condição favorável de partida.

A lenha do desemprego | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Recessão alimenta a fogueira do embate político em torno das reformas

São 14,2 milhões de desempregados em todo o País, segundo os números mais recentes do IBGE, referentes ao primeiro trimestre de 2017, e correspondem a 13,7% da população em idade de trabalhar. É como se a cidade de São Paulo, inteira, e mais o ABC estivessem sem ocupação.

Desemprego parrudo, que não dá margem a dúvidas, por mais disposição que se tenha de relativizar estatísticas e pinçar comparações mais favoráveis. Só esses grandes números já bastariam para mostrar como e porque a atividade econômica está demorando a pegar embalo. Ou seja: a economia continua andando devagar, em consequência o desemprego não cede e, como ele não cede, também não dá impulso para a economia apressar o passo.

Os sem-teto – Editorial | Folha de S. Paulo

Para sustar a alta galopante da dívida do governo, fixou-se, no ano passado, um teto para os gastos federais, que daqui em diante não podem crescer acima da inflação.

Há outro teto imposto à administração pública, mais antigo, segundo o qual os salários dos servidores não ultrapassarão os pagos aos ministros do Supremo Tribunal Federal -hoje, R$ 33.763 mensais.

A experiência com o limite remuneratório, cujas primeiras versões datam dos anos 1990, ensina que a burocracia estatal sempre busca meios de esquivar-se das tentativas de conter sua expansão. No mais das vezes, com sucesso.

Num exemplo, esta Folha noticiou que 97% dos membros do Ministério Público paulista receberam, em 2015, vencimentos superiores ao que se imagina ser o máximo permitido pela Constituição. Mas, sustenta a categoria, nenhuma regra foi infringida.

A corporação ampara-se em expediente mais que conhecido: inflam-se os rendimentos com toda sorte de abonos, auxílios e outros penduricalhos extrassalariais.

Artifícios do gênero abundam também no Judiciário, onde o gasto médio com cada magistrado atingiu R$ 46,2 mil mensais, conforme o Conselho Nacional de Justiça.

Exemplos de supersalários tendem a ser mais numerosos daqui para a frente -o Supremo Tribunal Federal decidiu, na quinta (27), que a remuneração de um servidor com dois cargos públicos pode extrapolar o limite constitucional.

Tais casos hiperbólicos despertam a atenção geral, sem dúvida, porém estão longe de descrever a extensão do poderio das corporações do funcionalismo.

Uma demonstração mais eloquente encontra-se nos resultados recém-divulgados das contas do Tesouro Nacional, no primeiro trimestre sob a vigência do teto para os dispêndios.

Enquanto programas de governo passam por severa contração, para compensar a alta inevitável dos encargos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), as despesas com pessoal ativo e inativo expandem-se em taxa vigorosa -projetada em cerca de 5% acima da inflação até o final do ano.

Trata-se de reflexo dos reajustes salariais generalizados concedidos pelo governo Michel Temer (PMDB), que preferiu não enfrentar a pressão dos servidores.

Certamente mais cômoda, tal escolha implicará custos crescentes se mantida nos próximos anos. Assim o evidenciam, também, as concessões feitas a professores e policiais na reforma da Previdência.

Prende muito e mal – Editorial | O Globo

Com mais de 600 mil presos, país tem 5ª maior população carcerária do mundo

Um país com índices elevados de violência — quase 60 mil homicídios por ano, ou cerca de 30 por cada grupo de 100 mil habitantes — precisa mesmo discutir onde poder público e sociedade erram. A lista de falhas é extensa, mas, no caso do Estado, um ponto vulnerável que se destaca no complexo de segurança pública está nas leis penais, na sua execução e nos presídios.

Assim como o Estado brasileiro gasta muito e mal, ele costuma prender muito e também com enormes falhas. É sempre possível imaginar-se alguém que deveria estar fora das ruas. Há uma indigesta mistura de aspectos negativos no universo da segurança: polícias violentas, mal treinadas, presídios superlotados e insalubres etc.

O Tesouro e o ralo do INSS – Editorial | O Estado de S. Paulo

Nenhum corte de gastos será suficiente para arrumar as contas públicas, enquanto as despesas da Previdência continuarem crescendo como nos últimos anos, e isso é mais uma vez comprovado, agora, pelos números acumulados até março. O rombo da Previdência no primeiro trimestre, no valor de R$ 40,1 bilhões, engoliu facilmente o superávit de R$ 21,9 bilhões acumulado no período pelo Tesouro e pelo Banco Central (BC), de acordo com o balanço primário - sem juros - do governo central.

Esse cálculo, baseado no mero registro de receitas e despesas, é um pouco diferente daquele apresentado no relatório do BC sobre as contas consolidadas do setor público. Por este critério, focado nas necessidades de financiamento, o déficit do INSS bateu em R$ 40 bilhões e o resultado positivo do Tesouro e do BC chegou a R$ 25,9 bilhões.

Soneto das Metamorfoses | Carlos Pena Filho

A Edmundo Morais

Carolina, a cansada, fez-se espera
e nunca se entregou ao mar antigo.
Não por temor ao mar, mas ao perigo
de com ela incendiar-se a primavera.

Carolina, a cansada que então era,
despiu, humildemente, as vestes pretas
e incendiou navios e corvetas
já cansada, por fim, de tanta espera.

E cinza fez-se. E teve o corpo implume
escandalosamente penetrado
de imprevistos azuis e claro lume.

Foi quando se lembrou de ser esquife:
abandonou seu corpo incendiado
e adormeceu nas brumas do Recife.