domingo, 14 de maio de 2017

Opinião do dia – Cláudio Manuel

O PT e o Lula já obtiveram uma quantidade enorme de votos. Hoje voltaram a ter só devotos.

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Cláudio Manoel, ex-“Casseta”

Lula foi alertado de suspeitas na Petrobras

Congresso mandou suspender obras, mas o então presidente vetou decisão

Em 2009, investimentos da estatal com graves indícios de irregularidades foram identificados pelo Tribunal de Contas da União, e Congresso cortou verba. Técnicos contestaram argumento do governo para manter desembolso

Quase oito anos antes de afirmar ao juiz Sergio Moro que demitiria toda a direção da Petrobras se soubesse de corrupção na estatal, o ex-presidente Lula foi informado pelo Congresso que três obras hoje investigadas pela Lava-Jato apresentavam graves suspeitas e deveriam parar. O petista, no entanto, vetou a decisão, cujo relatório técnico já citava os executivos envolvidos no esquema de corrupção, informa

Não foi por falta de aviso

Lula recebeu alerta de suspeitas na Petrobras, embora tenha dito a Moro que nada sabia

Cleide Carvalho | O Globo

-SÃO PAULO- Embora tenha afirmado perante o juiz Sergio Moro que demitiria toda a direção da Petrobras caso alguém o informasse sobre a existência de um esquema de corrupção na estatal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu importantes alertas, ainda no exercício do mandato, de práticas suspeitas na companhia, mas não agiu. No interrogatório da última quarta-feira, na sede da Justiça Federal em Curitiba, questionado pelo procurador Roberson Pozzobon, que perguntou se ele tinha conhecimento de corrupção na Petrobras e de repasse de dinheiro ao PT, Lula falou:

Avalanche em 24 dias

Em menos de um mês, quatro ex-aliados de Lula atacaram as principais teses da defesa do petista e comprometeram a ex-presidente Dilma com denúncias de ilegalidades.

Em 24 dias, quatro delatores fragilizam teses de Dilma e Lula

Defesa afirma que ex-aliados falam ‘por obrigação’ de citar ex-presidente

Tiago Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- Nos últimos 24 dias, depoimentos de investigados pela Operação Lava-Jato que tinham relações próximas com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff aprofundaram as denúncias contra os dois ex-presidentes. A situação para os dois petistas pode ficar ainda pior a depender do que o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci resolver contar em delação premiada.

Para os advogados de Lula, esse movimento contra o ex-presidente aconteceu porque, segundo eles, os colaboradores são obrigados a falar o nome do petista em troca de benefícios. Já a defesa de Dilma alega que alguns delatores mentiram na tentativa de reduzir sua pena.

A fila das novas colaborações foi puxada pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que já foi condenado a 26 anos de prisão e tenta reduzir sua pena nas ações em que é réu por meio de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) — a delação ainda não foi homologada pela Justiça. Em depoimento prestado ao juiz Sergio Moro em 20 de abril, o empresário, que era muito próximo de Lula, disse sempre saber que o tríplex do Guarujá, no litoral paulista, estava reservado para o petista e que o dinheiro da reforma do apartamento saiu de um caixa de propina da empreiteira com o PT. Pinheiro ainda relatou um encontro em que o ex-presidente teria lhe pedido para destruir documentos que comprovassem a existência desse caixa.

‘Julgamentos não são políticos’, diz Sergio Moro

Em fórum, Cardozo diz que ‘jamais’ antecipou informações da Lava-Jato

Luiza Bandeira* | O Globo

LONDRES - Dias após ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como réu na Lava-Jato, o juiz Sergio Moro disse ontem, em Londres, que “julgamentos não são políticos” e defendeu uma aplicação “ortodoxa da lei” por juízes.

O magistrado fez a declaração em palestra no “Brazil Forum”, organizado pela London School of Economics and Political Science (LSE). Participou da mesma mesa o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que, segundo a publicitária Mônica Moura, foi responsável pela antecipação de ações da Lava-Jato à ex-presidente Dilma Rousseff. Cardozo negou a acusação. Moro foi recebido com aplausos e vaias por um auditório lotado.

Moro disse que julgamentos envolvendo corrupção de políticos têm reflexos na política partidária, mas afirmou que o juiz não pode julgar pensando nisso:

— Se o juiz for julgar pensando na consequência política, ele não está fazendo seu papel de juiz. Acho que muitas vezes tem essa confusão. Como esse caso envolve pessoas poderosas, crime de elevada dimensão, se faz uma confusão no sentido de que julgamentos são políticos, quando eles não são.

Lava Jato trava acordos do Instituto Lula

Antes de ter as atividades suspensas, entidade já sofria com efeitos negativos da operação; órgão se concentra em defender petista

Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo

Com as atividades suspensas na semana passada por decisão judicial, o Instituto Lula já sofria com os efeitos negativos provocados pelas investigações da Operação Lava Jato na imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre as ações que estavam em andamento e foram suspensas destacam-se a construção do Memorial da Democracia e uma possível parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, do fundador da Microsoft, Bill Gates.

Nos últimos meses, o instituto se concentrou em responder a acusações e fazer assessoria de imprensa para o ex-presidente. Mas nem sempre foi assim. Desde sua fundação, em 2011 (antes chamava-se Instituto Cidadania), promoveu encontro com chefes de Estado, realizou debates e fóruns. Chegou a ter 30 funcionários. Hoje, tem cerca de 20.

Investigados duvidam de punição e já miram 2018

Investigados pela Lava Jato almejam reeleição em 2018

Camila Mattoso, Ranier Bragon | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Deputados e senadores alvos da Lava Jato dizem duvidar que sofrerão processo de cassação e planejam continuar na vida pública.

A Folha procurou, ao longo da última semana, os 84 congressistas investigados na operação com base em pedidos feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nas duas listas que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal –em março de 2015 e em março deste ano.

"Estou há dois anos e dois meses esperando meu processo ser arquivado. O cara [o doleiro Alberto Youssef] diz que me deu [propina], eu já provei que não deu. Fui 24 vezes na Procuradoria, estive oito vezes com Janot e não consigo tirar meu nome desse negócio", reclama Luiz Carlos Heinze (PP-RS).

"Nem que a vaca tussa, medo nenhum [de processo de cassação]. Primeiro, não cometi crime. Segundo, quem não deve não teme. Se o apelido do Lula na Odebrecht era 'amigo' e o meu era 'inimigo', isso já é autoexplicativo", diz Onyx Lorenzoni (DEM-RS), investigado porque aparece na delação da Odebrecht como destinatário de R$ 175 mil de caixa dois em 2006.

Marina busca Barbosa, Ayres e PSB para 2018

Ex-ministra diz que conversas são apenas sobre cenário político; aliados, porém, admitem que há interesse da Rede em atrair figuras do Judiciário

Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Com foco nas eleições de 2018, a ex-ministra Marina Silva tenta atrair para seu partido, a Rede, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao Estado, Marina confirmou que tem conversado com Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto. Disse, porém, que as conversas são apenas sobre o cenário político brasileiro, embora seus aliados admitam o interesse da sigla em atrair figuras de peso do Judiciário.

A Rede também tenta atrair o apoio do PSB, partido pelo qual Marina disputou as eleições de 2014, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, com quem ela integrava a chapa como candidata a vice-presidente. As conversas nesse sentido estão sendo feitas com a ala do PSB de Pernambuco, que defende a independência do partido do governo Michel Temer.

“Quando conversei com o ministro Joaquim Barbosa, falei sobre questões que estão acontecendo hoje no Brasil, referentes a este momento político. Nunca falei com ele sobre questões partidárias”, disse a ex-ministra. Sobre Ayres Britto, afirmou: “Conversamos sobre questões jurídicas. Ele me ensina que, para essa crise, a Constituição é o mapa”.

Temer condiciona sucesso de sua gestão à redução do desemprego

‘Meu principal objetivo é combater o desemprego’

Há um ano à frente do Planalto, Temer diz que sucesso do governo dependerá da criação de vagas; presidente afirma que manter ministro delatado é ‘custo-benefício que compensa’

Entrevista com Michel Temer

Carla Araújo, Eliane Cantanhêde, João Caminoto e Marcelo Beraba | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer condiciona o sucesso de seu governo à redução, até o fim de 2018, do número de desempregados. Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14,2 milhões de brasileiros estão nessa situação.

Embora avalie que a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência será muito importante para a retomada do emprego, a derrota no Congresso de uma ou outra não definirá o sucesso do mandato. “O meu principal objetivo é combater o desemprego. Se não conseguir, aí sim você pode dizer que o governo não deu certo. Não é por causa da Previdência.”

Em entrevista ao Estado na tarde de sexta-feira, 12, poucas horas depois de reunir em cerimônia televisionada todo o seu Ministério para balanço de um ano de governo, Temer informou que, pelas projeções das áreas econômica e trabalhista, a retomada lenta do emprego deve começar no quarto trimestre deste ano.

Temer está seguro de que aprovará as reformas trabalhista e previdenciária no Congresso. Disse acreditar que o PMDB fechará questão para obrigar seus deputados a votarem a favor da reforma da Previdência e minimizou o impacto das críticas de um dos principais cardeais do partido e líder no Senado, Renan Calheiros (AL). “O Renan agora já está comigo.”

O presidente voltou a defender seus ministros citados nas delações da Lava Jato, mesmo com prejuízo para a imagem do governo. “Aqui tem pessoas mencionadas que são da melhor qualificação administrativa, prestam um serviço extraordinário. É um custo-benefício que compensa.”

Em relação ao seu papel na disputa presidencial em 2018, ele disse que vai depender do êxito do governo. “Se eu estiver bem, é claro que todos virão me procurar em busca de apoio. Se eu estiver mal, ninguém vai querer se aproximar.” Depois de lamentar mais uma vez a disputa política agressiva atual no País, afirmou que já não se incomoda tanto com os movimentos que pedem a sua saída do governo. “Aliás, ficou simpático este ‘Fora, Temer’. Eu acho que vou sentir falta.”

Macron assume presidência da França e promete ampliar laços com a União Europeia

Novo presidente diz que compatriotas elegeram 'a esperança e o espírito de conquista'

- O Globo

PARIS — O centrista pró-europeu Emmanuel Macron assumiu oficialmente neste domingo a presidência da França em uma cerimônia solene no Palácio do Eliseu.

Macron, ex-ministro da Economia de 39 anos, praticamente desconhecido há três, se tornou o presidente mais jovem da História do país desde Napoleão Bonaparte. Entre seus principais desafios estão o desemprego e a luta contra o terrorismo.

A mulher do novo presidente, Brigitte Macron, 64, sua ex-professora e fiel aliada na conquista do poder, chegou dez minutos antes da cerimônia no palácio, onde foi recebida pela chefia do protocolo. Ela chegou antes do marido porque ambos não são casados.

Macron era esperado na porta do Eliseu por François Hollande, que deixa o poder. Ambos tiveram uma reunião de mais de uma hora, onde o novo mandatário recebeu os códigos nucleares do país que permitem ativar o arsenal atômico da França e informações sobre a política internacional.

Dirigentes da FAP participam de seminário sobre Antonio Gramsci em Roma

A FAP (Fundação Astrojildo Pereira) participará de 18 a 20 de maio do Seminário Hegemonia e Modernidade, em Roma, na Itália, evento que marca os 80 anos da morte de Antonio Gramsci, uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20, co-fundador do Partido Comunista Italiano. A fundação será representada no seminário pelos dirigentes especialistas em Gramsci no Brasil, Alberto Aggio e Luiz Sérgio Henriques, que também é tradutor do filósofo.

Organizado pela Fundazione Gramsci, um dos objetivos do evento é “realizar uma discussão envolvendo os estudiosos do pensamento de Gramsci em diversas partes do mundo”. O convite dos organizadores do seminário à FAP mostra o papel da fundação como instituição de propagação da cultura da esquerda democrática brasileira que tem, no filósofo marxista, uma de suas referências.

Alberto Aggio classificou o convite de participação da FAP no evento como “reconhecimento das atividades de publicação e tradução do pensamento de Gramsci” realizado pela FAP e de seus comentadores no Brasil. “Um reconhecimento que deve ir além da Itália”, disse o dirigente.

Veja abaixo entrevista em que Aggio e Luiz Sérgio ressaltaram a importância do evento.

Qual a importância do convite à FAP para participar deste seminário sobre Gramasci?

Alberto Aggio: A FAP se coloca internacionalmente como uma instituição da cultura da esquerda democrática que tem em Gramsci uma de suas referências. O convite dos italianos significa um reconhecimento das nossas atividades de publicação e tradução do pensamento de Gramsci e de seus comentadores aqui no Brasil. É um reconhecimento que deve ir além da Itália.

Luiz Sergio Henriques: A FAP é uma fundação ligada ao Partido Popular Socialista (PPS), que por sua vez, vem do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O PCB sempre teve relações muito fortes com os comunistas italianos, sendo Gramsci um deles. Portanto, o intercâmbio de ideias entre italianos e brasileiros, mantendo essa corrente de pensamento viva entre Brasil e Itália, é bom para nós, bom para os marxistas brasileiros, bom até para os não marxistas. E é bom, também, para os italianos quando levamos a tamanha complexidade da vida social brasileira.

Por que relembrar os 80 anos da morte de Gramsci?

Alberto Aggio: Gramsci é hoje o pensador que, vindo do marxismo, demonstrou uma vitalidade impressionante ao se voltar para temas que até então o marxismo não havia se embrenhado. Ele enfrentou o momento de uma passagem ou “mudança epocal”, relativamente similar à que estamos vivendo hoje, com o aumento da importância da visão global do mundo e também da complexidade da vida social. Isso repercutiu num pensamento que, a nós hoje, aparece com grande atualidade para se pensar os impasses da vida, da cultura e da política democrática atual.

Luiz Sergio Henriques: Os marxistas, em geral, possuem uma concepção pobre da política e do estado, eles tendem a raciocinar muito dicotomicamente, como se houvesse duas classes, operária e burguesa, em conflito direto sem mediações, sem instituições políticas, sem a cultura, sem a história de cada país, etc. Com Gramsci é diferente, pois ele leva esses fatores em conta, ele dá explicações metodológicas para mostrar que a luta política não é um confronto apenas econômico e uma luta direta entre classes, e sim, algo mais complexo, com mais atores políticos, na qual a cultura tem papel fundamental, pois não se muda a realidade sem estar plenamente consciente da dimensão cultural, do modo como as pessoas pensam e agem. Essa é a riqueza do pensamento de Gramsci e por isso a importância de se relembrar os 80 anos de sua morte. (Assessoria FAP/Germano Souza Martiniano)

Veja aqui a programação completa do Seminário Hegemonia e Modernidade.

Travessia política: Gramsci** | Gilvan Cavalcanti de Melo*

Agradeço o convite para debater, nesta travessia política as ideias de um italiano que há anos se tornou referência para mim. Trata-se de Antonio Gramsci, o mais importante - talvez o maior - pensador da tradição marxista-ocidental do século passado, cujos 116 anos do nascimento foram celebrados em 22 de janeiro de 2007.

Gramsci morreu em 27 de abril de 1937, aos 46 anos. A morte o derrotou no instante em que conseguira a liberdade. Dois dias antes, recebera o documento assinado pelo Juiz do Tribunal Especial de Roma com a declaração de que fora suspensa qualquer medida de segurança em relação a ele, que foi preso por ordem de Mussolini em 8 de novembro de 1926. No processo-farsa montado pelo Estado fascista, o promotor pediu aos juízes sua condenação; olhando-o sentenciou: ”E preciso impedir este cérebro de funcionar”. O castigo ocorreu, mas não se conseguiu impedir que, de dentro da prisão, fosse escrita uma obra monumental, para a eternidade (Für ewig).
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Condenado, Gramsci fez com que sua inteligência penetrasse na densidade sombria da realidade. Recusou a vaidade demagógica de uns e o dogmatismo mofado dos outros. Não pensou em formular uma nova e original filosofia da práxis. Só mais tarde manifestou a consciência do valor de sua reelaboração. Ousou, do interior do cárcere, na solidão, inclusive política, desafiar a ignorância e as banalidades stalinistas. Foi por muito tempo negligenciado e desconhecido até pelos que, ao contrário, deveriam tê-lo amado e o honrado mais intensamente.

Além da cortina de fumaça | Fernando Gabeira

- O Globo

Escrevo no avião vindo de Curitiba. Não sei se ganhei ou perdi meu dia, vagando pela cidade numa quarta-feira cinzenta e com uma garoa esporádica. Para mim, Curitiba ia viver uma batalha de Itararé, aquela que não aconteceu, nos anos 30, apesar de alguns choques e escaramuças. É uma cidade fascinante, sobretudo agora que ganhei um belo livro de Rafael Greca, com quem convivi em Brasília. Poucos prefeitos conhecem tão bem a história de sua cidade.

Andei de um lado para outro e trago na lembrança o guardador de automóveis do Parque Birigui. Disseram que iam soltar mil balões verde e amarelos às cinco horas da tarde. Fui ver e não havia nada, por causa do mau tempo. O guardador me consolou dizendo: veja os quero-quero comendo na minha mão. E deu comida aos pássaros.

De olhos bem abertos | Cacá Diegues

- O Globo

Hoje se trata de reinventar o Brasil, um projeto que não tem mais nada a ver com Temer, Dilma, Lula, FHC, qualquer um deles que você lembrar. Esses são o passado

Lá pras tantas, durante o comício que se seguiu ao depoimento a Sergio Moro, Lula declarou que “minha mãe dizia que a gente conhece quando uma pessoa está dizendo a verdade não é pela boca, é pelos olhos”. Não acho que a questão fundamental do depoimento estivesse entre a verdade e a mentira, faltavam provas materiais para isso. Mas os olhos de Lula diziam muita coisa sobre o momento.

Pelos vídeos oficiais e pelas fotos na imprensa, os olhos do depoente estavam tensos e cansados, com muita raiva de tudo em volta. Estavam tristes, uma tristeza marcada pelos bolsões sob as pupilas, uma tristeza que não era de criminoso, nem de vítima. A cofiar inseguro seu bigode, ele esperava pela próxima pergunta com um rancor anterior a ela. Lula tinha os olhos ardentes de quem reflete sobre a injustiça e a impotência, com a serenidade devorada pela exaustão. Talvez pensasse também sobre o que tudo aquilo podia significar para ele e para nós.

Doria, o anti-Lula | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Prefeito é contra prisão de Lula agora: ‘Primeiro, tem de ser derrotado pelo povo’

Por convicção, raiva ou puro cálculo político? Talvez por tudo isso, o político brasileiro que mais acidamente confronta o ex-presidente Lula e lucra diretamente com a implosão dele, de Dilma Rousseff e do PT na Justiça é o prefeito de São Paulo, João Doria, que é do PSDB, mas de um PSDB, digamos, diferenciado.

Apesar disso, e de ter liderado o movimento “Cansei” na época do mensalão petista de 2005-2006, Doria não defende a condenação e muito menos a prisão de Lula agora. Católico praticante, ele prefere outra cronologia, mas não por condescendência nem por fé cristã e sim por pragmatismo: “O Lula precisa ser derrotado antes nas urnas, para então se tornar apenável”.

Tucanos em transe | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

O programa exibido pelos tucanos na TV foi retrato da completa falta de norte da sigla

Uma das muitas coisas que a Lava Jato parece ter implodido é a polarização PT-PSDB, que desde 1994 se revezam para ver quem “comanda o atraso” na política brasileira, como Fernando Henrique Cardoso definiu de maneira lapidar.

Enquanto o PT vive sua pior crise, com dois ex-presidentes da República investigados por terem promovido o maior assalto ao Estado da história do Brasil e alguns de seus maiores expoentes condenados e presos, o PSDB viu seus principais presidenciáveis tragados também pelas investigações e demonstra não ter ideia de que projeto e que nome apresentar como alternativa.

O programa exibido pelos tucanos na TV na última quinta-feira foi um retrato da completa falta de norte da sigla. Foi de dar pena, um espetáculo constrangedor.

Dilma bolada | Merval Pereira

- O Globo

Não há nada mais conhecido do submundo dos clandestinos do que esse sistema de se comunicar com outra pessoa por e-mail sem ser rastreado, utilizado por Mônica Moura e a então presidente Dilma, agora denunciado pela marqueteira.

O sistema é denominado de Dead Drop ou, mais frequentemente, Dead Letter Box. Muito utilizado na espionagem internacional, ganhou notoriedade nos anos 1930 com o caso dos Cinco de Cambridge (Cambridge-Five), assim denominados os participantes de uma célula de espiões britânicos a serviço da URSS (Anthony Blunt, Kim Philby, Donald MacLean, Guy Burgess e John Cairncross) durante a chamada Guerra Fria. E popularizou-se por meio dos livros de espionagem do escritor britânico John Le Carré.

Os que trocavam informações secretamente deixavam o documento em algum lugar previamente combinado (uma parede com tijolo solto, um buraco de árvore) para que fosse resgatado. Assim, não se encontravam e poderiam até mesmo não se conhecer.

Segredos e mentiras | Míriam Leitão

- O Globo

A semana foi pantanosa para os ex-presidentes Lula e Dilma. Ele não aproveitou o depoimento para esclarecer as dúvidas que pairam sobre seus bens e atitudes. Os dois, pela versão dos seus íntimos Mônica e Santana, sabiam dos pagamentos da Odebrecht a eles via caixa 2. Dilma, quando presidente, teria usado emails secretos e o codinome Iolanda para informar o casal sobre o avanço da Lava-Jato.

Alinha de defesa dos dois ex-presidentes entrou num beco sem saída quando passou a se concentrar na tese de que eles estão sendo acusados por pessoas que têm sido induzidas, forçadas ou ameaçadas pelos investigadores. Dilma já vinha dizendo isso, quando afirmou que Marcelo Odebrecht estava sofrendo “uma forma de tortura”. Lula enfatizou a tese durante seu depoimento ao juiz Sergio Moro e disse que está sendo vítima de uma “caçada jurídica”. Pelo que dizem, tudo o que lhes é atribuído por Marcelo Odebrecht, João Santana, Mônica Moura, Renato Duque, Leo Pinheiro e outros é falso testemunho e só foi dito porque estão sendo forçados. Fazem uma acusação forte, mas genérica contra a Polícia Federal, Ministério Público Federal, Procuradoria-Geral da República e Justiça Federal. Todos os órgãos e instituições estão em etapas diferentes do esclarecimento dos fatos. Como Lula e Dilma vão provar o que dizem?

A reinvenção do Brasil | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Enquanto a economia brasileira tenta renascer das cinzas, a velha política impede o surgimento de uma nova elite dirigente

As operações de busca e apreensão nas casas de Joesley Batista, presidente do conselho de administração da JBS, de Wesley Batista, vice-presidente do conselho da empresa, e de Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, e as revelações do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura sobre o financiamento das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e de seus aliados no exterior, como Hugo Chávez, na Venezuela, são demonstrações de que o Brasil precisa reinventar a política e a economia para sair da encalacrada em que entrou. O governo Temer pode até abrir caminho para isso, mas não vai dar conta dessa tarefa, que será o grande debate das eleições de 2018.

O escudeiro de Lula desabafa | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

"Acho bom todo mundo fazer delação logo. Para acabar com esse sofrimento de uma vez". O desabafo é do ex-ministro Gilberto Carvalho, principal escudeiro de Lula em seus oito anos de governo. Na tarde de sexta-feira, ele parecia abatido com a confirmação de que Antonio Palocci será o próximo a entregar ex-companheiros à Lava Jato.

Um ano depois do impeachment, o PT voltou a viver uma semana de péssimas notícias. Na quarta, Lula teve que se sentar no banco dos réus em Curitiba. Na quinta, ele e Dilma Rousseff foram fritados por seus marqueteiros de campanha. Na sexta, seu ex-ministro da Fazenda deu a partida para mais uma delação.

A supremacia de Gilmar Mendes | Elio Gaspari

- O Globo

O ministro Gilmar Mendes zanga-se quando são feitos paralelos entre os costumes do Supremo Tribunal Federal e os da Corte Suprema dos Estados Unidos. Tudo bem, mas não passa pela cabeça de mulheres ou maridos de juízes da Corte americana a ideia de associar seus nomes a uma advocacia que atende litigantes com processos em curso no tribunal. A advogada Guiomar Feitosa, mulher de Gilmar, é sócia do poderoso escritório que defende interesses de Eike Batista, ainda que não tenha patrocinado a petição que levou Gilmar Mendes a libertá-lo.

Outro dia, respondendo a uma estudantada do Ministério Público, Gilmar disse que, “se nós cedêssemos a esse tipo de pressão, nós deixaríamos de ser ‘supremos’.” Por enquanto, supremo é o tribunal. Ao mencionar sua supremacia, o ministro caiu numa armadilha da História. “Yo, el Supremo” é o nome de um romance do paraguaio Augusto Roa Bastos, tratando da vida de José Rodríguez de Francia, que governou seu país durante 24 anos, até sua morte, em 1840. Francia intitulava-se “Supremo y Perpetuo Dictador de Paraguay”.

Pressão estrutural por gastos públicos (3) | Pedro S. Malan*

- O Estado de S.Paulo

O Brasil, já dizia Fernando Henrique Cardoso não é um país pobre, é um país injusto

Este é o terceiro artigo com o título acima, tentativa de contribuir para um borgiano “não impossível diálogo” sobre três fatores operando no longo prazo, que exercem pressão estrutural por maiores gastos públicos no Brasil. Como não haverá possibilidade de atender a todas as demandas derivadas dessa pressão, o País terá de fazer algo a que não esteve muito acostumado: fazer escolhas e definir prioridades.

O primeiro artigo procurou tratar do pano de fundo: os processos de transição demográfica e de urbanização que nos transformaram, em poucas décadas, na terceira maior democracia de massas urbanas do mundo – chegaremos às eleições de outubro de 2018 com quase 150 milhões de eleitores em princípio aptos a votar. O Brasil é um case study de relevância e interesse global.

O segundo artigo tratou das exigências e demandas por mais e melhor infraestrutura “física” (energia, transporte, comunicações, portos), num País que tende a ver nossas flagrantes necessidades e carências nessas áreas como exigindo respostas e ações “intensivas em Estado”. E são, não para o Estado investidor direto, mas para um Estado eficaz e competente na criação de regras estáveis e previsíveis, que reduzam riscos e o custo de capital para investidores privados.

Corrupção também rima com recessão | Rolf Kuntz*

- O Estado de S.Paulo

Sergio Moro assina prefácio de novo livro sobre infraestrutura. Alguém se espanta?

Corrupção do tipo mais conhecido no Brasil, o assalto ao bolso do contribuinte é um dos grandes temas de um novo livro sobre infraestrutura, produzido com a participação de um time respeitável de economistas, advogados e especialistas em administração. O volume foi lançado em São Paulo um dia antes de comparecer à Justiça Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chefe de governo durante os primeiros oito anos da mais ampla e organizada pilhagem do Estado nacional, conhecida, em sua face mais vistosa, graças à Operação Lava Jato. O depoimento de Lula será lembrado por mais tempo do que a noite de autógrafos.

Ele converteu o evento em algo muito especial quando atribuiu exclusivamente à sua mulher, a falecida Marisa Letícia, qualquer interesse em relação ao triplex do Guarujá. Além disso, apontou o empresário Léo Pinheiro, da OAS, uma das maiores empreiteiras do País, como um esforçado vendedor de apartamentos. Morta em fevereiro, a ex-primeira-dama apareceu também com destaque numa declaração do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Dela partiu, segundo Bumlai, a solicitação de compra do terreno para o Instituto Lula. Os dois depoimentos serão apenas mais um exemplo notável de coincidência casual?

Uma história de dois Planos Marshall | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Entre 1948 e 1951, os EUA despenderam pouco mais de US$ 13 bilhões para ajudar na reconstrução de 16 países europeus, com população, à época, de 290 milhões.

O gasto do programa de recuperação da Europa, também conhecido por Plano Marshall, corresponderia a preços de hoje a cerca de US$ 100 bilhões, ou R$ 315 bilhões ao câmbio de R$ 3,15 por dólar.

Por aqui, entre 2008 e 2014, o Tesouro emprestou ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a taxas muito reduzidas e em condições extremamente favoráveis, R$ 400 bilhões. Ou seja, uma quantia de dinheiro 25% maior e que atingiu uma população 31% menor do que aquela beneficiada pelo Plano Marshall.

No nosso "Plano Marshall", diversos trabalhos acadêmicos documentaram que as firmas que se beneficiaram do crédito subsidiado eram as maiores, mais antigas e menos arriscadas. Essas empresas não investiram mais do que as empresas equivalentes não beneficiadas pelos créditos subsidiados.

Carne podre no Brasil Grande do PT | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

A polícia bateu nas portas do BNDES e de Luciano Coutinho, ex-presidente do banco e um mentor intelectual do "Brasil Grande" de Lula 2 e de Dilma 1. Foi quando o bancão estatal se transformou na mãe de grandes fusões e aquisições ou fez muito empréstimo a juros de pai para filhos, entre eles a JBS, ora sob suspeita.

Sabe-se lá se a Polícia Federal atirou no que viu e acertou o que não enxergou ou se está vendo coisas. Depois da Operação Carne Fraca, a gente se pergunta se não tem mais papelão nessa linguiça.

No entanto, a JBS já discute a possibilidade de um acordo judicial, conversa que envolve delações e também o relacionamento da empresa com o BNDES. As tratativas não provam nada, mas sugerem que não é possível descartar a ação da polícia como barbeiragem, como tanta gente dizia indignada no BNDES, na sexta-feira (12).

Desatando o nó (2) | Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

A crise da representação política é global, e não apenas brasileira

Desatar o nó é inaugurar uma outra República. A atual é irrecuperável. A população, embora passiva (em que outro país as vísceras expostas não teriam provocado tumultos muito maiores do que nas nossas bandas?), não é inconsciente, apesar do grau extraordinário de hipocrisia que a sociedade brasileira é capaz de considerar aceitável.

Para além da polarização política, em que cada um interpreta conforme suas crenças tribais os acontecimentos, todos percebem que o que está exposto em praça pública não são apenas crimes e culpados, mas aquilo que o José Padilha escreveu com a precisão de um corte de navalha: o “mecanismo”.

Os males do marketing político – Editorial | O Estado de S.Paulo

Um dos efeitos mais perniciosos da ausência de lideranças políticas genuínas é a frivolidade do debate público, evidenciada de maneira cabal durante as campanhas eleitorais. Em raríssimas ocasiões se veem contrapostos visões e projetos substanciosos para o País, caminhos pelos quais aos eleitores é dado optar nos regimes democráticos. Um ato essencialmente político, um fundamento da democracia representativa, como é a campanha eleitoral, é transmutado em uma espécie de show circense para escamotear a pobreza de conteúdo do que se apresenta ao escrutínio público.

Diante desse cenário desolador, não surpreende o elevado custo das campanhas eleitorais, nem que tanto dinheiro acabasse sendo buscado no indecente contubérnio entre partidos, empreiteiros e lambazes de todo tipo. Por não terem condições de oferecer uma proposta clara, planejada e inteligível aos eleitores, os candidatos preferiram contratar os famosos marqueteiros, que, ao invés de suprirem eventuais deficiências de comunicação de seus contratantes, passavam, eles mesmos, com a ajuda de institutos de pesquisa de opinião pública, a pautar o debate. E por este trabalho eram regiamente remunerados por meio de caixa 1, caixa 2, caixa 3 ou tantas caixas quantas fossem necessárias para viabilizar uma eleição dessa natureza. Pode-se mesmo dizer que a ilegalidade do meio de pagamento se tornou, com o tempo, irrelevante, pois o que era essencialmente desonesto era a subtração, ao povo, do debate político e das oportunidades de fazer uma escolha sensata dos governantes.

O balanço de Temer – Editorial | Folha de S. Paulo

Ao longo de um ano no Palácio do Planalto, Michel Temer (PMDB) conseguiu estancar a degradação dramática da economia —o que não conteve o repúdio a seu governo, de impopularidade comparável à de mandatários depostos após a redemocratização do país.

O presidente sem votos se vale dessa desconexão com o eleitorado para implementar um plano de reformas ambicioso. Caso se complete a contento, tal agenda provocará transformações profundas.

Seu governo, organizado em uma espécie de semiparlamentarismo, conseguiu que propostas controversas fossem votadas pelo Congresso em ritmo raro.

Aprovou-se o teto para as despesas federais. Alterou-se a gestão das estatais e do setor de petróleo. Reviram-se normas de concessões de obras e serviços públicos. Avançam projetos destinados a evitar a falência iminente de Estados e a flexibilizar a CLT.

A generosa folha de pagamentos do Estado – Editorial | O Globo

Estado de dimensões exageradas, insaciável na arrecadação de impostos, não reduz desigualdades. Ao contrário, serve para concentrar renda

A imagem do Estado brasileiro é de um ente de avantajadas dimensões, insaciável na arrecadação de impostos junto à população, para arcar com despesas crescentes. Não há reparo a fazer. Os números das contas públicas e estatísticas econômicas em geral correspondem à imagem.

São mais de 100 empresas estatais, com dezenas de milhares de empregos, e que movimentam bilhões em compras e vendas. Algumas têm ações em Bolsa, o que não impede que o sócio controlador, a União, tome decisões de gestão políticas, sem preocupação com os acionistas. Vide a Petrobras. Outras, incapazes de gerar lucros, vivem de dinheiro do Tesouro, ou seja, do contribuinte, numa relação incestuosa nada transparente.

Por qualquer ângulo que se olhe o Estado brasileiro, veem-se excessos. Na edição de domingo, o GLOBO trouxe o tamanho da folha de pagamentos pública, do Estado como um todo — salários do funcionalismo da União, estados e municípios, benefícios sociais, bolsas, pensões, aposentadorias. Ao todo, 57,9 milhões de pessoas, 28% da população, dependem, em alguma medida, dos governos. Quase a soma das populações de Argentina e Chile.

Amigo | Pablo Neruda

Amigo, toma para ti o que quiseres,
passeia o teu olhar pelos meus recantos,
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
com suas brancas avenidas e canções.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este desejo de que todas as roseiras
me pertençam.

Amigo,
se tens fome come do meu pão.

Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhares verás na minha casa vazia:
tudo isto que sobe pelo muros direitos
- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar nas mãos o que se esconde dentro,
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio...