sexta-feira, 16 de junho de 2017

Opinião do dia – Geraldo Alckmin

Se fosse para pensar em eleição, esse é o argumento de muita gente (referindo-se aos cabeças pretas) para sair, porque a popularidade está muito ruim. Mas temos de agir com espírito público e ele nos orienta a esperar para terminar a reforma trabalhista, concluí-la até a sanção presidencial. A reforma previdenciária é mais difícil porque é emenda constitucional, mas vamos ajudá-la porque é importante para o País, e a reforma política, que tem de ser feita até setembro, um ano antes da eleição do ano que vem.

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Geraldo Alckmin é governador de São Paulo, em entrevista ‘Se fosse para pensar em 2018, solução seria sair’, O Estado de S. Paulo, 16/6/2017.

Maia pode cancelar recesso para analisar denúncia

Planalto espera, no entanto, liquidar a questão antes de 18 de julho

Júnia Gama, Cristiane Jungblut, O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer reuniu aliados ontem no Palácio do Jaburu e afirmou que quer acelerar o processo de análise da denúncia que a Procuradoria-Geral da República deve oferecer contra ele na próxima semana. O presidente disse ainda acreditar ter “ampla margem” de votos para derrubar o pedido. Temer precisa ter os votos de 172 dos 513 deputados para não se tornar réu no Supremo Tribunal Federal. Na conversa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também defendeu um desfecho “sem atraso” para o caso.

Maia sinalizou que o recesso parlamentar do meio do ano pode inclusive ser suspenso caso isto signifique a interrupção da análise da denúncia. Na avaliação do presidente da Câmara, o “Brasil precisa” que a eventual denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer seja apreciada com prioridade. Maia disse que os prazos serão respeitados, mas que o país terá que encerrar esta etapa.

Em caso de denúncia, Congresso pode suspender recesso, diz Maia

Presidente da Câmara avalia hipótese se houver pedido da Procuradoria contra o presidente Michel Temer

Renan Truffi e Isadora Peron, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quinta-feira, 15, ao Broadcast/Estadão que existe a possibilidade de o Congresso Nacional suspender o recesso parlamentar para analisar um eventual pedido de denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Maia afirmou que, em sua opinião, essa questão pode, sim, justificar uma suspensão do recesso. Ele explicou que isso seria definido numa consulta ao plenário. A informação sobre essa possibilidade foi adiantada na edição impressa do Estado desta quinta-feira, 15.

Maia cogita suspender recesso para votar denúncia contra Temer

Daniel Carvalho, Marina Dias, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu nesta quinta-feira (15) a possibilidade de suspender o recesso parlamentar, que constitucionalmente começa no dia 18 de julho, para que a Casa vote a denúncia que a PGR (Procuradoria-Geral da República) deve apresentar contra o presidente Michel Temer nos próximos dias.

Para Maia, "o papel da Câmara é começar e encerrar o assunto".

"Se acontecer a denúncia, a sociedade não vai entender que a Câmara pare até terminar este processo. Porque, enquanto tiver este processo na Câmara, esta vai ser a agenda prioritária da Câmara, e deve ser mesmo. Só depois disso que se consegue retomar com mais tranquilidade as outras agendas", disse Maia à Folha antes de se reunir com Temer no Palácio no Jaburu. Os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Mendonça Filho (Educação) também estavam no encontro.

Existem duas maneiras de se suspender o recesso parlamentar.

A primeira, considerada mais fácil por técnicos do Palácio do Planalto, é protelar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Os parlamentares não podem sair de férias sem aprovar a LDO. A tramitação do texto está atrasada e deve se prolongar para além do dia 18 de julho. A relatoria da comissão, por exemplo, só foi definida nesta quarta-feira (14).

A Constituição prevê outra possibilidade: Câmara e Senado podem aprovar por maioria simples (metade mais um) um requerimento de convocação extraordinária apresentado pelo presidente da República, pelo presidente de uma das duas Casas ou pela maioria dos deputados e senadores.

Câmara trava pedidos de impeachment

Júnia Gama, Cristiane Jungblut, O Globo

-BRASÍLIA- Um mês após a apresentação de vários pedidos de impeachment contra o presidente Michel Temer a partir da divulgação da delação da JBS, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não se posicionou sobre nenhum deles. A oposição cobra uma resposta de Maia, que é o responsável por dar continuidade ou arquivar os pedidos, e já promete inclusive ir ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Dos 23 pedidos de impeachment já apresentados contra Temer desde o início de seu governo, apenas um foi arquivado. Dos outros, 19 são relacionados à delação da JBS e três haviam sido apresentados após a saída de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo, em novembro.

Segundo aliados, Maia vai aguardar a apreciação da Câmara sobre a denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar na próxima semana contra Temer para se pronunciar sobre os pedidos de impeachment. De acordo com um interlocutor, Maia espera que a denúncia seja recusada e quer ter esse argumento para poder negar a tramitação dos pedidos.

FH sugere que antecipação de eleições seria ‘gesto de grandeza’ de Temer

Ao GLOBO o ex-presidente diz que não é possível prever se a medida seria capaz de manter Temer no poder até a aprovação de uma PEC.

Silvia Amorim, O Globo

SÃO PAULO - Com o PSDB rachado e sob o risco de não ser uma alternativa eleitoral competitiva para 2018, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende agora que um gesto de grandeza do presidente Michel Temer seria pedir antecipação de eleições gerais. A posição de FH consta em uma nota encaminhada ao GLOBO na manhã desta quinta-feira.

No texto, que também foi enviado à agência Lupa, FH começa dizendo que sua percepção sobre a situação política do Brasil tem sofrido “abalos fortes”. Para ele, falta “legitimidade” a Temer para governar e o país vive um tipo de “anomia” (falta de regras, desorganização). Diante desse cenário, o ex-presidente diz ter mudado de opinião de que seria um golpe a convocação de eleições antes do término do mandato de Temer, em 2018.

“A ordem vigente é legal e constitucional (daí ter mencionado como ‘golpe’ uma antecipação eleitoral) mas não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto", escreveu o tucano na nota.

A tese de eleições antecipadas para interromper o governo Temer é bandeira dos partidos de esquerda, liderados pelo PT. Essa possibilidade não havia encontrado abrigo no PSDB até então, inclusive FH se manifestou anteriormente classificando-a como golpe.

Fundo para campanha pode chegar a R$ bi

Reforma política elevaria a R$ 3 bi verba de campanha

Ranier Bragon, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Tratada até há pouco como importante medida de superação de vícios da administração pública brasileira, a reforma política está escanteada no Congresso e pode se resumir, na essência, a um ponto: a criação de um fundo público de campanha de pelo menos R$ 3 bilhões.

A crise que se abateu sobre Michel Temer levou o governo a priorizar a tentativa de manter o presidente no cargo. O teste prático se dará na autorização ou não, pelo plenário da Câmara, para que o Judiciário dê sequência à provável denúncia criminal contra o peemedebista.

Em segundo plano estão as reformas da Previdência e trabalhista, também afetadas pelos desdobramentos da delação da JBS. Já a reforma política está estacionada e vê o seu conteúdo ser desidratado a cada dia.

'Cautela é conveniente, covardia, não', afirma FHC

Ex-presidente justifica ‘porta aberta’ para saída do governo em razão da sucessão de denúncias contra presidente Temer

ENTREVISTA: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-presidente da República

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

A decisão do TSE sobre a chapa Dilma-Temer foi correta?

Não. Se eu concordasse, deveria ter-me oposto à causa proposta pelo PSDB. Entendo os argumentos que basearam a negação de procedência da causa por temor de suas consequências – três votos do tribunal anulando uma decisão soberana do eleitorado. Mas neste caso seria melhor nem abrir a possibilidade de haver o recurso.

O que achou da decisão do PSDB de manter apoio ao governo, mas deixar uma porta aberta para a saída?

'Se fosse para pensar em 2018, solução seria sair', diz Alckmin

Governador paulista nega que continuidade do apoio do PSDB a Temer seja moeda de troca por aliança no próximo ano

ENTREVISTA: Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo

Adriana Ferraz, O Estado de S.Paulo

A decisão do PSDB de permanecer na base do presidente Michel Temer passa pela costura de uma aliança com o PMDB para 2018?

A decisão do partido de continuar até o final das reformas apoiando o governo e suas medidas, acompanhando a cada semana o desenrolar dos fatos, não tem nada a ver com 2018.

Uma aliança com o PMDB não seria bem-vinda ou não está sendo cogitada agora?

Não é que não seria bem-vinda, é que não é esse o foco. Não é pensando em 2018 que o PSDB tomou a posição de continuar. Fez isso porque entendeu que, neste momento, sair do governo prejudicaria ainda mais o Brasil, que está começando a se recuperar, com indicadores positivos do PIB e do emprego e com a reforma trabalhista aprovada pela Câmara dos Deputados. Então, neste momento seria muito prejudicial ao Brasil e nós temos de proteger o Brasil.

FHC defende antecipação de eleições

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende que o presidente Michel Temer deve pedir a antecipação de eleições gerais, num "gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder", se avaliar que perdeu condições de governar. Na opinião de FHC, o juiz desta decisão deve ser Temer. Neste caso, o presidente deveria então chamar os partidos para conversar sobre a mudança no calendário eleitoral. "A responsabilidade maior é a do Presidente que decidirá se ainda tem forças para resistir ", disse FHC em nota divulgada ontem.

A opinião de Fernando Henrique era conhecida internamente pela cúpula do PSDB, mas ele orientou os tucanos a votar contrariamente à ruptura com o Planalto, em reunião da Executiva Nacional do partido realizada na última segunda-feira, 12. Nem o ex-presidente nem o PSDB explicaram o motivo da mudança. O ex-governador de São Paulo e vice-presidente do PSDB Alberto Goldman disse que a posição de FHC reflete "como estamos todos nós com dificuldades para encontrar um caminho". De acordo com Goldman, o dilema do PSDB nada tem a ver com as eleições de 2018 ou com a situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ameaçado de prisão.

Dissidentes na Câmara devem ficar no partido

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - As divergências internas em relação à permanência do PSDB na base de apoio ao governo do presidente Michel Temer não deve acarretar uma debandada dos insatisfeitos com a decisão, que pode mudar a qualquer momento. O fato de a legenda ter deixado a "porta aberta" para um desembarque posterior, inclusive a curto prazo, teria tranquilizado os ânimos dos parlamentares.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), afirmou que, ainda que o partido tenha decidido permanecer na base, a legenda monitorará diuturnamente as ações do governo. Em sua avaliação, isso é determinante para que mesmo os deputados dissidentes continuem no PSDB.

"Não chegou aos meus ouvidos que houvesse algum deputado interessado em abandonar a sigla. Há divergências, mas nem por isso o partido está dividido. Se um fato novo chegar e criar instabilidade para o país, o PSDB vai reavaliar essa questão", disse Tripoli. Esta semana, personalidades como o ex-ministro da Justiça, Miguel Reale Junior, e o empresário Ricardo Semler deixaram a sigla, em protesto contra a decisão da Executiva, mas nenhum detentor de mandato eletivo se desfiliou.

Temer acelera emendas no Congresso após JBS

Verba já estava prevista, mas repasses foram feitos a partir de 17 de maio, quando veio à tona delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista; Planalto nega relação com turbulência

Isadora Peron, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Desde que a delação do Grupo J&F – controlador da JBS – veio à tona, em 17 de maio, o governo liberou quase R$ 1 bilhão em emendas parlamentares, a maior parte para a sua base aliada no Congresso. O repasse desse volume de recursos a deputados e senadores já estava previsto e a liberação coincidiu com o agravamento da crise política.

Para arregimentar apoio à reforma da Previdência – projeto considerado crucial pelo Planalto –, a Secretaria de Governo da Presidência, responsável pela articulação com o Congresso, já tinha pedido a antecipação do pagamento de R$ 1,8 bilhão em emendas parlamentares para conseguir reverter o placar desfavorável ao projeto na Câmara. A previsão era de desembolso de R$ 1 bilhão em abril e R$ 800 milhões em maio.

Governo reduz a meta de inflação após 14 anos

Por Claudia Safatle | Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo decidiu retomar o processo de desinflação e o Conselho Monetário Nacional vai, na reunião do dia 29, reduzir a meta de inflação de 2019 para 4,25%. Apesar da crise política e das incertezas que ela produz na economia, há bons argumentos para sustentar a decisão, que afetará o próximo governo. As expectativas do mercado, segundo a pesquisa Focus, já estão ancoradas em 4,25% para 2019, 2020 e 2021. Abaixo, portanto, da meta de 4,5% que vigora desde 2005. Outra razão, não menos importante, é que a decisão sobre a meta para daqui a dois anos decorre de uma visão estrutural e guarda pouca relação com as atuais turbulências.

De volta ao muro, PSDB faz aposta de risco | Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

É preciso olhar com cuidado e respeito a decisão tomada pelo PSDB de permanecer apoiando o governo Temer.

Tratou-se de uma decisão partidária, tomada em uma época de partidos políticos divididos, frágeis e autocentrados, obcecados com a questão da conquista do poder.

Partidos são estruturas associativas que se dedicam, em primeira instância, à conquista e ao manejo do poder político. Dedicam-se também a organizar e direcionar interesses sociais, sendo que as organizações mais coerentes fazem disso a sua razão de ser. O PSDB nasceu coerente, com um olhar concentrado no social, na intelectualidade, na tarefa de formular uma proposta para o país, mas progressivamente foi se convertendo em uma máquina voltada para o poder, o governo, a “conquista do Estado”. Dobrou-se ao pragmatismo e ao “realismo”, como de resto também fez seu irmão-inimigo, o PT.

O poder político, como se sabe, gera muitas taras e muitos problemas. Invariavelmente, atrai pelo que oferece: possibilidades de intervenção mediante políticas públicas, mecanismos de governo da sociedade, acesso aos instrumentos de uso legítimo da força. Mas o poder também seduz e cega, graças à exacerbação daquilo que lhe é inerente:
prestígio, benesses, favores, prebendas, convívio com VIPs e poderosos, luxos palacianos, mordomias, homenagens.

Partidos que se deixam contagiar pela “ética da responsabilidade” de que falava Max Weber não precisam ficar vazios de “ética da convicção”, nem precisam fazer com que toda a sua convicção se reduza ao amor pela responsabilidade. Uma boa dose de ardor cívico, paixão política, ideologia e identidade é indispensável, ajuda os partidos a não passarem com armas e bagagens para o lado escuro da força.

Mala preta aos três anos da Lava Jato | Fernando Gabeira

- O Estado de S. Paulo

Apertem os cintos: a isso o que chamam estabilidade nós chamamos turbulência

O Brasil não é para principiantes. Tantas vezes ouvimos essa frase que se tornou lugar-comum. A fase de combate à corrupção iniciada há três anos pela Lava Jato pode levar-nos a conclusões maniqueístas, do tipo bem contra o mal, republicanos contra patrimonialistas.

Olhando de perto, a frente que se coloca contra o trabalho da Lava Jato é muito mais ampla do que o grupo dos grandes partidos que articulam para destruí-la, no governo e no Congresso.

Líder entre os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que absolveram a chapa Dilma-Temer, apesar das provas, Gilmar Mendes fixou-se num argumento importante: o da estabilidade. Quem a rejeita, num país com 14 milhões de desempregados? O argumento de estabilidade deveria sempre estar sobre a mesa.

No entanto, conforme mostrou Bolívar Lamounier, em intervenção recente, um julgamento visto por todo o País no qual se enterram as provas é um fator de instabilidade. Cava um novo fosso entre a sociedade e as instituições, revelando uma Justiça Eleitoral, pouco conhecida até então, como um artefato de outra galáxia.

O Brasil na Rússia e na Noruega | * Michel Temer

- O Estado de S. Paulo

Nas duas capitais, falarei também a investidores sobre o momento de modernização econômica que vive o Brasil

Visitarei na próxima semana a Rússia e a Noruega. Meus compromissos incluirão reuniões com o presidente Vladimir Putin, em Moscou, e com o rei Harald V e a primeira-ministra Erna Solberg, em Oslo. Nas duas capitais, falarei também a investidores sobre o momento de modernização econômica que vive o Brasil – momento de responsabilidade fiscal, de maior racionalidade e de mais segurança jurídica. Apresentarei as oportunidades de negócios que daí decorrem, em especial no âmbito do programa Crescer. Uma vez mais, porei a diplomacia presidencial a serviço das prioridades dos brasileiros: o crescimento econômico e a geração de empregos.

Com o respaldo indispensável do Congresso Nacional, estamos levando adiante reformas que não se viam no Brasil há muitos anos. Os resultados já aparecem: pusemos a inflação novamente sob controle, criamos as condições para a queda consistente dos juros, deixamos para trás a recessão. Mas ainda há muito por fazer. E nessa empreitada a política externa desempenha papel de relevo. A reconstrução do Brasil passa, necessariamente, por uma maior e melhor integração ao mundo.

Decisão do TSE não é sinal de colapso da democracia | Marcus Melo

- Folha de S. Paulo

Ao tomar conhecimento do habeas corpus impetrado por Rui Barbosa em favor de parlamentares que haviam sido presos, o marechal Floriano Peixoto reagiu: "Essa notícia me contraria sobremodo. Não sei amanhã quem dará habeas corpus aos ministros do Supremo Tribunal!".

É quase um clichê afirmar que as nossa cortes superiores são a última linha de defesa da democracia. A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de absolver a chapa Dilma-Temer provocou assim uma profunda frustração. Mais que uma não linearidade, é uma anomalia no processo institucional recente. Mas não por razões alegadas frequentemente.

Tomar esta decisão como sinalizando o colapso das bases constitucionais da democracia brasileira vale como figura de retórica mas descabido num juízo mais técnico.

Política no escuro | Merval Pereira

- O Globo

A situação está de vaca não conhecer bezerro. Esta velha imagem nordestina, muito usada na política, é a que melhor define o quadro atual. Basta ver que os partidos políticos, que já perderam o rumo há muito tempo, agora começam a defender posições opostas às que sempre defenderam, mais perdidos do que cego em tiroteio, outra expressão popular muito conhecida.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de muitas idas e vindas que atribui às fortes tensões que afetam a política nacional, resolveu agora defender a antecipação das eleições diretas para a Presidência da República. E o PT está querendo ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) defender a tese de que não é preciso aval da Câmara para que um presidente da República seja processado, como prevê o artigo 86 da Constituição.

O mais grave contra Temer | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Assim como o sítio e o triplex complicam Lula, a casa da filha complica Temer

Como parecia claro desde o início, o que vai se configurando como mais grave e concreto contra o presidente Michel Temer é a relação dele com o coronel PM João Baptista Lima, o “coronel Lima” das delações da JBS. Por enquanto, e até surgirem fatos novos, bem mais grave e concreto do que a mala de R$ 500 mil do ex-assessor Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e a fita gravada clandestinamente por Joesley Batista.

Tudo parece indicar que foi a JBS quem pagou a reforma da casa de uma das filhas de Temer, em São Paulo. O dinheiro sairia da empresa sob pretexto de doação de campanha, iria parar na empresa do coronel Lima e dali sairia para o pagamento de arquitetos e fornecedores de material para a obra.

Janot, o tatuador da República | Reinaldo Azevedo

- Folha de S. Paulo

O garoto da testa tatuada é símbolo de um tempo em que primeiro se pune e depois se investiga

"Eu sou ladrão e vacilão".

O adolescente que teve a testa marcada por homens comuns, que se querem - e devem ser - honrados, traduz aquilo que, como sociedade, fizemos do que fizeram de nós.

Nem a vítima nem seus algozes sabiam que ali estava um emblema destes dias. Quando um historiador decidir esmiuçar o Zeitgeist, o espírito deste tempo, há de se debruçar sobre esse evento aparentemente irrelevante para concluir que ele revela uma mentalidade, plasmada, sim, pelas vicissitudes do cotidiano, pela vida e seu ofício, pelas dificuldades que todos experimentamos, afinal, na própria pele. Mas não só isso. Todos temos também um juízo de valor sobre o poder, seus agentes e o bem ou mal que nos fazem.

Labirinto tucano | César Felício

- Valor Econômico

Jogo do PSDB é pouco claro, mas não é favorável a Temer

Coube ao PSDB dar a melhor notícia para o governo ao longo da semana e também a pior. Entre a reunião da Executiva ampliada, quando o governador Geraldo Alckmin aparentemente fez valer seu ponto de vista de segurar a mão de Michel Temer, e a nota em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pede para que o partido atire o presidente no abismo passaram-se menos de 72 horas. Neste intervalo, em entrevistas publicadas ontem, o presidente interino da sigla, Tasso Jereissati (CE), se disse voto vencido na reunião da segunda.

É quase inevitável a conclusão de que o jogo eleitoral de 2018 amplificou a divisão do partido. Nas entrelinhas, tanto Fernando Henrique quanto Tasso criticaram Alckmin. Atribuem a ele, de forma subliminar, a movida do início da semana. Fernando Henrique advertiu que "ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido".

O que significa manter Temer | Fernando Abrucio

- Valor Econômico / Eu &Fim de Semana


A vitória de Temer no TSE me fez lembrar de trecho do filme "Estrelas Além do Tempo" ("Hidden Figures", no original). A história se passa nos EUA da década de 1960, ainda sob a vigência da segregação racial no Sul do país. Uma funcionária da Nasa tentava ser a primeira negra a fazer um curso de engenharia numa escola exclusiva dos brancos. Buscou no Judiciário seus direitos, mas o juiz lhe disse que não podia ir contra a legislação segregacionista. Diante disso, ela lembrou que o magistrado fora pioneiro em várias coisas em seu universo social, sendo o primeiro de sua família a entrar na universidade. Aí então ela faz a pergunta decisiva, mais ou menos nos seguintes termos: "De que lado você vai querer ser visto no futuro, como aquele que ficou com o seu tempo ou entre os que mudaram sua época?"

À espera de ‘fatos novos’ | Rogério Furquim Werneck

- O Globo

Permanência do PSDB no governo, contaminado como está, vem expondo o partido a desastroso desgaste

A economia continua ao sabor da colossal crise política deflagrada em meados de maio. Horrorizado com as delações dos irmãos Batista e com o desfecho do julgamento da chapa Dilma-Temer, o país começa a se dar conta de quão difícil promete ser a travessia até as eleições de 2018, conduzida por um presidente fragilizado, acossado pela Justiça e aterrorizado pela possibilidade de surgimento de “fatos novos” que, afinal, lhe sejam politicamente fatais.

No primeiro dia do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, o jornalista Raymundo Costa observou, com notável argúcia, que o TSE não tinha estatura nem para cassar nem para absolver a chapa Dilma-Temer (“Valor”, 6/6). E, de fato, a falta de estatura do tribunal ficou bem evidenciada pela forma canhestra com que, por quatro votos a três, a chapa foi absolvida, não obstante a contundência irrefutável das provas brandidas pelo ministro-relator.

MP&BC | Míriam Leitão

- O Globo

Há um conflito em andamento que pode ser resolvido no diálogo. O Banco Central atravessou o espaço e foi conversar com o Ministério Público, e o entendimento dos dois será para o bem geral. O BC tem que zelar pela estabilidade monetária e financeira, o MP tem feito o árduo trabalho de combater a corrupção no Brasil, e, com razão, teme conspiração contra os seus esforços.

Depois de tantas revelações de gravações em que os donos do poder no Brasil tramavam para “estancar a sangria”, é natural que o Ministério Público se preocupe com o objetivo oculto de cada iniciativa do governo. A Medida Provisória que dá poderes ao Banco Central para fechar acordo de leniência chega exatamente agora quando aumentam os rumores de delação dos suspeitos de saberem crimes dos bancos, os ex-ministros Guido e Palocci. Será a Medida Provisória uma forma de dar ao Banco Central poderes próprios dos procuradores? O BC diz que não, o MP suspeita que sim.

Prisões abusivas | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Qual a semelhança entre prisões cautelares e racismo? Ambos são mais fáceis de ver nas estatísticas do que nos casos concretos.

Quando um negro deixa de ser promovido ou é condenado por tráfico, sempre dá para se perguntar se não havia mesmo outro candidato mais qualificado ou se o sujeito não estava vendendo drogas. Mas, quando olhamos para os dados agregados, que mostram uma baixa concentração de negros em cargos de chefia e uma super-representação desse grupo nas cadeias, não há como não ficar com a pulga atrás da orelha.

A letra negra | José de Souza Martins

Valor Econômico / Eu &Fim de Semana

Ele tem apenas 17 anos de idade. É franzino: parece ter 13. Não chora, não grita, não implora compaixão. Está conformado. Adivinha o que querem seus algozes, um tatuador e um pedreiro, ambos com menos de 30 anos de idade. Seus olhos dizem-no desamparado. É evidente que está assustado. Sabe qual é a pena para quem atravessa o limite de uma sociedade de donos de gado e gente. Caiu no laço. Vai ser ferrado para que saiba e todos saibam que tem quem manda nele.

Antes, implorara que o marcassem no braço, não na testa. Mas o script da tortura era outro. Os torturadores queriam marcá-lo para o resto da vida. Não se tratava apenas de nele inscrever o nome do crime que teria cometido, a suposta tentativa de roubar a bicicleta de um aleijado, coisa que a polícia não confirmou.

A soberba de Lula – Editorial | O Estado de S. Paulo

O oportunismo que marcou a trajetória política do ex-presidente Lula da Silva, desde sua ascensão como líder sindical, foi tomado durante muito tempo como uma das virtudes capazes de levar um ex-metalúrgico a ocupar a Presidência da República. A realidade dos fatos, sobejamente documentada nos autos de um número constrangedor de processos judiciais a que responde, encarregou-se de demonstrar que o mito do herói serve melhor à literatura do que à política. Ao descortinar aos olhos dos cidadãos minimamente informados fatos graves que só a fé cega em um demiurgo é capaz de obliterar, as investigações sobre a conduta do ex-presidente revelaram que de virtuoso o oportunismo não tem nada.

Em evento de posse da nova direção do Partido dos Trabalhadores (PT) no sábado passado, na Assembleia Legislativa de São Paulo, Lula se apresentou como o único cidadão capaz de tirar o País da crise. Trata-se da imodéstia de quem se vê acima de qualquer responsabilidade que possa recair sobre seus atos, alguém ungido por um especial desígnio que justificaria qualquer desvario político. “Se o PT deixar, serei candidato para voltar a ver uma sociedade mais igual”, disse o ex-presidente. Poucas vezes uma afirmação de Lula soou tão embusteira. O PT é Lula, o rumo do partido é a expressão máxima de sua vontade. Portanto, o PT não tem qualquer ingerência sobre sua eventual candidatura à Presidência em 2018. Aliás, ainda que tivesse, esta prerrogativa, hoje, é exclusiva do Poder Judiciário, que pode torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

Durante o discurso, Lula mostrou que além de soberbo é incapaz de compreender a grandeza do cargo que ocupou e que sonha em voltar a ocupar. Afirmando que para voltar à Presidência “não precisa convencer os não convencíveis”, pois lhe bastariam “50% mais um” dos eleitores, Lula deixou clara a visão mesquinha que tem da Presidência da República, como se uma vez eleito estivesse comprometido apenas com o destino daqueles que o apoiam, e não com o de todos os brasileiros.

Ao arvorar-se em único capitão habilidoso o bastante para conduzir um navio à deriva, Lula esconde o papel determinante que teve na construção da pior crise política, econômica e moral da história recente, o mais eloquente atestado do desastre que o lulopetismo representou para o País. Em um misto de vaidade e desfaçatez, o ex-presidente afirmou em seu discurso na Assembleia Legislativa que “a melhor experiência de governança neste país foi do PT”. Para ele, a profunda recessão econômica e os 14 milhões de brasileiros desempregados são “fatos alternativos”.

Citado na delação superpremiada do empresário Joesley Batista como beneficiário de uma conta milionária abastecida com dinheiro de propina, Lula não se deu por constrangido e lançou mão de seu conhecido senso de humor rasteiro. “Estou quase fazendo delação para pegar os meus US$ 82 milhões”, ironizou. O problema seria encontrar um possível delatado, já que as investigações realizadas até agora colocam Lula no topo do esquema de corrupção engendrado para pilhar os recursos do Estado.

Retaliação evidente – Editorial | O Globo

É defensável o objetivo de proteger o cidadão, mas intenção real é constranger os agentes do Estado

O agravamento da crise política, a partir das delações da Odebrecht até chegar às elevadas temperaturas da acusação feita, com provas, ao presidente Michel Temer, pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, terminou por ofuscar desdobramentos deste arrastão histórico que organismos de Estado fazem contra um esquema de corrupção de chamar a atenção do mundo, o petrolão.

Entre os grupos empresariais de construção e engenharia que participaram do saque a estatais, por meio do superfaturamento de contratos, aliados ao PT, PMDB, PP, tendo entre beneficiários até o oposicionista PSDB, destacou-se a Odebrecht, cujas delações premiadas também são negociadas nos Estados Unidos e Suíça, com reflexos em alguns países latino-americanos, em que a empreiteira, com suporte nos governos Lula e Dilma tocou obras lubrificadas, da mesma forma, por milionárias propinas.

Além da corrupção – Editorial | Folha de S. Paulo

Fora do universo das discussões técnicas das contas públicas, não raro se culpa a corrupção pela situação orçamentária calamitosa de governos brasileiros. Na sentença em que condenou o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, o juiz Sergio Moro resvalou nessa tentação.

Em estimativas recentes, os investigadores da Lava Jato atribuem a Cabral e a seu grupo desvios na casa das centenas de milhões ao longo de dois mandatos.

O balanço parcial é, decerto, assombroso. Tal monta de recursos poderia mesmo atenuar parte do sofrimento dos habitantes do Rio, que assistem à ruína de serviços básicos e à falta de pagamento aos servidores estaduais.

Ainda assim, as ordens de grandeza da corrupção e do despautério administrativo são diferentes. Basta dizer que a receita do governo fluminense aproximou-se dos R$ 50 bilhões no ano passado.

Temer precisa evitar a falsa saída dos pacotes de "bondades" – Editorial | Valor Econômico

As tentativas do presidente Michel Temer de retomar a iniciativa, perdida após as delações de Joesley Batista, podem custar caro ao país. Pacotes de 'bondades' sempre foram o recurso mais fácil à mão de quem governa. Mas com um ainda enorme déficit fiscal, que se pretende restringir a R$ 139 bilhões, missão cujo sucesso não está garantido, o governo Temer não tem margem de manobra nenhuma. Improvisações com o dinheiro público, assim, tendem a piorar as condições fiscais, sem necessariamente melhorar as perspectivas econômicas.

A base política do governo, que vota pela austeridade, porém a despreza, tem sugerido medidas para dar alguma popularidade ao presidente e garantir a própria reeleição. As sugestões não são boas e vêm no rastro de uma série de pressões, algumas bem-sucedidas, que podem piorar o cenário da economia. O economista Marcos Lisboa detectou uma série de retrocessos, depois de um início promissor, nas ações do atual governo. Não é difícil apontá-las: refinanciamento de dívidas em condições muito favorecidas com a reabertura do Refis, convalidação dos incentivos fiscais sem que se conseguisse iniciar uma gradação para reduzi-los antes dos 15 anos aprovados etc.

Novo ataque ao Tesouro – Editorial | O Estado de S. Paulo

Um novo cerco ao Tesouro está sendo preparado, no Congresso Nacional, por parlamentares empenhados em lucrar o máximo com as dificuldades financeiras do governo. Com enormes problemas em suas contas, uma herança dos desmandos cometidos no período petista, o Executivo continua tentando arrecadar algum dinheiro extra por meio de um esquema de refinanciamento de dívidas tributárias.

A troca é simples e mutuamente benéfica. Os devedores podem regularizar sua situação, livrando-se de cobranças acompanhadas de punições. Mas devem liquidar de imediato uma parcela do tributo devido, proporcionando ao governo, a curto prazo, um reforço de caixa. A proposta, contida na Medida Provisória (MP) 783, atende ao interesse público e ao mesmo tempo confere um benefício a empresas em situação hoje irregular. Mas um grupo de parlamentares parece incapaz de entender a noção de interesse público. Esse grupo, tudo indica, mais uma vez se dispõe a deformar, em benefício exclusivo de grupos privados, um importante projeto formulado pela equipe econômica e enviado ao Legislativo pelo presidente da República.

Livro do desassossego | Fernando Pessoa

“Vou num carro elétrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes, letras. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho com que o fizeram — pois que o vejo vestido e não estofo — e o bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retrós de seda, com que se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro primário de economia política, desdobram-se diante de mim as fábricas e os trabalhos — a fábrica onde se fez o tecido; a fábrica onde se fez o retrós, de um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas retorcidas o seu lugar junto ao pescoço; e vejo as seções das fábricas, as máquinas, os operários, as costureiras, meus olhos virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os gerentes procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo; mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos que vivem a sua vida social nessas fábricas e nesses escritórios... Todo o mundo se me desenrola aos olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem não sei que cara, um orlar irregular regular verde escuro sobre um verde claro de vestido.

Toda a vida social jaz a meus olhos.

Para além disto pressinto os amores, as secrecias [sic], a alma, de todos quantos trabalharam para que esta mulher que está diante de mim no elétrico, use, em torno do seu pescoço mortal, a banalidade sinuosa de um retrós de seda verde escura fazenda verde menos escura.

Entonteço. Os bancos do elétrico, de um entre-tecido de palha forte e pequena, levam me a regiões, distantes, multiplicam- se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo. Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira.”