domingo, 18 de junho de 2017

Opinião do dia - Timothy Snyder

Trump só venceu porque chegamos ao ponto em que, na política, todos passaram a ser vistos como suspeitos. Os fatos não são mais importantes para a maioria da sociedade envolta na realidade do fantástico, no dia a dia do entretenimento. Em sociedades assim, quem tem o melhor controle do palco tende a alcançar o poder. Não percebemos o perigo. Um dos primeiros degraus na escada do totalitarismo é o descrédito dos fatos, o descompromisso com a verdade, a exclusão dos que pensam de modo diferente de quem está no governo.

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Timothy Snyder é historiador americano, autor do livro “Sobre a Tirania”, Companhia da Letras, em entrevista ao Valor Econômico, 16/6/2017.

“Vamos dar uma trégua ao Brasil”, diz FHC

Em entrevista à ISTOÉ, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que o apoio do PSDB ao presidente Temer não significa acordo com o PMDB para 2018. Para ele, a crise é do sistema político e o pior para o País seria o surgimento de um salvador da Pátria

Germano Oliveira, IstoÉ


Comemorando 86 anos neste domingo 18, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003), considerado o “príncipe” dos sociólogos, classifica a decisão do PSDB de continuar apoiando o governo de Michel Temer como acertada e diz que a medida foi tomada “no limite da responsabilidade”. Ou seja, sem os tucanos, o peemedebista poderia ter seu governo inviabilizado e as reformas ameaçadas. Em entrevista à ISTOÉ na tarde da última quinta-feira 15, em seu apartamento no sofisticado bairro de Higienópolis, FH, como gosta de ser chamado, afirma que se Temer for denunciado pelo procurador-geral da República e o Congresso aprovar a abertura da ação, o governo perde a legitimidade e, ai sim, o PSDB desembarca do governo. “Não só o PSDB, mas a sociedade vai exigir mudanças”. Para ele, se o governo perder a legitimidade, poderia até haver uma antecipação das eleições, mas ele acha melhor que Temer fique até o final. FH, no entanto, pede que haja uma “trégua” da classe política para que o País volte a ter estabilidade social.

O PSDB decidiu permanecer apoiando o governo Temer. O senhor acha que foi a medida mais acertada?

Foi no limite da responsabilidade. Eu vi várias interpretações sobre a decisão. E a verdade é a seguinte: dizem que o PSDB quer fazer um acordo com o PMDB, pensando nas eleições futuras. Isso tudo é fantasia. Porque daqui até as eleições vai passar muita coisa.

O senhor acha que a governabilidade falou mais alto?

Eu prefiro pensar que sim.

Sem o PSDB, o governo se inviabiliza? O PSDB passa a ser o fiel da balança?

Não sei se seria o fiel da balança. As dificuldades do governo são com a Nação, não são com o sistema partidário. O governo para se viabilizar precisa explicar ao País, primeiro, qual é o rumo. Segundo, as acusações que existem, que procedência têm? Precisa haver um ajuste de verdades. O povo está inconformado, irritado, achando que tudo é corrupção. Então, o governo precisa se explicar perante a Nação.

Brasil perdeu R$ 123 bilhões com esquemas de corrupção, diz PF

Organizações criminosas deixam rombo de R$ 123 bi

Desvios. Dados da PF revelam prejuízo causado em 4 anos por grupos investigados em 2.056 operações; quase metade do valor está ligado a fraudes nos fundos de pensão

Alexa Salomão, Daniel Bramatti e Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo

Em quatro anos, a Polícia Federal deflagrou 2.056 operações contra organizações criminosas que provocaram prejuízos estimados em R$ 123 bilhões ao País. Os números revelam que o maior rombo não é o apurado pela Lava Jato, mas o causado pelas fraudes nos fundos de pensão investigadas na Operação Greenfield, que alcançam R$ 53,8 bilhões ou quatro vezes o valor de R$ 13,8 bilhões desviados pelo esquema que agiu na Petrobrás.

Esse quadro é o resultado da conta feita pelos investigadores federais com base em valores de contratos fraudulentos, impostos sonegados, crimes financeiros e cibernéticos, verbas públicas desviadas e até mesmo danos ambientais causados por empresas, madeireiras e garimpos. Tudo misturado ao pagamento de propina a agentes públicos e políticos.

‘O PT institucionalizou a corrupção’

- O Estado de S.Paulo

Joesley Batista diz à ‘Época’ que ‘sistema’ começou há 10, 15 anos durante gestões petistas e que modelo foi reproduzido por outras siglas

O empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F – holding que inclui a JBS –, disse em entrevista à revista Época que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT “institucionalizaram a corrupção” no País, cujo modelo foi reproduzido por outros partidos. Segundo Joesley, há 10, 15 anos houve uma “proliferação de organizações criminosas” no Brasil. “Nós participamos e tivemos de financiar muitas delas”, afirmou o empresário, que indicou o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como o seu contato no PT.

“Foi no governo do PT para a frente. O Lula e o PT institucionalizaram a corrupção. Houve essa criação de núcleos, com divisão de tarefas entre os integrantes, em Estados, ministérios, fundos de pensão, bancos, BNDES. O resultado é que hoje o Estado brasileiro está dominado por organizações criminosas. O modelo do PT foi reproduzido por outros partidos”.

Metralhadora Joesley

‘Lula e o PT institucionalizaram a corrupção’

Silêncio de Cunha era ‘agenda de Temer’

Empresário, em entrevista à revista ‘Época’, detalha o pagamento de propina aos principais partidos do país ao longo dos últimos 15 anos e classifica o PMDB como ‘quadrilha mais perigosa do país’

Na contundente entrevista que deu à revista “Época”, o empresário Joesley Batista deu detalhes de como era feita a distribuição de propina a partidos como PT, PSDB e PMDB nos últimos 15 anos. Ele explicou um dos motivos de ter gravado o presidente Michel Temer: queria se certificar de que o pagamento de propina em troca do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha “ainda era parte da agenda de Temer”. Afirmou que, depois do encontro, ficou claro que sim. “Me arrepiei”, disse. Joesley chama o PMDB de “quadrilha mais perigosa do país”, chefiada, segundo ele, por Temer. E sustenta que o PT “institucionalizou a corrupção”, citando o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como principal intermediário do partido. Em nota igualmente dura, Temer disse que vai processar Joesley.

Propina para todo lado

Joesley afirma que PT ‘institucionalizou’ a corrupção e PMDB é a maior quadrilha do país

- O Globo

SÃO PAULO - Em entrevista na edição desta semana da revista “Época”, o empresário Joesley Batista, da JBS, voltou a disparar contra o presidente Michel Temer e revelou mais detalhes de como funcionava a distribuição de propina a quase todos os partidos políticos brasileiros ao longo dos últimos 15 anos. Joesley chamou Temer de “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil” e afirmou que o “ex-presidente Lula e o PT institucionalizaram a corrupção no país”. Segundo ele, Aécio Neves (PSDB) fazia parte do mesmo sistema corrupto. Joesley também garantiu na entrevista que a gravação da sua conversa com Temer no Palácio do Jaburu, em março, não foi editada e assegurou que o material pode passar por qualquer perícia. O dono da JBS falou com a revista na última quinta-feira, antes de prestar o depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), em que reafirmou as acusações de que Temer deu aval para que ele mantivesse os pagamentos para garantir o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Confira os principais trechos da entrevista do empresário:

Temer reage: ‘É o bandido de maior sucesso na história’

Presidente ataca Joesley e nega benefícios de seu governo à JBS

Eduardo Barretto e Eduardo Bresciani , O Globo

BRASÍLIA - Confrontado com a elevação de tom de Joesley Batista, dono da JBS, em entrevista à revista “Época”, o presidente Michel Temer chamou, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o empresário de “o bandido notório de maior sucesso na história brasileira”. O presidente tentou colar a ascensão do grupo empresarial aos governos petistas, dos quais seu partido, o PMDB, era aliado nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Segundo Temer, as relações de “submundo” da JBS eram com “governos do passado".

“Ele (Joesley) diz que o presidente sempre pede algo a ele nas conversas que tiveram. Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante”, diz um trecho.

Na nota, bem mais extensa do que os habituais comunicados do Palácio do Planalto em reação a denúncias, o presidente informa que vai processar Joesley Batista. O texto destaca que a JBS tinha “milhões de razões” para ter “ódio” de Michel Temer e de seu governo, dando a entender que o presidente teria barrado várias investidas da empresa, uma delas relacionada ao BNDES:

O jogo político de Janot

Débora Bergamasco, IstoÉ

As mais recentes ações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, muitas das quais controversas, revelaram que ele vinha trafegando numa linha tênue e perigosa que separava a boa e necessária liturgia jurídica de seus interesses pessoais e políticos. O que ISTOÉ traz agora em suas páginas indica que Janot pode ter ultrapassado e muito essa fronteira. Trata-se de duas ligações telefônicas, ainda sob sigilo judicial, interceptadas pela Polícia Federal, no âmbito da operação Lava Jato, obtidas com exclusividade pela reportagem de ISTOÉ.

Na gravação, com pouco mais de 13 minutos de duração, a procuradora da República Caroline Maciel, chefe da PGR no Rio Grande do Norte, mantém uma conversa estarrecedora com o colega Ângelo Goulart. No diálogo, Caroline o alerta sobre os perigos de um eventual apoio dele a Raquel Dodge, candidata à sucessão do procurador-geral da República e tida como “inimiga” de Janot. De acordo com Caroline, “a tática de Janot é apavorar quem está do lado de Raquel”. Sete dias depois da conversa, ocorrida em 11 de maio deste ano, Ângelo teve sua prisão decretada pelo próprio Rodrigo Janot. “A conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel. Estou te avisando porque parece que a guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu não sou desse tipo de coisa. Inclusive, pelo que eu senti, a tática de Janot é apavorar quem estiver do lado de Raquel”, afirmou.

Outro trecho é ainda mais revelador sobre um possível – e impróprio – modus operandi na PGR. Guarda relação com as investidas da procuradoria-geral da República contra parlamentares. Deixa claro que as ações envolvendo políticos nem sempre estão assentadas, como deveriam, no estrito exame da lei. Sugerem que investigações podem estar contaminadas por ambições tão individuais quanto inconfessáveis.

Em tom de desespero, devido ao clima beligerante instalado na procuradoria, Caroline afirma que, por ter franqueado apoio a Raquel Dodge, o presidente do DEM e senador José Agripino Maia (RN) entrou na alça de mira da Procuradoria-Geral da República. Segundo Caroline, outro procurador da Lava Jato compartilha da mesma apreensão. “É o seguinte. O Rodrigo (Rodrigo Telles de Souza, procurador da Lava Jato no STF) está muito preocupado porque ouviu (…) ele disse que se fala lá nessa história de (senador) José Agripino (DEM-RN) ter prometido apoio a Raquel. E querem de alguma forma agora lascar José Agripino. (…) Aí Rodrigo é um que está apavorado. ‘É, estou com medo de acontecer alguma coisa, agora Janot vai partir pra cima e não sei o quê…’ Eu disse: Meu Deus do céu, ele tá apavorado, senti que ele está apavorado. Porque Rodrigo (Teles), coitado, ele não é ligado a ninguém”.

Os estranhos movimentos da Justiça

A presidente do STF, Cármen Lúcia, trata com reações distintas denúncias contra os colegas Edson Fachin e Gilmar Mendes. E mesmo Dias Tófolli, com a acusação de reforma de apartamento, é ignorado. Juízes batem cabeça e tomam decisões de acordo com conveniências

Cilene Pereira, IstoÉ

Na semana passada, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), agiu mais uma vez de forma intrigante em um episódio envolvendo colegas de tribunal. Assim que surgiu a denúncia de que o ministro Edson Fachin, o relator da Lava Jato, havia sido investigado pela Abin – Agência Brasileira de Inteligência -, a magistrada reagiu de bate pronto em defesa do companheiro. Em nota, afirmou ser “inadmissível a prática de gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal”. Apressou-se em dizer isso mesmo diante de uma denúncia frágil, não comprovada por fatos, e que até hoje permanece meio obscura. O açodamento teve de ser reparado dois dias depois, quando Cármen Lúcia veio a público novamente, desta vez para colocar água na fervura. Após conversar com o presidente Michel Temer, que negou qualquer investigação sobre Fachin, a juíza disse que não tomaria qualquer providência.

Michel Temer decide processar Joesley Batista após acusação em entrevista

Marina Dias, Ranier Bragon, Rubens Valente, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer decidiu processar Joesley Batista, sócio do grupo J&F, após o empresário afirmar, em entrevista à revista "Época", que o peemedebista lidera a "maior organização criminosa do país".

Temer divulgou uma longa nota neste sábado (17) para dizer que entrará, na segunda-feira (19), com ações civil e penal contra o empresário, como antecipou a Folha, e que o governo "não será impedido de apurar" crimes praticados por Joesley.

"Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que praticou, antes e após a delação", diz o texto.

Segundo a Folha apurou, o presidente acredita que o Ministério Público Federal vai utilizar as novas declarações do empresário para "reconstruir" a base da denúncia que deve apresentar contra Temer na próxima semana.

Na nota, o presidente acusa Joesley de "desfiar mentiras em série", proteger "estrategicamente" o PT e critica a impunidade conferida ao empresário, em uma referência indireta à PGR (Procuradoria-Geral da República) e seu comandante, Rodrigo Janot.

Aliados planejam esvaziar sessão na Câmara para salvar Temer

Ranier Bragon, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dos planos traçados por aliados de Michel Temer para mantê-lo no cargo consiste no esvaziamento da sessão da Câmara dos Deputados que irá analisar a denúncia criminal contra o presidente.

A Procuradoria-Geral da República deve apresentar nos próximos dias a acusação formal contra o peemedebista em decorrência da delação dos executivos da JBS.

A Constituição estabelece que essa denúncia só pode ser transformada em processo no Supremo Tribunal Federal –com o consequente afastamento do presidente caso haja aprovação pelo plenário da Câmara, com o voto de pelo menos 342 de seus 513 integrantes.

Ou seja, Temer necessita ter ao menos 172 deputados ao seu lado, mas não necessariamente do voto desses parlamentares –a rigor, não precisa de nenhum.

É o lado contrário que tem a obrigação de reunir 342.

Alta do PIB não deve elevar arrecadação já

Com recessão, recuperação do caixa do governo será lenta

Flavia Lima, Folha de S. Paulo

Ainda que a atividade econômica cresça algo próximo de 0,5%, como esperado para este ano, é provável que o total de recursos arrecadados pelo governopara cumprir seus compromissos não acompanhe esse movimento.

O recolhimento de impostos costuma reagir com atraso ao aquecimento da atividade econômica. Além disso, os serviços têm peso maior na economia, e são menos tributados do que outros setores.

Economistas preveem que as empresas aproveitarão a retomada para compensar prejuízos acumulados durante os anos de recessão, o que também tende a diminuir a arrecadação de impostos.

Programas de refinanciamento das dívidas das empresas com o fisco, como o que está em discussão no Congresso, também têm contribuído para reduzir o recolhimento de tributos no longo prazo, dizem os economistas.

Muitas empresas simplesmente deixam de pagar e ficam à espera do próximo refinanciamento -nos últimos 16 anos, houve mais de 30.

BNDES pode cobrir rombo com pacote de bondades de Temer

Julio Wziack, Mariana Carneiro, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A equipe econômica pode pedir a devolução antecipada de R$ 30 bilhões dos recursos emprestados pelo Tesouro ao BNDES caso o presidente Michel Temer encampe um pacote de bondades defendido pelo núcleo político e que tende a afetar a arrecadação.

A medida também seria uma solução de emergência se a tendência de queda na receita não for revertida.

A frustração na arrecadação até maio é de R$ 8 bilhões, e a equipe econômica trabalha para conter essa queda e cumprir a meta de um deficit de R$ 139 bilhões neste ano.

Ao mesmo tempo, a área política de Temer tenta emplacar um conjunto de medidas que sirva de contrapartida para deputados e senadores que se desgastam na defesa das reformas do governo.

‘Nosso vício é a dependência do Estado’

Entrevista com André Lara Resende, economista

Alexa Salomão, O Estado de S.Paulo

Para economista, maior problema do País não é inflação, mas a incapacidade de equilibrar as contas públicas

No início do ano, o economista André Lara Resende levantou uma polêmica em torno da relação entre taxa de juros e inflação. A regra prega que juro alto é como a Novalgina: um remédio eficiente para baixar a inflação. Mas o artigo de Lara ia contra esse princípio: taxas de juro altas por muito tempo - como ocorre no Brasil - teriam o efeito inverso e sustentariam a inflação. E mais: a taxa de juros não cede porque o Estado gasta demais. Haveria aí um ciclo vicioso.

Nesse contexto, a reforma da Previdência é essencial. Agora, Lara lança o livro Juros, Moeda e Ortodoxia, em que aborda o tema de maneira mais extensa e mantém a posição: “Nosso vício não é a inflação, mas a dependência excessiva de um Estado patrimonialista e incompetente que é levado a se endividar em excesso”.

A seguir, trechos de sua entrevista.

Começar de novo | *Luiz Sérgio Henriques

- O Estado de S.Paulo

Refazer os cacos requer o emprego da arte da competição e da cooperação

Eis o ponto a que chegamos: todos constatamos, atônitos, as agonias que se acumulam, as hipóteses de saída que surgem e se desfazem como bolhas de sabão, os políticos que de uma hora para outra abandonam a ação parlamentar e passam a integrar tramas judiciárias cujo fim não parece próximo. No tumulto dos dias, a impressão que se firma é a de um enredo mambembe em que os personagens procuram, em vão, uma direção e um sentido para o que fazem. Ou, então, como na imagem conhecida, a sensação é de que os fatos caminham por si sós, assumindo aos trancos e barrancos um protagonismo além da capacidade dos atores, cujos movimentos se esgotam na busca da sobrevivência pura e simples.

No centro de tudo, um sistema partidário que já não se mantém em pé. Desequilibrado desde o início, esse sistema combinava partidos extremamente convencionais e um só com características semelhantes àqueles ditos “de massas”. Entre os primeiros, o partido da resistência democrática – o MDB e, a partir de 1979, o PMDB – aos poucos, e progressivamente, veio a perder a bandeira da “esperança e mudança” sob a qual se tornara uma escola de política, na qual, entre outros fatos admiráveis, uma parcela da esquerda teve contato com os valores do liberalismo, observando sua eficácia na luta contra o regime autoritário e sua relevância permanente em qualquer contexto futuro. A Constituição de 1988, que ainda nos traça o único roteiro possível, terá sido o legado essencial daquela antiga expressão do centro democrático, cujo esfacelamento está muito longe de ser o menor de nossos males.

Hora de desligar aparelhos | Fernando Gabeira*

- O Globo

No futuro, não há estabilidade, e sim turbulência. No terceiro ano da Lava-Jato, um assessor do presidente é filmado correndo com uma mala preta. No interior da mala, R$ 500 mil de uma pizzaria. Antigamente, tudo acabava em pizza. Aqui começou numa pizzaria chamada Camelo. Depois da delação da JBS, Temer entrou em guerra com a Lava-Jato. Os métodos são os mesmos, politizar a denúncia, investir contra juízes e investigadores. Os detalhes da denúncia da JBS são conhecidos, foram repetidos ad nauseum na televisão. A iniciativa de Temer ao partir para o confronto marca mais um capítulo de uma resistência histórica à Lava-Jato.

Nas gravações divulgadas, Lula foi o primeiro a articular uma reação, criticando os procuradores, confrontando Sérgio Moro, politizando ao máximo a luta ao que chama de República de Curitiba. Lula tentou articular uma reação. Ele percebeu que todo o sistema político partidário poderia ruir. Não conseguiu avançar. Havia a possibilidade do impeachment, e o tema da luta contra a Lava-Jato caiu para segundo plano.

Sobre golpes e Lava Jato | *Roberto Romano

- O Estado de S.Paulo

Você aceitaria a sua sentença, sem julgamento na devida forma?

No século 17 europeu o golpe de Estado implicava de imediato um conjunto de atos políticos que transgrediam a lei para salvar o poder. Nas frases de Gabriel Naudé, autor pouco lido entre nós, tratava-se de “ações ousadas e extraordinárias que os governantes” eram “obrigados a executar em assuntos difíceis ou desesperados, contra o direito comum, sem manter nenhuma ordem ou forma de justiça, pondo em risco o interesse dos particulares em prol do bem público” (Considerações Políticas sobre o Golpe de Estado, 1639). Após as banalizações sucessivas do conceito, a partir do século 18, é bem estranho unir bem público e golpe de Estado. Conforme favorece um ou outro setor e interesses em guerra, o golpe logo recebe outros nomes que o dissimulam: revolução, urgências administrativas e similares. Mas permanece a essência: todo golpe de Estado subverte o direito comum e arrisca anular o privado.

Um país perdido | Merval Pereira

- O Globo

Brasil, perdido, vê disputa pela maior quadrilha. Já não há mais possibilidade de um debate racional sobre a situação do país. Quando jornalistas são constrangidos dentro de aviões por militantes políticos que querem calá-los, como aconteceu com Míriam Leitão e Alexandre Garcia, um após o outro, para demolir as tentativas de desmentido orquestrado.

Quando procuram explicações conspiratórias para a denúncia jornalística de uma gravação do diálogo entre o presidente da República e um empresário, onde diversos crimes são descritos e abordados, é que a surdez deliberada de setores políticos e empresariais, por razões que vão da manutenção do poder ao interesse financeiro, domina o quadro político da mesma maneira que aconteceu quando o ex-presidente Lula ou a ex-presidente Dilma foram denunciados por crimes variados.

O problema das diretas, já ou depois | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Fala-se muito do risco de que em breve se eleja um salvador da pátria para presidir o que sobrou da República. No entanto, o problema não aparece nas ideias de quem propõe diretas, eleições gerais antecipadas ou pensa 2018 como mera questão de presidenciáveis.

Quem quer "diretas já" também parece imaginar o novo presidente como um santo desatador de nós, flor capaz de sobreviver no pântano, quiçá de mudar o ecossistema.

O lodaçal, claro, é o sistema político podre e alheado da sociedade, as dúzias de partidos negocistas e a lei eleitoral perversa, tudo condizente com a sobrevivência eleitoral do estamento podre e da bancada dos fugitivos da polícia.

O Partido da Boiada Feliz | Guilherme Fiuza

- Época

A semana começou tranquila no Brasil, com os irmãos Freeboys desejando a todos boas compras na 5ª Avenida e muita diversão na Broadway. Como se sabe, o Papai Noel antecipado do companheiro Janot deu aos fenomenais donos da JBS o presente de suas vidas (Nova York é linda na primavera) – e olhem que o bom velhinho de São Bernardo já tinha dado uma lembrancinha bilionária aos meninos. Eles ainda tiveram a sorte (que garotos venturosos!) de encontrar pelo caminho o companheiro Edson Fachin, um homem bom, que não economiza seus poderes para ajudar a quem precisa.

Agora segure a emoção para o final feliz: um grupo de artistas resolveu dar apoio político a essa conexão dourada de brasileiros que não desistem nunca (de ficar com o que é seu).

A estratégia é a seguinte: fazer campanha pública – aquelas com camisetinhas, videozinhos, caras e bocas bem ensaiadas – para inventar uma prorrogação do mandato de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República. Uma coisa natural, democrática, tipo o Sarney quando resolveu dar a si mesmo mais um ano na Presidência, ou seus antecessores de farda, que também resolveram dar uma prorrogada no governo deles, tipo assim, para sempre.

Mantega, o novo Dirceu | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Vale tudo para salvar Lula, inclusive jogar Temer e Mantega na fogueira

Corrupção sempre houve, mas a Lava Jato detalha minuciosamente para as vítimas – os cidadãos brasileiros –, como, a partir de 2003 e do mensalão, o então presidente Lula dividiu o governo e o País em duas grandes organizações criminosas, ou Orcrims, ou quadrilhas, uma do PT, outra do PMDB. E, já que elas foram um estrondoso sucesso, foram se multiplicando em Brasília, nos Estados e municípios. Os demais partidos, principalmente o PSDB, nunca puderam atirar a primeira pedra.

Pelas delações e provas, Lula instalou e comandou a quadrilha do PT nos bancos públicos, estatais, fundos de pensão e ministérios. E Joesley Batista declara a Diego Escosteguy, da revista Época, que o então vice Michel Temer tinha uma quadrilha para chamar de sua. “Era a maior e mais perigosa organização criminosa desse País, liderada pelo (atual) presidente”, acusou, citando Temer, Eduardo Cunha, Geddel, Henrique Alves, Padilha e Moreira Franco. “Quem não está preso está no Planalto.”

O homem que virou suco | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O drama da resistência de um poeta popular diante de uma sociedade opressora, que o obriga a eliminar suas raízes, é simultaneamente uma alegoria do desenraizamento, da clandestinidade e do exílio, aos quais muitos dos opositores do antigo regime militar foram submetidos. Esse é o enredo do filme O homem que virou suco, do diretor João Batista de Andrade, lançado num momento decisivo da história política do país, após a anistia e o fim do bipartidarismo. Em 1981, a oposição ao regime militar já havia ganho as ruas, mas enfrentava a resistência terrorista dos porões da ditadura, cujo momento mais dramático foi o frustrado atendado à bomba do Rio Centro, em 30 de abril daquele ano.

Deraldo é um nordestino esclarecido que busca sobreviver em São Paulo apenas de suas poesias e folhetos, o que ainda hoje é comum na capital paulista. De camiseta, calção e chinelos, Plínio Marcos, o consagrado dramaturgo de Dois perdidos numa noite suja e Navalha na carne, por exemplo, era visto com frequência vendendo seus livros nos eixos São João-Ipiranga, São Luiz -Augusta, Angélica-Consolação. Tudo vai muito bem com o herói do filme, até ele ser confundido com um funcionário de multinacional que matou o patrão na festa em que recebeu o título de operário padrão.

A democracia | Míriam Leitão

- O Globo

País perde o melhor da democracia. O país está perdendo o melhor da democracia: a polifonia, os vários sons, várias vozes, a convivência entre opiniões contrárias, o debate que instiga e desafia a pensar sobre um determinado ponto, o esforço para ver a realidade pelo ângulo do outro, o diálogo. Entrincheirados, alimentando o ódio, como chegaremos ao ponto de encontrar saídas para as várias complexidades que nos cercam?

Não consola, mas não somos o único país do mundo em que a polarização radicalizada está eliminando o espaço do diálogo. O jornalista americano Fareed Zakaria escreveu no “Washington Post” sobre esse fenômeno de país tão partido, que acaba tendo uma atitude doente diante da diferença de opinião. Ele diz que tudo se passa como se: “Pessoas do outro lado da divisão não estão apenas erradas. Elas são imorais e devem ser punidas.”

A virada de Janot | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Poucos personagens da Lava Jato mudaram tanto ao longo da trama quanto Janot

Se a Lava Jato fosse uma série, poucos personagens teriam experimentado um “character development” tão evidente quanto Rodrigo Janot.

Resumindo, grosso modo, o “arco do personagem”, como dizem os roteiristas, Janot começou a saga como aquele personagem bonachão, pouco carismático, pouco proativo, que se viu diante de um escândalo de proporções avassaladoras e demorou para pegar no tranco.

Antes de soltar a primeira “lista do Janot”, era comum se encontrar com o então ministro da Justiça José Eduardo Cardoso em reuniões fora da agenda, o que sempre suscitou uma dúvida sobre seu suposto alinhamento ao PT. Renan Calheiros, outro personagem central da trama, era, então, um suporte importante para Dilma Rousseff, e nos bastidores se dizia que contava com a benevolência de Janot para escapar de denúncias – e realmente elas demoraram a vir, no seu caso.

Ativismo | *Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Não há no Brasil expansão fiscal autofinanciável

Por muito tempo acreditei que a política contracíclica fiscal e parafiscal praticada entre 2009 e 2010 no Brasil tinha sido bem-sucedida. Houve excessos, mas o resultado em geral teria sido positivo.

Hoje penso diferente. Acho que, se não tivéssemos feito nenhuma política contracíclica fiscal e parafiscal, teria sido melhor.

E o motivo é que a ausência desse tipo de política contracíclica teria produzido forte queda da inflação, o que permitiria um ciclo sustentável de queda da taxa de juros -forma mais eficiente de política contracíclica em economias com juros reais e inflação elevados.

Uma forma de avaliar a política contracíclica realizada no biênio 2009-2010 é comparar o desempenho econômico do Brasil com nossos pares, os países da América Latina excluindo o Brasil, grupo que chamarei de AL-ex.

Atacada pela broca | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Já no leito de morte, conta o escritor grego Plutarco, o rei Esciluro da Cítia (século 2 antes de Cristo) reuniu seus filhos e pediu a cada um deles que partissem um feixe de dez varetas. Nenhum deles conseguiu. Então, o rei desmanchou o feixe, tomou as varetas uma a uma e partiu-as todas. Em seguida, passou-lhes o aviso testamento: “Se permanecerdes unidos, ninguém vos quebrará. Se vos desunirdes, qualquer um partirá ao meio cada um de vós”.

O Reino Unido escolheu a separação. E vai mostrando fragilidades não somente perante os demais membros da União Europeia, mas também perante a si mesmo.

Nesta segunda-feira começam as complicadas negociações, previstas para perdurar pelo menos dois anos, que definirão os termos do divórcio, o Brexit. Os resultados da última eleição, convocada para dar mais força ao governo conduzido pela premiê Theresa May, do Partido Conservador, produziram o contrário. E o outro lado da mesa não tem motivos para complacência com um interlocutor que escolheu fugir de suas responsabilidades.

A sabotagem da oposição – Editorial | IstoÉ

O Brasil vive tempos estranhos. A ideia do “quanto pior, melhor” é uma bandeira que caiu nas graças dos partidos de oposição, solapou a vontade popular para colocar em primeiro lugar os interesses de cada legenda e deixou em balbúrdia o Congresso, que praticamente paralisou a pauta de votações para viver em torno de discussões da crise. Temas de interesse nacional ficaram em segundo plano diante dos embates políticos. Pior que isso: esses assuntos estão sendo sabotados por aqueles agitadores de plantão que tentam, a todo custo, manter o País em permanente estado de instabilidade. Eles estão devorando os pilares fundamentais das reformas, impactando medidas de retomada da economia e inviabilizando qualquer ajuste por melhor que seja. Não há razoabilidade nos movimentos dessa turma.

Que ninguém se engane, a estratégia em curso visa diretamente às eleições de 2018. Parlamentares, especialmente enfileirados nas trincheiras petistas, trabalham pela criação de um cenário de terra arrasada no qual emergiria mais adiante a figura do salvador da pátria. Adivinhe quem? Naturalmente não seria outro que não o seu tutor e líder encalacrado com a Justiça, Lula milongueiro, o réu de cinco processos que se arvora a condição de especialista no combate à corrupção. Sim, ele disse isso: o PT, no seu entender, é quem saberia exterminar essa praga inefável que consome as entranhas do Estado.

Julgamento no TSE serve de reforço à reforma política – Editorial | O Globo

Criar legendas virou rentável negócio, pelo acesso ao Fundo Partidário e pela entrada em esquemas como o mensalão e o petrolão

Não faltam argumentos em favor da reforma política já aprovada no Senado e remetida para a Câmara. Os efeitos colaterais maléficos do excesso de partidos — 28 com representação no Congresso, dos 35 existentes, número que não para de crescer — são motivo suficiente para se defender a proposta. Segundo o projeto, de autoria dos senadores tucanos Ricardo Ferraço (ES) e Aécio Neves (MG), passará a vigorar a partir das eleições do ano que vem — caso seja aprovada até outubro — uma “cláusula de desempenho”. Por ela, o partido para ter bancada no Legislativo, com as prerrogativas de acesso ao Fundo Partidário e ao chamado programa eleitoral gratuito, precisará ter no mínimo 2% dos votos válidos concedidos aos candidatos a deputado federal, em pelo menos 14 estados. Em 2022, a cláusula subirá para 3%.

Respeito com a política – Editorial | O Estado de S. Paulo

É cada vez mais comum ouvir sobre o esgotamento do sistema político brasileiro. Às vezes, parece até que essa afirmação se tornou um consenso nacional, não requerendo maiores provas ou argumentos. As causas do suposto esgotamento estariam mais que evidentes aos olhos de todos, a começar pela falta de representatividade dos políticos atuais e, principalmente, pela generalizada corrupção instalada nos usos e costumes políticos. A realidade, no entanto, é mais complexa do que essa afirmação ou, melhor dizendo, generalização. Há muita coisa errada no sistema político, mas nem tudo é inservível – e fazer essa distinção entre o joio e o trigo é essencial para levar o País a algo mais que a um estado de indignação ou de letargia.

É certo que os escândalos de corrupção causam um profundo mal-estar na população e põem à prova a confiança nas instituições. O descompasso entre as cifras da corrupção e as graves carências que uma parcela significativa dos brasileiros ainda padece não pode ser ignorado. Os serviços públicos, especialmente saúde e educação, não aguentam tamanho desaforo imposto pelos corruptos, sejam eles funcionários públicos, políticos ou empresários. A revelação de tantos casos de roubalheira induz ao sentimento de revolta contra tudo o que está aí. Mas esse sentimento não é construtivo e o que o País mais precisa, neste momento, é de ideias novas e firme disposição para o trabalho de reconstrução.

Um erro por outro – Editorial | Folha de S. Paulo

A política brasileira vive, nestes dias, um paradoxo de difícil solução. Ao mesmo tempo em que se torna consensual a percepção quanto aos vícios do sistema, as tentativas de reformá-lo se veem paralisadas, pela força mesma da crise que o acomete.

Com a Câmara dos Deputados prestes a examinar um pedido de investigação criminal sobre o presidente da República, já se compromete a agenda legislativa de Michel Temer (PMDB).

Se as iniciativas no campo econômico, apesar de suscitarem controvérsia, garantiam ao Planalto o respaldo de setores do empresariado e da academia, parece já ter nascido órfã –embora corresponda a uma expectativa difusa da sociedade– a reforma política.

Espinhosa e complexa, a discussão tende a perder a pouca prioridade que tinha no Legislativo.

Algumas morenadas | Cacá Diegues

- O Globo

Moreno era mais do que um jornalista político acostumado a furos que só ele sabia obter. Era um formulador de ideias para o Brasil que tirava, com humor, do que via e lia

Conheci Jorge Bastos Moreno há relativamente pouco tempo. Acompanhava seu trabalho de jornalista, muito antes disso, mas não deve fazer mais do que uns sete anos que Rodolfo Fernandes nos aproximou, e Moreno me introduziu a seu mundo festivo. Festivo de festas claras e raras, em que o saber e o riso, em iguais proporções, nos ajudava a entender o estado do mundo. Nas noites de longas conversas em sua laje alegre, alimentado pela sublime Carlúcia, eu costumava dizer-lhe que, não tê-lo conhecido antes, tinha sido uma perda de tempo.

Moreno era mais do que um jornalista político acostumado a furos que só ele sabia obter. Ele era um formulador de ideias para o Brasil que tirava, com humor, do que via e lia, mais do que havia estudado na escola em que fora sempre bom aluno.

E então, que quereis? | Maiakóvski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.