segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Angela Bittencourt: Previdência chega à agenda parlamentar

Valor Econômico

Governos estaduais sacodem B3 com saída para finanças

A economia brasileira apresenta resultados gradativamente melhores há alguns meses. É fato que os indicadores de confiança mostram resultados também positivos mês a mês. Contudo, a atividade apanhou tanto que a maioria desses índices ainda diminui o pessimismo para, numa segunda etapa, aumentar o otimismo. O Brasil parece estar em território negativo, mas é impressão.

Na semana passada, a carga de questões não resolvidas que o país arrasta teve um alívio com a conclusão do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). A defesa de Lula recorre da sentença, ampliada para 12 anos e um mês de prisão em regime fechado, mas o julgamento de fato foi encerrado.

O ano de 2018 começou com dois eventos na prateleira para dar baixa - julgamento de Lula e reforma da Previdência. Um deles já foi. A reforma da Previdência já será motivo de debate amanhã, terça, entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, e deputados na residência da presidência da Câmara. A ideia de Maia é colocar o tema em discussão na retomada dos trabalhos e, em votação, dia 19 ou 20 de fevereiro.

Embora 2018 seja um ano de eleições, vai amargar um bom prejuízo quem não souber capitalizar os bons resultados da área econômica. Ainda que as vendas no varejo tenham melhorado, e os indicadores de confiança e de intenção de consumo tenham avançado, a economia não está obtendo a atenção que historicamente recebe da população.

A agência.Map, a partir da análise semanal de 1,2 milhão de posts e 280 artigos de opinião, identificou debate nas redes sociais focado principalmente em segurança pública. E mostra que, em janeiro, até o dia 24, na classificação feita por Índice de Positividade (IP) que considera três áreas - política, economia e bem-estar - economia saltou 16 pontos, de 13% para 37%, o avanço mais expressivo entre eles. Contudo, a melhora foi percebida e valorizada entre formadores de opinião. O apelo da economia foi menor entre a opinião pública. Nesse segmento destacaram-se o bem-estar e a política.

O IP Brasil Opinião está em nível de crise, 33%. Apenas discreta variação sobre os 30% registrados em dezembro. O IP, Índice de Positividade, varia de zero a 100%. Quanto mais próximo de 100%, mais positivo. Abaixo de 35%, o nível é de crise.

"O julgamento do ex-presidente Lula é o protagonista da cobertura política no mês. Registrou participação significativa. A sociedade espera por uma solução definitiva e a possibilidade de que a indefinição se arraste, por força de recursos, é vista como desfavorável. Há uma urgência na agenda social, que passa, inclusive, pela segurança pública", comenta Marilia Stabile, diretora-geral da .Map.

O debate social em torno de demandas na área de segurança e saúde, a excessiva polarização sobre eleições e a baixa percepção em relação à melhora econômica pesam sobre a positividade. A positividade do tema bem-estar no seu conjunto saltou de 29% em dezembro para 36%. Sustentam a melhora o debate sobre assédio sexual, contra a apologia ao estupro em música, a crítica à segurança e saúde pública, com febre amarela em primeiro plano.

Apesar de um distanciado debate dos frequentadores das redes sociais sobre as questões econômicas, o vice-presidente de um banco estrangeiro baseado no Brasil e o economista-chefe de uma instituição nacional, que preferem não se identificar, estão convencidos de que o consumo será a base da recuperação doméstica. Ambos avaliam que a inflação permanecerá baixa até o fim do ano. E se não se fez sentir por ora, em breve se fará sentir como uma folga no orçamento familiar. Nesse sentido, o fato de a Aneel ter confirmado a bandeira verde para o reajuste das contas de luz em fevereiro - portanto sem cobrança adicional - é ótima notícia.

Para o executivo do banco estrangeiro, a reforma da Previdência não será o "calcanhar de aquiles" do atual governo caso não seja aprovada este ano. "Seja quem for o próximo presidente, a Previdência é tema a ser tratado logo no início do mandato. Caso contrário, a deterioração da dinâmica fiscal se tornará um foco real de preocupação. Hoje ela já é, mas com a economia em expansão na ordem de 3% em 2018, a arrecadação aumentará. O BNDES devolverá os recursos que deve ao Tesouro Nacional. Haverá concessões, privatizações. Portanto, o quadro fiscal estará organizado no curto prazo."

O interlocutor da coluna faz, contudo, um alerta para 2019. O Brasil terá problemas se não aprovar a reforma das aposentadorias no ano que vem, sem mais cobrança de impostos, com limite de despesas e regras de ouro entre 2020 e 2021. "Teremos um grande problema para lidar com contas fiscais, com relação dívida/PIB em movimento muito mais alto, aproximando-se de 90%, o que poderia justificar grande venda de ativos brasileiros mais adiante", diz.

Uma visão que ainda não é para todos, mas possivelmente será, e quando isso acontecer tornará o Brasil mais moderno e provedor de financiamentos mais baratos para as empresas, é o rali de alta da bolsa de valores e o rali de queda do juro. Na sexta, em novo recorde, o Ibovespa fechou acima de 85 mil pontos. Os juros voltaram a cair e deram mais motivo para que o Banco Central (BC) confirme a expectativa do mercado e corte outra vez a Selic, desta vez em 0,25 ponto, para 6,75% ao ano, na primeira semana de fevereiro.

Iniciativa que entusiasmou profissionais do "grito" e de "gabinetes" foi a decisão do governo de Minas Gerais de fazer uma emissão primária de ações (IPO) da Codemig, companhia estadual de desenvolvimento econômico, dona da maior reserva de nióbio do mundo. A operação, calculada em R$ 3 bilhões, conforme apuraram Juliana Schincariol e Talita Moreira, ajudará a sanear as finanças do Estado. Em meio à animação ao que se supõe ser uma onda privatista muito bem-vinda, por ser o Brasil dono de ativos raros que poderiam atender à demanda de endinheirados investidores, a Cesp foi uma das estrelas da B3 no pregão da sexta-feira, em função do decreto que permite a privatização da companhia.

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