domingo, 14 de janeiro de 2018

Celso Ming: Nem tudo é calamidade

- O Estado de S.Paulo

O mercado financeiro pouco se importou com a decisão tomada pela agência Standard & Poor’s (S&P) de rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil.

Em vez de disparar, a cotação do dólar em reais caiu sexta-feira mais 0,31%; a Bolsa ficou no zero a zero, recuou 0,2%; e, depois de certa vacilação, o rendimento (yield) dos títulos do Tesouro do Brasil traduzido nos juros futuros pouco oscilou, ficou nos 9,63% para o vencimento de 2023. O índice de risco Brasil apontado pelo Credit Default Swap (CDS) dos títulos de 5 anos pouco oscilou, como se os papéis do País ainda ostentassem grau de investimento.

A explicação apressada para esse baixo impacto foi a de que a expectativa de rebaixamento “já estava nos preços” dos ativos financeiros e que, por isso, não tinham mesmo de dar seus pinotes. Há duas outras explicações mais consistentes para a baixa reação.

A primeira é a de que continua existindo impressionante abundância de recursos nos mercados, que não dispõem de opções atraentes de aplicação. Assim, para afastar os investidores não bastou o rebaixamento em mais um nó na tabela de classificação da S&P, que já era antes de grau especulativo.

A outra explicação é a de que a economia do Brasil passa por impressionante reação de melhora – com a exceção da situação calamitosa das contas públicas.

Foi dureza para todos os brasileiros tanto a recessão como a inflação de há alguns anos. Em proporção tal que a população tem dificuldades para perceber a virada do jogo. Mas ela é inegável. Aqui vai a relação de alguns avanços.

A inflação em 12 meses, de 2,95%, é a mais baixa desde 1998. É verdade que falta conferir até que ponto o recuo é sustentável, mas o retrato do momento é esse.

Os juros básicos (Selic) despencaram dos 14,25% ao ano aos atuais 7% ao ano. Assim, concorrem para reduzir o custo da dívida pública e estimular o crédito.

Acabou a recessão. O PIB de 2017 deve ter avançado ao menos 1,0% e deve alcançar os 2,7% em 2018. O desemprego, que chegou aos 13,70% da força de trabalho, recuou para 12,0% e tende a recuar mais. As safras de grãos em 2017 foram recorde histórico; atingiram os 240,6 milhões de toneladas, 30% a mais do que as do ano anterior. E 2018 desponta para a segunda maior safra da história. As máquinas da indústria, antes semiparalisadas, voltaram a girar. As projeções para 2018 são de crescimento da produção acima dos 3%.

O superávit comercial de 2017 foi recorde: US$ 67 bi. Os Investimentos (Estrangeiros) Diretos no País devem ter fechado o ano nos US$ 75 bi e, como projeta o Banco Central, podem chegar aos US$ 80 bi em 2018. O Brasil continua a contar com o respeitável colchão de reservas externas de US$ 380 bi, equivalentes a 30 meses de importações.

Por fim, a Bolsa, que quase sempre se antecipa aos fatos, apontou valorização de 26,86% em 2017 e, só nos oito dias úteis de 2018, avançou mais 3,72%.

A política continua reunindo mediocridades e alguns desastres. Em vez de trabalhar mais pelo saneamento das contas públicas (nisso poderia divulgar, com competência, os resultados da economia), o presidente Temer prefere bancar para o Ministério do Trabalho a condenada pela Justiça do Trabalho Cristiane Brasil. Mas o Brasil continua maior que o buraco.

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