quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Mercados iniciam o ano sob o signo de expansão global: Editorial/Valor Econômico

Os mercados financeiros começaram 2018 ratificando as previsões de que este será o melhor ano para a economia global desde 2009. Como ocorreu com o Ibovespa ontem, as principais bolsas americanas bateram recordes e o MSCI, um índice que computa o comportamento das ações em 47 países, mostrava ontem novas altas, depois de encerrar 2017 com seu melhor comportamento em nove anos. Os indicadores de dezembro divulgados reforçaram o sincronismo e força do crescimento nas economias avançadas e emergentes. A corrente de otimismo dos mercados pode se quebrar em algum momento se dois dos riscos conhecidos ocorrerem, isolados ou em conjunto - um aperto de juros em intensidade e rapidez maior do que a prevista ou conflitos geopolíticos - a Coreia do Norte é o estopim mais visível, mas longe de ser o único.

Os atos e as palavras do presidente Donald Trump conjugam os dois riscos. Há mudanças em curso no Fed, que passará por uma renovação sem precedentes em seus quadros decisórios, já iniciada pela nomeação de Jerome Powell para presidente. A afinação conhecida sobre os rumos a seguir dos economistas sob comando de Ben Bernanke e, depois, de Janet Yellen, pode não persistir e a atuação dos novos membros pode trazer surpresas e instabilidade.

O pacote de redução de impostos de Trump, aprovado pelo Congresso no fim de 2017, pode provocar uma mudança no ritmo de ajuste de juros nos EUA, mas isso é incerto. Na ata da última reunião do Fed dirigida por Yellen, antes da aprovação das medidas pelo Congresso, não há sinais fortes de que as consequências da reforma serão grandes o suficiente para mudar a rota da política monetária. Entre elas, foram citadas algum aumento no consumo e no investimento. Esses dois possíveis efeitos aumentaram os riscos de alta da inflação, mas sua magnitude estimada não é suficiente para demover o banco de sua rota gradualista.

Há quem já aponte efeitos do pacote fiscal na sequência mais recente de recordes das bolsas americanas. Ao criar uma alíquota baixa de imposto para as multinacionais americanas que repatriarem lucros, parte dos recursos internalizados se destinarão à recompra de ações. A Bloomberg Intelligence calcula que as recompras crescerão 70% para algo como US$ 875 bilhões, com base nas janelas tributárias abertas no passado (2004-2005). Se isso se materializar, terá razão quem prevê que os efeitos das regalias fiscais de Trump terão efeitos bastante suaves sobre a produção, o investimento e, por conseguinte, sobre o nível dos preços.

De qualquer forma, a economia global em expansão conviverá agora com um ambiente de juros em alta, que não existiu nos últimos dez anos. Quando o Fed anunciou que iria normalizar sua política, em março de 2013, e depois tomou medidas para isso, a zona do euro apenas iniciava seu afrouxamento quantitativo e o Japão acelerava programa semelhante e mais radical.

Agora, a perspectiva do Banco Central Europeu é encerrar as compras de títulos e reduzir estímulos, já que a economia do bloco monetário tem surpreendido pelo crescimento, previsto em 2,4% no fim de 2017 e em apenas 1,7% no início dele. Com isso, os balanços dos principais bancos centrais dos países desenvolvidos, de US$ 15 trilhões, deverá encolher razoavelmente - e, espera-se, de forma bastante gradual.

Quanto ao risco geopolítico, Trump começou o ano em grande (e baixo) estilo, provocando com seus tuítes, em apenas um par de dias, a Coreia do Norte, os palestinos, o Paquistão e principalmente o Irã, às voltas com surpreendentes revoltas, severamente reprimidas. A mudança de poder na Arábia Saudita, o mais poderoso bastião antixiita no Oriente Médio, permite prever que o potencial de conflito, sempre alto na região, cresceu, como apontam as cotações do petróleo. Trump pode ainda fazer de 2018 o ano em que começou sua guerra comercial com a China. Seu ativismo externo é a contrapartida a suas agruras domésticas - as investigações sobre o apoio russo a sua eleição prometem fazer grandes estragos a seu redor e até mesmo ejetá-lo do poder.

Há espaço para o desconhecido. Dirigentes de bancos alertam que tanta exuberância nos mercados e tanta liquidez por tanto tempo na praça global é uma história que não acabará bem. Será um alívio se estiverem errados.

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